01 Agosto 2017
Pesquisadores demonstraram que podem melhorar o DNA de embriões humanos.
A primeira tentativa de criar embriões humanos geneticamente modificados nos Estados Unidos foi realizada por uma equipe de pesquisadores em Portland, Oregon, como revelou a revista MIT Technology Review.
A reportagem é de Steve Connor, publicada por MIT Technology Review, 26-07-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
A tentativa, liderada por Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, envolveu a modificação do DNA de um grande número de embriões unicelulares com a técnica de edição de genes CRISPR, de acordo com conhecedores dos resultados científicos.
Até agora, os cientistas estadunidenses olhavam com uma mistura de assombro, inveja e alarme, já que investigadores de outros lugares foram os primeiros a explorar a prática polêmica. Até então, três estudos reportando a edição de embriões humanos haviam sido publicados por cientistas chineses.
Agora, acredita-se que Mitalipov tenha aberto novos caminhos tanto no número de embriões testados como na demonstração de que é possível corrigir genes defeituosos que causam doenças hereditárias de forma segura e eficiente.
Embora a equipe não tenha permitido que nenhum dos embriões se desenvolvesse por mais de alguns dias - e nunca houve a intenção de implantá-los em um útero -, os experimentos são um marco para o que pode revelar-se uma jornada inevitável rumo ao nascimento dos primeiros humanos geneticamente modificados.
Ao alterar o código de DNA dos embriões humanos, os cientistas pretendem demonstrar que é possível corrigir ou eliminar genes que causam doenças hereditárias, como a beta-talassemia, uma doença do sangue. O processo é denominado "engenharia de linha germinal", já que a criança geneticamente modificada transmitiria as mudanças para as gerações seguintes através de suas próprias células germinativas - o óvulo e os espermatozoides.
Alguns críticos dizem que experiências germinais podem abrir as portas para um admirável mundo novo dos "bebês desenhados", geneticamente melhorados - uma perspectiva à qual uma série de organizações religiosas, grupos da sociedade civil e empresas de biotecnologia se opõem fortemente. A comunidade de inteligência dos EUA considerou a técnica CRISPR uma potencial "arma de destruição em massa" no ano passado.
Contatado por Skype, Mitalipov não quis comentar os resultados, que segundo ele ainda não foram publicados, mas outros cientistas confirmaram a edição de embriões através da técnica CRISPR. "Até onde eu sei, será o primeiro estudo desse tipo nos EUA", diz Jun Wu, colaborador do Instituto Salk, em La Jolla, Califórnia, que participou do projeto.
Embora com alcance limitado, as publicações chinesas anteriores descobriram que a técnica provocava erros de edição e que nem todas as células do embrião tinham seu DNA modificado, apenas algumas. Esse efeito, chamado mosaicismo, pesou no argumento de que a edição da linha germinal seria uma maneira insegura de criar uma pessoa.
Porém, acredita-se que Mitalipov e seus colegas demonstraram de forma convincente que é possível evitar o mosaicismo e os efeitos não previstos, como são conhecidos os erros da CRISPR.
Uma pessoa que conhece a pesquisa diz que foram criados "muitas dezenas" de embriões humanos de FIV para o experimento, utilizando os espermatozoides doados por homens portadores de mutações de doenças hereditárias. Os embriões nesta fase são minúsculos aglomerados de células invisíveis a olho nu. A MIT Technology Review não conseguiu determinar quais genes portadores de doença foram escolhidos para a edição.
"Isso prova que pode funcionar. Eles reduziram significativamente o mosaicismo. Não acho que seja o início dos testes clínicos ainda, mas estamos mais perto do que nunca", disse um cientista que conhece o projeto.
O grupo de Mitalipov parece ter superado as dificuldades anteriores ao se "adiantar" e injetar CRISPR nos óvulos no momento da fertilização com os espermatozoides.
Esse conceito é semelhante ao testado em ratos por Tony Perry, da Universidade de Bath. Ele conseguiu editar o gene dos ratos quanto à cor do pelo, modificando o pelo da prole para branco ao invés de marrom, a cor esperada.
De forma um tanto profética, o artigo de Perry sobre a pesquisa, publicado no final de 2014, afirmava: "Esta abordagem ou abordagens similares um dia poderão permitir a edição e o targeting do genoma humano durante as fases iniciais do desenvolvimento".
Mitalipov, natural do Cazaquistão quando o país ainda fazia parte da antiga União Soviética, tem rompido barreiras científicas há anos. Em 2007, ele apresentou os primeiros macacos clonados do mundo. Depois, em 2013, ele criou embriões humanos através da clonagem como forma de criar células-tronco específicas. O avanço de sua equipe à edição de embriões coincide com um relatório da Academia Nacional de Ciências dos EUA (NAS) de fevereiro, considerado uma autorização para a pesquisa sobre modificação da linha germinal em laboratório.
O relatório também ofereceu apoio qualificado ao uso de CRISPR para a criação de bebês geneticamente editados, mas apenas se fosse empregado para a eliminação de doenças graves.
O comitê consultivo colocou limites sobre o melhoramento genético - como o aumento da inteligência. "A edição do genoma para aprimorar traços ou habilidades para além da saúde traz preocupações sobre se os benefícios podem compensar os riscos e sobre justiça, caso esteja disponível apenas para algumas pessoas", disse Alta Charo, co-presidente do comitê de estudo da NAS e professora de Direito e Bioética na Universidade de Wisconsin-Madison.
Nos Estados Unidos, qualquer tentativa de transformar um embrião editado por FIV em um bebê foi bloqueada pelo Congresso, acrescentando itens à lei de financiamento da Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos que proíbem a aprovação de testes clínicos.
Apesar de tais barreiras, podem haver tentativas de criar uma pessoa geneticamente editada a qualquer momento, inclusive por clínicas de FIV com sede em países onde não existam tais restrições legais.
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Primeiros embriões humanos modificados nos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU