03 Dezembro 2021
A leitura que a Igreja propõe é o Evangelho de Lucas 3,1-6, que corresponde ao Segundo Domingo do Advento, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto.
Há pessoas que, mais do que acreditarem em Deus, acreditam naqueles que falam dele. Só conhecem Deus por «ouvir falar». Falta-lhes experiência pessoal. Assistem, talvez, a celebrações religiosas, mas nunca abrem seus corações a Deus. Jamais se detêm a perceber a sua presença no interior do seu ser.
É um fenômeno frequente: vivemos girando em torno de nós mesmos, mas fora de nós; trabalhamos e desfrutamos, amamos e sofremos, vivemos e envelhecemos, mas nossa vida passa sem mistério e sem um horizonte final.
Mesmo aqueles que nos dizemos crentes não sabemos muitas vezes «estar ante Deus». Nos é difícil reconhecermo-nos como seres frágeis, mas infinitamente amados por Ele. Não sabemos admirar sua grandeza insondável nem gostar da sua presença próxima. Não sabemos invocar ou louvar.
Que pena dá ver como Deus é discutido em certos programas de televisão. Fala-se «de ouvir falar». Debate-se o que não se conhece. Os convidados ficam acalorados a falar do Papa, mas a ninguém se ouve falar com um pouco de profundidade sobre esse Mistério a que nós crentes chamamos «Deus».
Para descobrir Deus não servem as discussões sobre religião e os argumentos dos outros. Cada um tem de fazer a sua própria viagem e viver a sua própria experiência. Não basta criticar a religião nos seus aspetos mais deformados. É necessário procurar pessoalmente o rosto de Deus. Abrir caminhos na nossa própria vida.
Quando durante anos se viveu a religião como um dever ou como um peso, só esta experiência pessoal pode desbloquear o caminho para Deus: poder comprovar, ainda que seja de uma forma germinal e humilde, que é bom acreditar, que Deus faz bem.
Este encontro com Deus nem sempre é fácil. O importante é procurar. Não fechar nenhuma porta; não descartar nenhuma chamada. Continua a procurar, talvez com o último resto das nossas forças. Muitas vezes, o único que podemos oferecer a Deus é o nosso desejo de nos encontrar com ele.
Deus não se esconde dos que o procuram e perguntam por Ele. Mais cedo ou mais tarde, recebemos a sua «visita» inconfundível. Então tudo muda. Pensávamos que estava longe, e está perto. Sentíamos ameaçador, e é o melhor amigo. Podemos dizer as mesmas palavras que Job: «Até agora falava de ti por ouvir falar; agora os meus olhos viram-te».
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