20 Janeiro 2016
Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se passaram entre nós. Elas começaram do que nos foi transmitido por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra. Assim sendo, após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever para você uma narração bem ordenada, excelentíssimo Teófilo. Desse modo, você poderá verificar a solidez dos ensinamentos que recebeu.
Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. Ele ensinava nas sinagogas, e todos o elogiavam. Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado.
Conforme seu costume, no sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, e para proclamar um ano de graça do Senhor."
Em seguida Jesus fechou o livro, o entregou na mão do ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.
Então Jesus começou a dizer-lhes:
- "Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir".
Leitura do Evangelho de Lucas 4,1-4; 4,14-21. (Correspondente ao 3° Domingo Comum, do ciclo C do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O evangelho deste domingo inicia com o prólogo de Lucas, o qual nos revela o sentido dos evangelhos.
Eles não são, sem dúvida, uma biografia de Jesus, como tantas vezes se pensou, nem também uma síntese do que Ele fez e disse, porque senão ficariam só no passado.
Os evangelhos são uma "boa notícia" para nós, homens e mulheres do século XXI!
São os relatos da experiência de fé das primeiras comunidades cristãs a partir da Ressurreição de Jesus. Constituem uma mensagem baseada no passado, interpretada à luz do presente (a vida das primeiras comunidades) e com vistas ao futuro (a Igreja posterior).
Sabemos que Lucas não foi discípulo direto de Jesus. O texto de hoje responde às tradições existentes, transmitidas por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares.
Depois como os autores gregos daquele tempo, para demonstrar a credibilidade e a solidez do que vai apresentar, fez "um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio".
Lucas dedica seu evangelho ao "excelentíssimo Teófilo" (amigo de Deus), e nele cada um/a de nós pode se sentir incluído e interpelado.
Neste Ano Santo da Misericórdia podemos perguntar-nos: Que são para mim os evangelhos? Deixo que sua mensagem me transforme, opere em mim?
A segunda parte do texto de hoje nos conduz à Galileia, terra dos excluídos, mais precisamente na cidade de Nazaré, onde Jesus tinha crescido. E como qualquer homem judeu de sua época, no sábado vai à sinagoga.
Nos primeiros quatro capítulos do evangelho percebe-se a intensa presença e ação do Espírito, culminando em Jesus, que se sente investido e ungido por ele (4,18).
Como escreve Frei Gilvander Moreira:"Viver segundo o Espírito implica caminhar em um processo de humanização e fortalecimento. A ação do Espírito não é mágica como se ao invocá-lo ele descesse do céu sobre nós. Mas o Espírito de vida está presente em nós e no universo. Ele irrompe na comunidade a partir das entranhas dos fatos históricos."(Viver embalado pelo Espírito Santo, um dos traços da Teologia Lucana).
Uma característica da ação do Espírito nestes capítulos é que ele age, unge, tome posse das pessoas: Maria, Isabel, Zacarias, Simeão, profetisa Ana. Por outro lado, João Batista anuncia que Jesus vai batizar com o Espírito Santo.
No Jordão, Jesus é investido da plenitude do Espírito, que o conduz ao deserto e depois a Galileia.
A sinagoga de Nazaré é o lugar onde Jesus se proclamará com o Ungido de Deus, pela ação do Espírito Santo que está sobre ele.
Há, portanto, um verdadeiro pentecostes no início do evangelho de Lucas. Lembremos que o início do livro dos Atos, escrito também por Lucas, descreve o Pentecostes da primeira comunidade cristã.
O mesmo Espírito que age em Jesus, age também na comunidade de seus seguidores e seguidoras, fazendo possível que a mesma vida e obras que Jesus viveu e realizou, sua comunidade vivesse e realizasse, e maiores ainda!
Para seus discípulos e discípulas, Jesus pede as mesmas condições que vemos no Evangelho.
Como disse o Frei Gilvander Moreira "Lucas apresenta as seguintes condições para seguir Jesus: viver em pobreza radical, não temer repressões, não fazer discriminação racial ou cultural, acolher preferencialmente os pobres."
As palavras do profeta Isaías que Jesus lê descrevem seu projeto de vida: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos, a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor".
O programa de Jesus beneficia diretamente aos pobres, desde o início de sua missão, ele se posiciona do lado deles, apresentando-se como seu libertador.
Dessa maneira, Jesus nos revela o Amor preferencial de Deus pelos mais pobres e marginalizados, a quem não esquece; ao contrário, vem em seu Filho oferecer-lhes uma nova vida livre, digna, plena.
Lucas apresenta as seguintes condições para seguir Jesus: viver em pobreza radical, não temer repressões, não fazer discriminação racial ou cultural, acolher preferencialmente os pobres.
As últimas palavras de Jesus depois da leitura do profeta: "Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir", confirmam seu ser e missão e ecoam até hoje a atualidade dessas palavras.
A Igreja, ungida e movida pelo mesmo Espírito de Jesus, continua sua missão libertadora, continua tendo sentido ao longo dos séculos na medida em que assume como próprio o programa de vida de Jesus de Nazaré.
Unamos-nos a todos aqueles que, por diferentes razões, sofrem neste mundo a marginalização, dirigindo a Deus Pai de todos esta oração:
Senhor, fonte da vida e da esperança.
Estamos diante de Ti
Como criaturas frágeis e necessitadas.
Tu que amas tudo o que existe,
Acolhe-nos em Teu coração.
Suaviza a dor e o sofrimento.
Torna-nos defensores da vida,
Perseverantes na luta,
Solidários no sofrimento.
Livra-nos da discriminação,
Liberta-nos do preconceito.
Ajuda-nos a sermos
Acolhedores e misericordiosos,
Conforme Tua vontade. Amém.
Referências
KONINGS, Johan. Espírito e Mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.
SICRE, José Luis. O quadrante. A busca. São Paulo: Ed. Paulinas, 2000.
SUSIN, Luiz Carlos. Jesus Filho de Deus e Filho de Maria. São Paulo: Paulinas, 1997.
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Evangelho de Lucas 1,1-4; 4,14-21 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU