27 Março 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 11,1-45 que corresponde ao Quinto Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Estamos demasiado presos pelo «mais cá» para nos preocuparmos com o «mais lá». Submetidos a um ritmo de vida que nos atordoa e escraviza, oprimidos por uma informação asfixiante de notícias e acontecimentos diários, fascinados por mil atrativos que o desenvolvimento técnico coloca em nossas mãos, não parece que necessitemos de um horizonte mais amplo do que «esta vida», em que nos movemos.
Para que pensar em «outra vida»? Não é melhor gastar todas as nossas forças em organizar o melhor possível a nossa existência neste mundo? Não deveríamos esforçar-nos ao máximo em viver esta vida de agora e calarmo-nos a respeito de todo o resto? Não é melhor aceitar a vida com a sua escuridão e os seus enigmas, e deixar o «além» como um mistério do qual nada se sabe?
No entanto, o homem contemporâneo, como o de todas as épocas, sabe que, no fundo do seu ser, está sempre latente a pergunta mais séria e difícil de responder: o que acontecerá com todos e cada um de nós? Qualquer que seja a nossa ideologia ou a nossa fé, o verdadeiro problema que todos estamos enfrentando é o nosso futuro. Que fim nos espera?
Peter Berger recordou-nos com profundo realismo que «toda a sociedade humana é, em última instância, uma congregação de homens frente à morte». Por isso, é precisamente ante a morte que aparece com mais claridade «a verdade» da civilização contemporânea que, curiosamente, não sabe o que fazer com ela que não seja escondê-la e evitar ao máximo seu trágico desafio.
Mais honesta parece ser a posição de pessoas como Eduardo Chillida, que em algumas ocasiões se expressou nestes termos: «Da morte, a razão diz-me que é definitiva. Da razão, a razão diz-me que é limitada».
É aqui onde temos de situar a posição do crente, que sabe lidar com realismo e modéstia o ato inevitável da morte, mas que o faz com uma confiança radical no Cristo ressuscitado. Uma confiança que dificilmente pode ser entendida «desde fora» e que só pode ser vivida por quem escutou, alguma vez, no fundo do seu ser, as palavras de Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida». Acreditas nisto?
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