07 Julho 2018
Jesus foi para Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam. Quando chegou o sábado, Jesus começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: «De onde vem tudo isso? Onde foi que arranjou tanta sabedoria? E esses milagres que são realizados pelas mãos dele? Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E suas irmãs não moram aqui conosco?» E ficaram escandalizados por causa de Jesus. Então Jesus dizia para eles que um profeta só não é estimado em sua própria pátria, entre seus parentes e em sua família. E Jesus não pôde fazer milagres em Nazaré. Apenas curou alguns doentes, pondo as mãos sobre eles. E Jesus ficou admirado com a falta de fé deles.
Leitura do Evangelho de Marcos 6,1-06 (Correspondente ao 14° Domingo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Nesta semana continua-se lendo o Evangelho de Marcos. No domingo anterior Jesus ficou admirado com a fé de uma mulher que tinha uma enfermidade que a mantinha distante das pessoas. Ela padecia de hemorragia e fazia impura toda pessoa que a tocasse. Procurou diferentes formas de cura, mas sem resultado. Também havia uma menina, a filha de Jairo, que estava doente, e o pai procura Jesus para que a cure.
As duas mulheres são curadas por Jesus e isso abala a fé de Jairo, o chefe da sinagoga, que fica surpreendido pela fé da mulher. Mas no texto de hoje “Jesus ficou admirado com a falta de fé deles”.
Jesus chega a Nazaré junto com seus discípulos, está na sua terra, a terra de suas origens, de sua infância, onde morou junto com sua família. Nazaré, um pequeno povoado na Galileia que não aparece no Antigo Testamento, não era importante na sua história. Em Nazaré, povoado agrícola, morava gente simples, de condição humilde.
No sábado Jesus dirige-se à sinagoga e, fazendo uso do direito que todo israelita adulto tinha, lê e comenta as Escrituras.
Os que o ouvem conheciam sua família, sua história, e admiram-se de sua sabedoria. Eles não entendem como é possível que essa pessoa que estava junto deles, que provém de uma família pobre, sem estudos, que o viram crescer, agora tenha tanta sabedoria. Por isso eles se perguntam: “Onde foi que arranjou tanta sabedoria?”.
No começo do evangelho, Marcos apresenta uma cena similar: “Foram à cidade de Cafarnaum e, no sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar”. “As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus ensinava como quem tem autoridade, e não como os doutores da Lei” (Mc 1, 21-22).
Logo após curar o homem possuído por um espírito mau, as pessoas reconhecem em Jesus “Um ensinamento novo, dado com autoridade... Ele manda até nos espíritos maus e eles obedecem!”. A consequência desta cura aumenta a fé das pessoas: “E a fama de Jesus logo se espalhou por toda parte, em toda a redondeza da Galileia” (Mc 27-28).
Sem dúvida, Jesus ao longo de sua vida esteve em contato com um povo sofrido e sente as consequências do Império Romano e de uma religião ritualista. Um povo muitas vezes excluído porque não conseguia cumprir as exigências daqueles que se consideravam fiéis intérpretes da Lei. Eles apresentavam um Deus rígido, inflexível e não era possível levar adiante suas normas.
Jesus é próximo das pessoas e conhece suas doenças. Não tem problema em quebrar normas para libertar aqueles e aquelas que nenhuma pessoa conseguia libertar e incluir na sociedade.
Na narrativa de hoje as pessoas também ficam assombradas, mas seu ensinamento não desperta a fé, senão pelo contrário, acrescenta a incredulidade.
Possivelmente os nazarenos consideravam que eles conheciam Jesus porque sabiam da sua procedência, conheciam sua família e por isso eles não “podem” acreditar nele. Essa familiaridade não lhes permite escutar as palavras de Jesus com ouvidos atentos, senão simplesmente como um vizinho e nada mais.
Jesus não estudou com nenhum rabino e ademais se apresenta com um grupo de discípulos e discípulas, pessoas que o seguiam. Como isso é possível, “ele” que não é ninguém?
E eles não o aceitam! Possivelmente Jesus sofreu muito a rejeição dos seus, na sua própria terra, porque reconhece que uma vez mais se cumprem as palavras de que “um profeta só não é estimado em sua própria pátria, entre seus parentes e em sua família”.
Apesar da incredulidade de seu povo, Jesus não desiste de sua missão, mas, pelo contrário, continua com o projeto do Pai. Ele se considera profeta e assim se apresenta ao longo de todo o Evangelho.
Pode-se pensar que Marcos traz este episódio para encorajar as comunidades que atravessam momentos difíceis, situações de crise pelas perseguições, e não há uma conversão multitudinária dos pagãos, mas a semente continua germinando no íntimo da vida das pessoas e das comunidades.
Neste domingo somos convidados também a perguntar-nos se aceitamos Jesus naqueles que estão ao nosso lado, nas suas palavras, nas suas atitudes. Ou tentamos considerar-nos superiores e por isso sempre nos será difícil aceitar a simplicidade de Jesus que se manifesta por onde nem sabemos nem imaginamos. No fundo pensamos que tudo aquilo que não corresponde ao conhecido, ao desejado, não provém de Deus.
Quais são nossas expectativas? Desejamos estar perto de um Jesus cheio de poderes, que quase não é humano? Pensar que sabemos tudo sobre Jesus, sobre sua vida, sua pessoa, pode levar-nos a considerá-lo um profeta a mais ou um mestre importante, mas não deixa de ser um mestre religioso como outros.
Por isso, nestes dias somos chamados a abrir nossa vida a Jesus, que se manifesta na simplicidade e é tão humano que nem sempre é fácil aceitar. Reconhecendo nossa debilidade, peçamos ao Senhor: “aumenta a minha fé”.
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“Aumenta nossa fé” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU