11 Dezembro 2018
Se não ocorrer uma mudança brusca, no dia de Natal, vão se completar exatamente dois meses que a Igreja calvinista de Bethel, em Haia, acolheu a família Tamrazyan, composta por refugiados armênios que deveriam ser deportados da Holanda. Na rua onde está localizada esta modesta edificação racionalista dos anos 1920, em um bairro de classe média da capital holandesa, nada indica que ali está havendo uma queda de braço formidável com o Governo e sua nova política de aplicação rigorosa das leis de imigração.
A reportagem é de Enrique Serbeto, publicada por ABC, 09-12-2018. A tradução é do Cepat.
Sempre há um membro da Paróquia que se encarrega de abrir e fechar as portas para controlar a passagem dos paroquianos que vêm às celebrações regulares. Afinal, continua sendo uma igreja e sua principal proteção se baseia em manter permanentemente a celebração do culto, para impedir que a polícia possa entrar legalmente no recinto e deter os cinco membros da família, os pais e os três filhos, que lei holandesa diz ser necessário enviar de volta a Armênia, o país do qual fugiram há uma década.
O reverendo Theo Hettema é o responsável por esta paróquia que antes de alcançar esta notoriedade não tinha outros agravos a não ser o fato de seus vizinhos luteranos ter um órgão melhor e mais bonito que o seu. Agora, é o único que se presta a fazer declarações de vez em quando na mesma rua, com muita cautela, porque sabe que a qualquer momento a situação pode fugir das suas mãos. Inicialmente, beneficiaram-se da notoriedade que uma iniciativa como esta teve nos meios de comunicação. Mas, em seguida, perceberam que não poderiam manter a situação, caso o exemplo se estenda e a pequena capela se encha de gente que quer escapar das regras de imigração ou caso outras igrejas pelo país comecem a ser invadidas.
Por isso, não deixa passar aos jornalistas, nem sequer para que comprovemos, que as celebrações ocorrem permanentemente na capela. “A polícia confia em nós quando dizemos que há uma celebração religiosa em andamento”, disse para justificar esta tradição tão holandesa de ter as cortinas abertas para que, da rua, seja possível ver o interior da casa.
Hettema afirma que inicialmente este fato significou um sério desafio logístico para o punhado de pessoas que compõe a paróquia, que precisavam organizar as coisas e os turnos dos clérigos. Contudo, na medida em que o esforço capturou a atenção de todo o país, também se tornou mais fácil administrar e agora se sucedem religiosos de muitas outras igrejas cristãs, tanto protestantes como católicas, para manter em funcionamento a capela. “Vêm até sacerdotes católicos belgas”, algo que indica até que ponto aumentou uma corrente de simpatia com o caso.
Quando é questionado até quando conseguirão aguentar esta situação, responde que “enquanto estivermos contribuindo para um diálogo entre o Governo e a sociedade, manteremos o serviço permanente” na capela. E se tem uma ideia de quando isso poderá acontecer, “só Deus sabe”. “Nós demos proteção à família não porque são cristãos, mas porque podemos confiar neles. Mas, não podemos fazer o mesmo por outros casos, exceto através da ideia de que o resultado desta ação possa ajudar outras famílias no futuro”. O Governo holandês, por sua parte, disse que não comenta casos individuais, mas a orientação política, desde que se formou a nova coalizão há pouco mais de um ano, não ajuda em nada a família Tamrazyan.
A vida dos pais e seus três filhos de 21, 19 e 14 anos, todos perfeitamente integrados até agora, desenvolve-se com certo desconforto, “mas com muita imaginação”, em um local que nunca foi previsto para isso. “Não podem ir à aula, porque nesta situação, caso saíssem à rua, a polícia os deteria imediatamente”.
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Holanda. A Igreja que desafia o Governo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU