15 Junho 2015
Nesse dia, quando chegou a tarde, Jesus disse a seus discípulos: «Vamos para o outro lado do mar». Então os discípulos deixaram a multidão e o levaram na barca, onde Jesus já se encontrava. E outras barcas estavam com ele.
Começou a soprar um vento muito forte, e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já estava se enchendo de água. Jesus estava na parte de trás da barca, dormindo com a cabeça num travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram:
"Mestre, não te importa que nós morramos?". Então Jesus se levantou e ameaçou o vento e disse ao mar:
- "Cale-se! Acalme-se!"
O vento parou e tudo ficou calmo. Depois Jesus perguntou aos discípulos:
"Por que vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?"
Os discípulos ficaram muito cheios de medo e diziam uns aos outros: "Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?".
(Correspondente ao 12° Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico).
O texto evangélico que estamos lendo no domingo que corresponde ao Tempo Comum é sobre o Evangelho de Marcos.
Hoje a Igreja apresenta-nos um trecho do Evangelho no qual Jesus, depois de um dia de pregação do Reino de Deus, se retira com os discípulos “para o outro lado do mar”. Eles vão atravessar o mar de Galileia para outra terra. É a terra dos pagãos.
Para melhor compreender este texto temos que lembrar que o Evangelho de Marcos inicia com uma frase fundamental: “Começo da Boa Notícia de Jesus, o Messias, o Filho de Deus” (Mc 1,1).
Jesus da início a uma Boa Notícia que será desenvolvida ao longo deste Evangelho.
Mas, quem é Jesus? Esta é uma pergunta fundamental para todos aqueles que iam se incorporando progressivamente no cristianismo.
Na sua primeira parte o Evangelho de Marcos (Mc 1,19-8,21) responde com fatos e sinais a esta pergunta fundamental: quem é Jesus?
E assim podemos dizer que toda esta primeira parte do Evangelho prepara o chão para a outra pergunta fundamental do Evangelho: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Por isso a história hoje relatada leva os discípulos a se perguntarem: “Quem é este homem?”.
Neste relato Jesus e os discípulos foram mar adentro ao término de um dia de trabalho. Há uma forte tempestade que é acalmada por Jesus e uma vez mais os discípulos perguntam-se quem é Jesus.
O mar é uma ameaça para aqueles/as que tentam atravessá-lo numa barca pequena. Apesar de todos os avanços da humanidade, hoje há também desde outra realidade pessoas que atravessam o mar na procura da sobrevivência.
Lemos e escutamos como tantas famílias africanas tentam atravessar o Mar Mediterrâneo na busca da vida, do alimento, da liberdade. Mas muitas delas morrem afogadas no caminho.
E o Papa Francisco desde o início de sua missão colocou-se em defesa da dignidade destas pessoas que vêm da África e eles mesmos nos dizem porque sobem a uma pequena barca.
Nos primeiros séculos o mar é uma ameaça para aqueles que tentam passar para o outro lado nestas pequenas embarcações. A tormenta pode acontecer a qualquer momento levada pelo fluxo das ondas.
O Salmo 107 que lemos neste dia, comunica esta experiência do povo que no meio da aflição e do perigo confia a Deus. Este salmo é fundamental para melhor entender o texto do evangelho.
Apresenta uma narrativa muito clara do povo que está no meio do mar e se confia em Deus.
“Eles viram as obras de Javé, suas maravilhas em alto-mar.
Ele falou, levantando um vento impetuoso, que elevou as ondas do mar.
Eles subiam até o céu e baixavam até o abismo, a vida deles se agitava na desgraça.
Rodavam, balançando como bêbados, e de nada adiantou a perícia deles.
Na sua aflição, clamaram para Javé, e ele os libertou de suas angústias.
O mar simboliza o perigo, a ameaça na vida. Estet é o mar que o evangelista está nos comunicando. A comunidade está passando momentos de perigo, onde muitos dos cristãos se perguntam: quem é Jesus? As dificuldades são cada vez mais grandes maiores e muitos entre eles perguntam-se que significa ser realmente discípulo/a de Jesus.
Mas antes de dormir, Jesus disse claramente para onde queria ir: «Vamos para o outro lado do mar», ou seja, vão atravessar o mar de Galileia para ir à terra dos pagãos a continuar sua missão.
Ele quer continuar sua missão, é ciente que veio ao mundo para "pregar o Reino de Deus" (Mc 1,38-39), e essa paixão pelo projeto de Deus o queima por dentro e o movimenta a ir ao encontro das pessoas nas diferentes situações e lugares onde estão.
Esta barca que se dirige às terras pagãs, levando Jesus e seus discípulos, é uma imagemda Igreja mis sionária hoje. Ela também, possuída pela mesma paixão e zelo missionário de Jesus, atravessa diferentes mares para ir ao encontro dos homens e mulheres para lhes comunicar a boa notícia do reino de Deus.
Quais são os mares que nossa comunidade cristã hoje está atravessando para dar continuidade à missão de Jesus?
Com a nova Carta Encíclica do Papa Francisco Laudato Si, como disse são Francisco no Cântico das criaturas.
Essa carta nos lembra que não podemos esquecer a urgência da Igreja em encontrar uma linguagem adequada, novas categorias para dialogar com a cultura pós-moderna em contínua mudança.
O evangelista conhecedor das dificuldades que sofre a comunidade dos anos 70 d.C., apresenta uma viagem com tormenta: "Começou a soprar um vento muito forte, e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já estava se enchendo de água".
Quais são as ondas que tentam hoje fazer soçobrar nossa barca?
Talvez "ondas" de desânimo, de desesperança: somos cada vez menos na comunidade; o que temos mudado com nosso trabalho? "Ondas" de aburguesamento e cumplicidade: já fizemos bastante, pobres sempre existiram e existirão. "Ondas" de fundamentalismo e superioridade: é importante cuidar a pureza de nossos ritos, liturgias...
Como os discípulos ao experimentar essas ondas batendo na nossa barca, na nossa comunidade, sentimos medo. Seria ótimo que seguíssemos seu exemplo e acudíssemos também nós a Jesus.
No seu desespero, os discípulos foram despertar Jesus, sua fé se confunde com a recriminação: «Mestre, não te importas que nós morramos?».
Há uma chave que Marcos quer transmitir aos seus. Quando a comunidade segue os passos de seu Mestre, vai sofrer perseguições, vai ter dificuldades, vai vivenciar noites de tormentas, mas Deus é maior que tudo isso.
Nossa fé pode crescer cada vez mais e por isso somos convidados/as a passar para o outro lado. Para isso é preciso atravessar o mar com a confiança que demonstra Jesus no texto: ele dorme sereno porque confia no Pai. Os discípulos ainda tem uma fé que se desespera e devem aprender de Jesus a ter uma fé que confia.
Que eles agradeçam a Javé o seu amor, as maravilhas que faz pelos homens.
Ofereçam sacrifícios de louvor, proclamem suas obras com gritos de alegria.
Desciam de navio pelo mar, comerciando na imensidão das águas.
Eles viram as obras de Javé, suas maravilhas em alto-mar.
Ele falou, levantando um vento impetuoso, que elevou as ondas do mar.
Eles subiam até o céu e baixavam até o abismo, a vida deles se agitava na desgraça.
Rodavam, balançando como bêbados, e de nada adiantou a perícia deles.
Na sua aflição, clamaram para Javé, e ele os libertou de suas angústias.
Ele transformou a tempestade em leve brisa e as ondas emudeceram.
Ficaram alegres com a bonança, e ele os guiou ao porto desejado.
Que eles agradeçam a Javé o seu amor, as maravilhas que faz pelos homens.
Que o exaltem na assembléia do povo, e o louvem no conselho dos anciãos!
Ele transforma rios em deserto, nascentes em terra sedenta,
terra fértil em salina, por causa do mal de seus habitantes.
Transforma o deserto em lençóis de água, terra seca em nascentes;
e aí faz morar os famintos, que fundam uma cidade habitada.
Eles semeiam campos e plantam vinhas, e colhem frutos em abundância.
Ele os abençoa e sempre mais se multiplicam, e não deixa o rebanho deles diminuir.
Depois diminuem e vão minguando pela opressão do mal e sofrimento.
Ele espalha o desprezo contra os poderosos, fazendo-os vagar na confusão sem saída.
Mas tira o indigente da miséria e multiplica famílias como rebanhos.
Os corações retos admiram e ficam alegres, e toda injustiça fecha a boca.
Quem é sábio? Observe essas coisas, e saiba discernir o amor de Javé!
(Sal 107, 21-43)
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Evangelho segundo Marcos 4,35-41. - Instituto Humanitas Unisinos - IHU