07 Novembro 2018
Há vinte anos, em um laboratório da Universidade de Wisconsin, James Thomson olhou em um microscópio e viu o futuro escrito em um grupo de células. Ele havia observado as primeiras células-tronco humanas derivadas de um embrião. Naquela placa, havia o debate sobre a origem da vida e a descoberta de que, pelo menos para algumas células, a imortalidade existe. Havia a observação de que o ponteiro do tempo na biologia pode ser revertido, já que as células-tronco são células "bebês", com potencialidades infinitas, nascidas de células adultas, os gametas dos pais. Grandes promessas da medicina surgiram a partir daquela ocular: a possibilidade de recriar em laboratório os mais de 200 tecidos diferentes do corpo; de tratar doenças degenerativas, como Parkinson e diabetes; de reconstruir órgãos inteiros para serem transplantados.
A reportagem é de Elena Dusi, publicada por La Repubblica, 02-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Naquele 6 de novembro de 1998 - o dia em que a descoberta foi publicada na Science - Thomson já havia visto (quase) tudo o que iria aconteceria nos próximos 20 anos. "Não era difícil intuir o potencial daquele passo à frente, e Thomson era um cientista dotado de capacidade de visão", relata Pier Giuseppe Pelicci, que orienta a unidade sobre os mecanismos moleculares do câncer e o envelhecimento no Instituto Europeu de Oncologia. O biólogo estadunidense não conseguiu prever alguns detalhes realmente difíceis de imaginar, como a seita dos raelianos que por volta do ano 2000 prometia clonar seres humanos para extrair células-tronco, ou as clínicas que brotaram nos porões para vender tratamentos que ainda não haviam sido testados. O caso italiano do método Stamina tem centenas de paralelos no resto do mundo (alguns ativos até hoje). "As promessas das células-tronco eram tão ricas - continua Pelicci – que o risco de criar expectativas excessivas era quase inevitável".
Vinte anos depois, as células das maravilhas limparam o campo do problema ético: não há mais necessidade de destruir embriões para obtê-las, desde 2007 é fácil fazê-lo em laboratório a partir de células adultas (embora na terapia se confie mais naquelas embrionárias). Raelianos e falsos clonadores se eclipsaram. "Fizemos enormes progressos na compreensão da biologia das células-tronco - continua Pelicci – antes conhecíamos apenas um tipo de célula imortal, aquelas do câncer, que para obter tal prerrogativa precisam pagar o preço de perder o controle.
As células-tronco, diferentemente, podem se replicar indefinidamente, mantendo intacta sua capacidade de se diferenciar nos vários tecidos do corpo". Aquelas mesmas primeiras células observadas por Thomson ao microscópio continuam a se replicar hoje nos laboratórios de todo o mundo. A linhagens de células-tronco obtidas nos laboratórios de Madison se multiplicaram por 20 anos e foram enviados pelo correio 5,200 vezes para 2.350 cientistas de 45 países e 6 continentes. De 1998 até hoje (excluindo países como a China que não publicam as contas) seu estudo foi financiado com 2,2 bilhões de dólares (37 milhões na Itália) e gerou 3.900 patentes.
"Mas é verdade - comenta Pelicci – que tínhamos a expectativa de mais curas para os pacientes". Hoje existem cerca de trinta experimentos em andamento com base em células-tronco embrionárias humanas. Não são muitos. "Mas não vamos esquecer que nos últimos anos assistimos a uma revolução: o uso de células-tronco ou de células imunitárias para o tratamento de tumores. Formas de câncer sem esperança hoje têm 30% de possibilidade de cura". E nos próximos vinte anos? "Falaremos de técnicas contra o envelhecimento, temos muitas cartas na mão".
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Uma janela sobre a imortalidade. As células-tronco têm 20 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU