14 Junho 2013
Depois da palavra de vida dirigida ao pagão e à viúva, temos hoje esta palavra dirigida à pecadora. Nosso Deus, porque é o Deus da vida e do amor para com todos, mulheres e homens, é também o Deus do perdão, o Deus da misericórdia. Àquele que ama, mesmo estando em pecado, Deus oferece a sua ternura.
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras 11º Domingo do Tempo Comum (16 de junho de 2013). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: 2Sm 12,7-20.13
2ª leitura: Gl 2.16.19-21
Evangelho: Lc 7,36-50
A Lei e a fé
Todas as leituras de hoje devem ser interpretadas a partir da epístola de Paulo. Este, como de hábito, insiste no fato de que somos salvos, reabilitados, ressuscitados a partir da nossa fé no Cristo e não pela prática da Lei. Mas, entendamos bem, não se quer dizer com isto que não tem importância transgredir a Lei e que se pode fazer qualquer coisa, não importa o quê. Ele diz apenas que, depois de ter cumprido tudo o que a Lei manda, somos, simplesmente, aqueles pobres servos inúteis de que fala Lucas 17-10. Resta ainda uma etapa a ser vencida: depositar a nossa fé naquele que Deus nos enviou. A partir desta fé, iremos com toda a certeza cumprir as obras da Lei, mas não mais em nome da Lei: o amor será então o motor dos nossos comportamentos. Não é por agir bem que estamos “salvos”, mas é por estarmos salvos que agimos bem. O fariseu, no evangelho, despreza “esta mulher” que veio encontrar-se com Jesus; é uma “pecadora”, uma infratora da Lei. Quanto a ele, não tem grande coisa a se fazer perdoar: sua dívida é irrisória, apenas cinqüenta moedas de prata. É um nada perto das quinhentas moedas devidas pela prostituta. Para resumir, o fariseu não sabe que necessita do Cristo, que, sem o Cristo, está perdido. Ele se basta a si mesmo; encontra-se incapacitado para o amor, esta força, esta necessidade que nos arrasta para o outro.
No começo, o dom
O que ocorre neste encontro entre a prostituta e Jesus? Primeiro, a expressão de um agradecimento perdidamente apaixonado. A mulher mostra o seu grande amor, porque sabe que Jesus vem perdoar as suas dívidas. Não ouviu ainda a palavra do perdão, mas tem certeza de que ouvirá. Como diz Jesus, em Marcos 11,24: “tudo o que pedirdes ao rezar, crede que já haveis recebido e vos será dado.” A fé se antecipa, assim, à realização do desejo: “é como se já estivesse feito”. Por isso, no fim do relato, Jesus diz à mulher: “Tua fé te salvou: vai em paz!” Notemos esta espécie de espiral em que vai crescendo o nosso texto: primeiro, se diz que o perdão é que provoca o amor; quanto mais se é perdoado, mais se ama. Depois, no versículo 47, ao contrário, é o amor que conduz ao perdão. Verifica-se assim o que acabamos de dizer sobre a antecipação. É o perdão que vem primeiro e suscita o reconhecimento amoroso. Ou, quem sabe, não o suscite. Neste caso, o perdão concedido não deu fruto e estamos de volta à nossa desgraça inicial. Notemos que o nosso amor vem sempre em segundo lugar, pois, de fato, ele é o reconhecimento pelos dons de Deus e o primeiro entre eles é a nossa existência. Deus é que tem sempre a iniciativa do amor. Ele é a origem de tudo o que existe e tudo lhe deve este reconhecimento que chamamos de “ação de graças”.
“Estás vendo esta mulher?”
O fariseu não tinha na verdade olhado ainda para aquela mulher anônima, identificada apenas por sua discutível profissão. As manifestações de amor agradecido por parte desta pecadora já perdoada não dizem nada a este homem: é como se não as tivesse visto. Com certeza, o fariseu havia convidado Jesus a fim de descobrir quem ele era, pois, no versículo 39, conclui que “este homem não é um profeta.” Por fim, nem o fariseu nem os seus companheiros irão obter qualquer resposta à questão que se punham, uma vez que se perguntam: “Quem é este que até perdoa os pecados?” O não-profeta será muito mais que um profeta? Não ousam responder; foi em vão que convidaram Jesus. Não assim com a mulher: no início, declarada pecadora, revelou-se crente e foi “salva”. Também o fariseu, ao longo do texto, revelou-se: o contrário da mulher. Não crente (“Quem é este homem?”), sem qualquer reconhecimento (não lavou os pés de Jesus, não os beijou nem abraçou, etc.), sem nenhum amor, portanto. Não ouviu Jesus dizer-lhe: “Teus pecados estão perdoados”. Logo ele, que considerava a sua dívida tão irrisória, inexistente mesmo, assim como o fariseu da parábola de Lucas 18,9-14, texto muito parecido com este. Não irá mais ouvir “A tua fé te salvou.” A mulher, por sua vez, ficou muda o tempo todo no relato; a sua fé e o seu amor é que falam. Mesmo que falem dela, ninguém fala com ela, a não ser no final, quando então já está reabilitada e toda novinha diante de Deus. Não contemos com a nossa inocência, mas glorifiquemos a Deus com alegria, reconhecendo os nossos malfeitos.
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“Tua fé te salvou!" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU