05 Abril 2019
Jesus foi para o monte das Oliveiras. Ao amanhecer, ele voltou ao Templo, e todo o povo ia ao seu encontro. Então Jesus sentou-se e começou a ensinar.
Chegaram os doutores da Lei e os fariseus trazendo uma mulher, que tinha sido pega cometendo adultério. Eles colocaram a mulher no meio e disseram a Jesus:
- “Mestre, essa mulher foi pega em flagrante cometendo adultério. A Lei de Moisés manda que mulheres desse tipo devem ser apedrejadas. E tu, o que dizes?”
Eles diziam isso para pôr Jesus à prova e ter um motivo para acusá-lo.
Então Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Os doutores da Lei e os fariseus continuaram insistindo na pergunta.
Então Jesus se levantou e disse:
- “Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra.”
E, inclinando-se de novo, continuou a escrever no chão. Ouvindo isso, eles foram saindo um a um, começando pelos mais velhos. E Jesus ficou sozinho. Ora, a mulher continuava ali no meio.
Jesus então se levantou e perguntou:
- “Mulher, onde estão os outros? Ninguém condenou você?”
Ela respondeu:
- “Ninguém, Senhor”.
Então Jesus disse:
- “Eu também não a condeno. Pode ir, e não peque mais”.
Leitura do Evangelho de João 8,1-11. (Correspondente ao 5º Domingo de Quaresma, ciclo C Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Na liturgia do quinto domingo de Quaresma, a Igreja oferece a leitura do Evangelho de João. É um texto que não aparece nos outros evangelhos e possivelmente foi incorporado depois ao Evangelho de João. Não há comentários dele nos escritos dos Santos Padres, mas sem dúvida é uma passagem muito antiga e sua mensagem faz parte da mentalidade de Jesus. Por isso se reconhece como texto evangélico e pertence ao Evangelho de João.
O texto inicia com Jesus no monte das Oliveiras, onde ele costumava retirar-se para rezar, para estar a sós com o Pai. Dali ao amanhecer ele dirige-se ao Templo e “todo o povo ia ao seu encontro”. Lembremos que “Para Israel, o Templo é o lugar da residência divina, a casa que Deus escolheu para morar, depois de ter ordenado a sua construção”. Também no Templo se concentrava o poder religioso judaico opressor e injusto. Quando Jesus expulsa do Templo os vendedores que utilizam a casa de Deus para receber dinheiro, ele os condena porque estão tornando a casa de Deus uma “casa de tráfico”. “Há aí um comportamento idólatra: algo produzido pelo homem foi colocado acima de Deus, tornando-se um objeto de culto. E, de fato, ao longo da história, o que não tem sido feito em nome de Deus e do Cristo, submetendo-os ao nosso próprio culto!” (O Templo que Deus habita)
Neste momento Jesus senta-se, como fazem os mestres, para ensinar ao povo que tinha ido “ao seu encontro”. Jesus é o novo Mestre que revela o verdadeiro rosto de Deus e seu projeto de vida para todos/as. Mas seus ensinamentos, assim como seu estilo de vida, vão provocar cada vez mais a rejeição das autoridades judaicas. Este grupo, ou seja, fariseus e os que eram considerados doutores da Lei são os que procuram a condenação e morte de Jesus.
Imaginemos a cena, Jesus está ensinando a um grupo de pessoas que tem grande vontade de escutá-lo. Possivelmente são pessoas doentes, necessitadas, pessoas que geralmente são rejeitadas, marginalizadas, mas em Jesus encontram resposta a suas doenças e pobreza social, cultural e religiosa.
Nesse contexto narra-se no evangelho que “Chegaram os doutores da Lei e os fariseus trazendo uma mulher, que tinha sido pega cometendo adultério”. Colocaram a mulher no meio e fazem uma pergunta a Jesus: “Mestre, essa mulher foi pega em flagrante cometendo adultério. A Lei de Moisés manda que mulheres desse tipo devem ser apedrejadas. E tu, o que dizes?”
Nas leis antigas o adultério era condenado. O problema que apresentam a Jesus é o que devem fazer com a mulher. Não há nenhuma pergunta sobre o homem que estava com ela.
Nas leis antigas sempre condenaram o adultério. Assim aparece no Código Hammurabi, que diz que se uma mulher que tem marido é pega em adultério, os dois devem morrer: homem e mulher!
No livro do Deuteronômio aparece a condenação à morte de ambos no caso de adultério: “Se um homem for pego em flagrante tendo relações sexuais com uma mulher casada, ambos serão mortos, tanto o homem como a mulher” (Dt 22, 23-24).
Se os fariseus e doutores da lei já sabem o que devem fazer, qual é a verdadeira intenção de sua pergunta? A resposta vem em seguida: “Eles diziam isso para pôr Jesus à prova e ter um motivo para acusá-lo.” Eles buscam razões e justificativas para que Jesus seja acusado e logo condenado. Ele não cai na armadilha! A resposta não é imediata. O texto diz que “Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo”. Sem dúvida ele está pensando e possivelmente dialogando no íntimo com Deus, uma resposta que apresente o Amor Misericordioso do Pai. Ele não pode contradizer a Lei de Moisés, mas também não pode apresentar uma mensagem contrária ao Amor compassivo do Pai.
Mas eles desejam uma resposta e continuam: “Os doutores da Lei e os fariseus continuaram insistindo na pergunta”. Então Jesus se levanta e responde com uma pergunta dirigida a eles:
“Quem de vocês não tiver pecado, atire nela a primeira pedra”.
Uma vez mais a resposta de Jesus desconcerta. Eles atuam desde uma aparente fidelidade à Lei de Moisés, e Jesus move-se guiado pelo amor a cada uma das pessoas que estão aí. Suas palavras têm a autoridade de chegar às consciências das pessoas ali presentes. Jesus não os condena. É sua própria consciência que os leva a retirar-se, como diz o texto: “Ouvindo isso, eles foram saindo um a um, começando pelos mais velhos”.
Neste momento podemos pensar na nossa vida pessoal e nas nossas comunidades. Tantas vezes temos muita facilidade para condenar as outras pessoas, com nossas palavras, comentários!
Como disse o evangelho de Lucas no capítulo 6, 39-42, quando se refere à atitude de olhar o cisco do próximo sem perceber a trave que há no nosso olho. Referindo-se a essa atitude, Enzo Bianchi disse que “é preciso uma grande capacidade de autocrítica, um atento exercício ao exame da própria consciência, saber reconhecer o mal que nos habita, sem expiá-lo morbidamente no outro”. (O cisco e a trave)
Desta maneira ficam Jesus e a mulher. Podemos imaginar e até sentir o estado em que se encontraria a mulher, a humilhação e medo que ela experimentaria. Jesus é quem inicia o diálogo, transgredindo a lei que não permitia a um judeu se dirigir em público a uma mulher desconhecida e menos na situação na qual ela se encontrava.
Mas Ele o faz e com ternura lhe pergunta: “Mulher, onde estão os outros? Ninguém condenou você?”. Ele sabe a resposta, mas quer que a mulher se sinta digna de responder. Este diálogo revela a pedagogia de Jesus, que busca que a outra pessoa, independente da situação na qual se encontre, encorajada pelo espaço de confiança que o outro lhe oferece possa se exercer o direito de falar e assim iniciar lentamente o caminho da autonomia.
Escuta-se pela primeira vez a voz da mulher: “Ninguém, Senhor”. E logo a oferta de salvação de Jesus: “Eu também não a condeno. Pode ir, e não peque mais”. Jesus não condena a mulher, mas convida-a a mudar de vida.
Neste tempo de Quaresma somos também cada uma e cada um de nós convidados a mudar de vida. O amor e a ternura de Deus são infinitos e somente podemos percebê-los numa vida renovada. Por isso abramos nossos ouvidos às palavras e aos gestos de Jesus para receber sua mensagem e nele o caminho do Amor que transforma.
Perdão sem condições
Tu nos ofereces o perdão
não nos pedes negociá-lo contigo
na base de castigos e contratos.
“Teu pecado está perdoado.
não peques mais.
Vai e vive sem temor.
E não carregues o cadáver de ontem
sobre teu ombro livre”
Não nos pedes sanear
a dívida impagável
de havermo-nos voltado contra ti.
Ofereces-nos uma vida nova
sem ter que trabalhar
abrumados pela angústia
pagando os juros
de uma conta infinita.
Nos perdoas de todo coração.
Não és um Deus
de tantos por cento no amor
“A este setenta e cinco
e ao outro apenas vinte e três.”
façamos o que façamos,
somos filhos cem por cento.
Teu perdão é para todos.
não apenas carregas sobre o ombro
a ovelha perdida,
mas também o lobo
manchado com o sangue da ovelha.
Perdoas sempre.
Setenta vezes sete saltas ao caminho
para acolher nosso regresso,
sem fechar-nos o rosto
nem racionar-nos a palavra,
por nossas fugas repetidas.
Com o perdão nos dás o gozo.
Não queres que ruminemos
em um canto da casa
nosso passado partido,
mas que celebremos a festa
de todos os irmãos,
vestidos de gala e de perfume,
entrando em tua alegria.
Pedimos-te no Pai Nosso:
“Perdoa-nos como perdoamos”
Hoje te pedimos mais ainda:
ensina-nos a perdoar os outros
e a nós mesmos
como tu nos perdoas.
Benjamin González Buelta
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Perdão e ternura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU