17 Dezembro 2021
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Lucas 1,39-45, que corresponde ao 4° Domingo do Advento, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Estamos a viver uns tempos em que cada vez mais o único modo de poder acreditar verdadeiramente vai ser, para muitos, aprender a acreditar de outra forma. Já o grande convertido John Henry Newman anunciou esta situação quando advertia que uma fé passiva, herdada e não repensada acabaria entre pessoas educadas em "indiferença", e entre pessoas simples em "superstição". É bom lembrar alguns aspectos essenciais da fé.
A fé é sempre uma experiência pessoal. Não basta acreditar no que os outros nos pregam sobre Deus. Cada um só acredita, em suma, no que realmente acredita no fundo do seu coração ante Deus, e não no que ouve dizer a outros. Para acreditar em Deus é necessário passar de uma fé passiva, infantil e herdada para uma fé mais responsável e pessoal. Esta é a primeira pergunta: acredito em Deus ou naqueles que me falam dele?
Na fé, nem tudo é igual. Temos de saber diferenciar o que é essencial e o que é acessório, e, depois de vinte séculos, há muito de acessório no nosso cristianismo. A fé daquele que confia em Deus está para além das palavras, das discussões teológicas e das normas eclesiásticas. O que define um cristão não é ser virtuoso ou cumpridor, mas viver confiando num Deus próximo pelo que se sente amado sem condições. Esta pode ser a segunda questão: confio em Deus ou fico preso noutras questões secundárias?
Na fé, o importante não é afirmar que se acredita em Deus, mas sim saber em que Deus se acredita. Nada é mais decisivo do que a ideia que cada um faz de Deus. Se acredito num Deus autoritário e justiceiro, acabarei por tentar dominar e julgar todos. Se acredito num Deus que é amor e perdão, viverei amando e perdoando. Esta pode ser a pergunta: em que Deus acredito? Num Deus que responde às minhas ambições e interesses ou no Deus vivo revelado em Jesus?
A fé, por outro lado, não é uma espécie de "capital" que recebemos no batismo e de que podemos dispor para o resto das nossas vidas. A fé é uma atitude viva que nos mantém atentos a Deus, abertos todos os dias ao seu mistério de proximidade e amor por cada ser humano.
Maria é o melhor modelo desta fé viva e confiada. A mulher que sabe ouvir Deus no fundo do seu coração e vive aberta aos seus desígnios de salvação. A sua prima Isabel louva-a com estas palavras memoráveis: "Bem-aventurada és tu, porque acreditaste!" Feliz também és tu se aprenderes a acreditar. É o melhor que te pode acontecer na vida.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Acreditar é outra coisa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU