4º domingo da Páscoa - Ano A - Subsídio exegético

28 Abril 2023

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.
Leituras do dia

Primeira Leitura: At 2,1. 4a. 36-41
Segunda Leitura: 1Pd 2, 20b-25
Salmo: Sl 22,1-6
Evangelho: Jo 10,1-10

Evangelho

O texto deste domingo é um dos discursos que estruturam todo o Quarto Evangelho: os discursos do “Eu Sou” (4,26; 6.35,41,48; 19,9;10,1,4,14; 14,6;15,1; 18,6). Enquanto os sinais – que ocupam a primeira parte do Evangelho desde 1,19 até o final do capítulo 12 – revelam Jesus através de sua prática libertadora e inclusiva, os discursos do “Eu Sou” aprofundam seu caráter humano-divino. Lembremos que “Eu Sou” é a forma como Javé se apresenta a Moisés revelando sua missão libertadora do povo escravizado e a caminhada a nova terra da vida, da justiça e da paz. Quando Jesus diz ego eimi (eu sou) está, simultaneamente, apontando para a presença divina e humana do seu ser. Assim podemos dizer que este Evangelho que nos revelar o “ser” de Cristo, e nos ajudar a participar de ser onde encontramos a perfeita unidade e comunhão entre a humanidade e a divindade.

Jesus é a Porta: um novo paradigma de pastorado

Este discurso aponta para uma diferença essencial entre as relações promovidas por Jesus e outro tipo de relação promovida por pessoas que são qualificadas como “ladrões” (kléptes – termo que só aparece mais uma vez no Evangelho para se referir a Judas que ficava com dinheiro destinado às pessoas pobres; cf. Jo 12,6) e “bandidos” (léstés – termo usado para qualificar Barrabás no julgamento de Jesus por Pilatos; Jo 18,40).

A “glosa” – ou explicação – que aparece no versículo 6, mostra que é mais que um mero discurso, mas Jesus dá uma “orientação”, isto é, uma ferramenta de discernimento que permita saber quem é o pastor e quem são os “ladrões” e “bandidos”. Traduzindo literalmente diz “Assim Jesus orientavaeipen – eles com metáforas/alegorias – paroimia, no entanto, “eles não entenderam o que ele falava – elálei”. Diante deste impasse, Jesus resolve se revelar dizendo “EU SOU A PORTA DAS OVELHAS”. Mas, porque ele diz primeiro ser a porta, e não o pastor?

Hipótese 1: O conflito pastor x ladrões/bandidos não se refere à natureza de ambos, pois ambos têm uma relação de “superioridade” em relação às ovelhas. Neste caso a distinção estaria no “caráter”. No entanto, A PORTA, é de uma natureza diferente, ela “serve”, não “manda”, ela é a “páscoa”, a passagem, não quem faz passar.

Hipótese 2: Jesus ao dizer “EU SOU A PORTA” não se coloca apenas no nível das ovelhas, mas até abaixo delas, como recentemente disse o Papa Francisco sendo “pastor com cheiro de ovelha”. Jesus é um pastor “pontífice”, isto é, ele é “ponte-passagem”, caminho de inclusão e acolhimento para que todas as ovelhas encontrem vida e vida em abundância.

Estas hipóteses fecham com a continuidade do texto quando, ao se chamar de “Bom Pastor” dirá que este é quem dá a vida pelas ovelhas (Jo 10,11).

Relacionando com as outras leituras

O livro de Atos dos Apóstolos nos lembra que o batismo, quando o Espírito Santo nos envolve com a Graça de Deus em Cristo, não é “privilégio”, mas é a participação no “ser” de Cristo nos arrependendo de nossa vida egoísta, e assumindo o caminho da porta, por onde todas as pessoas podem passar e encontrar vida em abundância (At 2,38b-39). Do mesmo nos lembra a Primeira Carta de Pedro ao apontar para a Cruz de Cristo, e para a ação do Espírito Santo, como indicativos de uma vida dedicada à vida de todas as pessoas e de toda a criação: “Para isto fostes chamados, pois também Cristo sofreu por vós e vos deixou seu exemplo para que sigais os seus passos” (1 Pd 2,21).

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