29 Julho 2011
As linhas de batalha política e moral em torno da pesquisa com células-tronco embrionárias estão bem definidas. No entanto, a pesquisa científica sobre os usos médicos de células-tronco adultas deu um passo interessante no ano passado. O Pontifício Conselho para a Cultura implementou um acordo de iniciativa conjunta com uma empresa com fins lucrativos e de capital aberto dos EUA, a NeoStem Inc., uma companhia biofarmacêutica internacional.
A reportagem é de Tom Gallagher, publicada no sítio National Catholic Reporter, 27-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A iniciativa conjunta será implementada por meio do ramo caritativo de cada organização: a Stem for Life Foundation da NeoStem e a Stoq International (Science, Theology and the Ontological Quest), que é uma nova parceria entre o Pontifício Conselho para a Cultura, as seis universidades pontifícias e o Reilly Center for Science, Technology and Values da Universidade de Notre Dame, em Indiana.
O conselho e a NeoStem anunciaram uma conferência internacional intitulada Células-tronco adultas: A ciência e o futuro do homem e da cultura, que será realizada entre os dias 9 e 11 de novembro, em Roma. De acordo com uma nota de imprensa, seus 350 convidados irão incluir especialistas em pesquisa com células-tronco adultas e outros líderes médicos, mas também "líderes da Igreja e científicos, políticos, eticistas, educadores, ministros da saúde de todo o mundo, embaixadores junto à Santa Sé e representantes da comunidade empresarial de terapias com células-tronco para promover uma abordagem multidisciplinar".
O NCR falou recentemente com o padre polonês Tomasz Trafny, chefe do Departamento de Ciência e Fé do conselho, e com a Drª. Robin Smith, diretora executiva da NeoStem (foto), para melhor compreender a natureza dessa relação.
Eis a entrevista.
Como vocês se conheceram?
Trafny – Os nossos escritórios na cidade de Nova York estão no mesmo prédio, e algumas pessoas nos apresentaram uns aos outros. Tivemos muitas reuniões, trocas de e-mails e teleconferências. Foi um processo evolutivo para conhecer uns aos outros.
Quais são as particularidades do acordo de iniciativa conjunta?
Trafny – O acordo é confidencial, mas estabelece estratégias para o projeto. O Pontifício Conselho está buscando soluções, meios de se relacionar com a ciência, de se unir a ela, de aprender uns com os outros. Ciência e religião precisam uma da outra.
Smith – A parceria está focada em quatro coisas: primeiro, influenciar a percepção pública acerca das células-tronco; segundo, promover o avanço da tecnologia das células-tronco adultas; terceiro, criar programas de estudo sobre bioética em colégios e universidades; e, finalmente, atualizar e treinar uma nova geração de pastores e de acadêmicos sobre a bioética da pesquisa com células-tronco adultas.
O que lhes dá confiança de que essa colaboração irá dar frutos?
Trafny – Há um princípio de confiança. Confiamos uns nos outros. Somos responsáveis por aquilo que declaramos. Partilhamos a mesma visão.
O que é único na tecnologia da NeoStem?
Smith – A NeoStem tem uma licença mundial exclusiva para um tipo específico de célula chamada VSEL. Essas células originais são muito pequenas e têm muitas das características benéficas de uma célula embrionária, sem obstáculos morais e éticos. Essas VSELs parecem ter a capacidade de sinalizar para que o corpo cure tecidos danificados, de fazer crescer vasos sanguíneos e de se diferenciar em células de órgãos diferentes, sem teratoma ou formação cancerígena. De fato, essas células estão circulando em todos nós exatamente agora. Embora a pesquisa ainda esteja em suas fases iniciais de desenvolvimento, vemos a promessa dessa pesquisa como transformacional.
A NeoStem sempre fará pesquisa científica com células-tronco embrionárias?
Smith – Não. Estamos focados nas propriedades regenerativas das células-tronco adultas, que é o nosso foco principal. Acreditamos que podemos entregar resultados de forma segura e que não tenham considerações éticas. Todo mundo pode ser um defensor da pesquisa com células-tronco adultas.
A NeoStem se qualifica como um investimento católico e socialmente responsável?
Smith – Sim. A NeoStem seria um grande perfil para um investidor que valoriza a vida humana.
Trafny – É verdade, porque partilhamos os mesmos valores acerca das pesquisas com células-tronco adultas, que é compatível com os valores religiosos, e não só católicos, mas também de muitas outras religiões.
Qual tem sido a reação da direção, dos funcionários e dos acionistas da NeoStem a essa associação?
Smith – As pessoas estão animadas com a parceria, porque estamos fazendo história aqui. É inovador e parte de uma mudança de paradigma. É uma oportunidade imensa para o Vaticano e para a NeoStem. E estaremos promovendo ciência e medicina. Juntos, vamos estar treinando as gerações futuras e fazendo avançar a ciência.
Por que a sua associação com o Pontifício Conselho para a Cultura do Vaticano é importante para você como fiel judaica?
Smith – A NeoStem não tem o alcance do Vaticano. Estamos realmente honrados por termos sido escolhidos.
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Células-tronco: Vaticano e empresa biofarmacêutica passam a colaborar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU