Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Poema "O Bicho", de Manuel Bandeira, 1886-1968)
Como reflexo do aumento da fome no Brasil, deliberadamente impulsionado pelo desmanche das políticas públicas no governo Bolsonaro, no qual 3 em cada 10 núcleos familiares estão passando fome, uma família da região metropolitana de Porto Alegre, constituída pela mãe e nove crianças, vive o dia a dia sem a certeza do amanhã.
O texto é de Marcelo Zanotti e Stephany Oreli, estudantes de jornalismo, membros da equipe do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
A mãe de 37 anos enfrenta diariamente a busca pela sobrevivência com a sua família de nove pessoas. Imersos no desafio de conseguir aquilo que todo ser humano necessita: alimento, materiais de higiene, descanso, trabalho, renda, moradia e saneamento básico, a família luta constantemente para conquistar o mínimo.
Recentemente, a família foi despejada da moradia alugada em que vivia, devido à falta de pagamento do aluguel provocado pelo bloqueio do Auxílio Brasil, que os mantinha assistidos, ainda que de maneira insuficiente. No momento, mãe e filhos se encontram na casa de parentes, vivendo de favor, enquanto se organizam e juntam recurso financeiro para retornar a uma casa alugada, com tamanho adequado para eles.
As crianças, entre 8 e 18 anos, dependem da alimentação fornecida na escola e, com a aproximação das férias escolares, a família encontra-se preocupada. Mesmo estudando, todos auxiliam a mãe nos contraturnos escolares, saindo todos os dias à procura de bicos, trabalhos informais, no corte de grama, limpeza de pátios ou venda de doces.
"É muito difícil. Ao mesmo tempo que há pessoas boas, que nos recebem bem e nos ajudam, tem muitas pessoas estúpidas e ignorantes, que nos mandam trabalhar, como se não estivéssemos fazendo isso", destacou a mãe.
Maria* teve uma infância difícil. Desde criança conviveu com todas as mazelas que a vulnerabilidade social traz. Muito na sua vida aconteceu cedo: a saída de casa, os filhos e a viuvez. Apesar disso, dedicou-se a fornecer o melhor possível para sua família. Mesmo com 5 filhos biológicos, ainda encontrou espaço para dar uma vida melhor para seus 4 sobrinhos, que foram abandonados pela mãe biológica. Ademais, ainda reserva tempo para cuidar e dar carinho a animais que foram abandonados na rua, maltratados pelo homem.
"Eu cuido muito dos meus filhos. Eles não estão abandonados no mundo. Eu não tive uma mãe cuidadora, então eu faço de tudo para ser para eles o que eu não tive", diz.
Molestada pela vida e pelo trabalho, Maria ainda enfrenta doenças, que volta e meia a deixam acamada, impossibilitada de sair, impossibilitada de trabalhar. As crianças sentem na pele a responsabilidade de sustentar uns aos outros e se preocupam com a mãe, que nem sempre está bem.
Essa família, embora numerosa, é de poucos recursos. Tudo é contado e limitado, menos a união entre eles. Trabalham de todas as formas possíveis e enfrentam desafios duros, como a recente perda do avô, que muito auxiliava as crianças, a queima da antiga casa, a fome diária e os despejos. Mesmo assim, desistir não é uma opção. Maria conta que quando um está para baixo, os outros tratam rapidamente de erguer quem está triste, trazendo a esperança de volta ao lar.
"A gente se guia pela conversa e pelo carinho. Não temos segredo um com o outro. Estamos juntos e enfrentamos as dificuldades juntos", relata a família.
A caridade no Natal é resultado de um amor acolhido cuja fonte é Deus. Somos tão amados por Ele e não há outra resposta a não ser amar o outro. É apenas isto que nosso Deus deseja: “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34). No entanto, o amor em Deus não é filosofia, ou seja, não vive de pensamentos, ao contrário, é concreto: “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não busca os seus próprios interesses, mas se rejubila com a verdade” (1Cor 13, 4-7).
Nesse natal, vamos ajudar Maria e sua família. Eles precisam, principalmente, de alimentos, materiais de higiene pessoal (sabonete, shampoo, condicionador, pasta de dente, desodorante, ABSORVENTE, de suma importância para as meninas, etc.) e materiais escolares (lápis, caneta, borracha, caderno, etc.).
(Foto: IHU)
As crianças veem na escola a esperança de um futuro melhor. Ensinados pela mãe, afirmam que "estudo é tudo". E mostram como se dedicam à rotina escolar, dando conta das tarefas e ainda do cotidiano familiar. Sonham em se profissionalizar e se dividem entre querer ser professor, veterinário, advogado e policial.
Para participar dessa campanha, convidamos a trazer sua doação até a sede do IHU, campus de São Leopoldo da Unisinos, onde iremos arrecadar alimentos, materiais escolares e materiais de higiene até o próximo dia 21-12-2022, quarta-feira. A coleta está ocorrendo na Secretaria do IHU, na sala B07 209.
(Foto: IHU)
Além disso, é possível realizar um pix na chave 51997498449, que pertence diretamente à família, para auxiliá-los na busca por um novo lar, que, hoje, é a maior emergência.
(Foto: IHU)
Entusiasmados para o Natal, as crianças dizem que, embora estejam com dificuldades, é sempre um dia feliz, de reunir a família e se divertir.
A fim de celebrar o Natal e conhecer a família, a equipe do IHU os receberá no dia 22/12, quinta-feira, conforme convite realizado aos colegas, para uma pequena celebração às 11h na Sala Ignácio Illacuría, presidida pelos colegas Marilena e Marcelo. Posteriormente, almoçaremos juntos no Restaurante Universitário da Unisinos. À tarde, visitaremos a Exposição de Presépios que está ocorrendo no Memorial da universidade.
A equipe do Instituto Humanitas Unisinos – IHU agradece e deseja um Feliz Natal!
*Nome fictício para preservação da família.