O Papa Francisco diante do abismo

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29 Agosto 2018

O Papa Francisco se encontra à beira de um abismo. A hierarquia conservadora da Igreja não perdoou aquele que não tem almejado ser Papa. Que tem preferido ser, como Pedro, simplesmente, bispo de Roma. Despojou-se das insígnias que os imperadores romanos haviam emprestado aos Papas. E cometeu o pecado de querer voltar ao cristianismo das origens. A cúria quer, e já, um Papa de verdade.

O comentário é de Juan Arias, publicado por El País, 28-08-2018. A tradução é do Cepat.

O terremoto do grande escândalo da pedofilia praticada contra milhares de menores por eclesiásticos, inclusive da alta hierarquia, que se levava escondido vergonhosamente há dezenas de anos, sob a cumplicidade da Igreja oficial, acabou de explodir perigosamente nas mãos de Francisco. Não sabemos ainda até que ponto são credíveis as acusações que lhe são feitas acerca do que conhecia desse drama e não atuou com prontidão, mas foram suficientes para que aqueles que aguardavam o momento de lhe dar o golpe mortal, se aproveitassem pedindo sua renúncia. Foi apanhado cautelosamente.

É curioso que a hierarquia conservadora só tenha pedido a renúncia de dois Papas da era moderna. Os cardeais da cúria fizeram isso com João XXIII, quando anunciou o Concílio Vaticano II. Quiseram lhe depor como louco. Ele acabou ganhando a batalha. Hoje, tenta-se depor Francisco, justamente o mais parecido ao ancião Roncalli, considerado então mais como um pároco que como Papa. Faltava-lhe a pompa hierática de seu antecessor, o Papa Pacelli.

Francisco era acusado, já antes de vir o escândalo dos abusos sexuais, de querer ressuscitar a parte mais revolucionária do Vaticano II, de querer desburocratizar a Igreja a partir de suas origens. Agora tentam lhe envolver em um dos casos mais sujos da conduta de tantos eclesiásticos. Necessitará agora demonstrar com fatos, já que não bastam as simples condenações, que ele esteve e está ao lado das vítimas.

Necessitará fazer isso com fatos. Já não serão suficientes as condenações verbais. Precisa entender para isso que a força conservadora da velha cúria pode ser mais poderosa que sua vontade de remover alicerces da Igreja. Tem para isso que começar a quebrar as pernas dessas estruturas com reformas concretas, começando pela abolição do celibato obrigatório, a abertura à mulher no poder da Igreja, assim como aos leigos. E até se desfazer do velho esquema ranço da cúria.

Terá que ter a força, se for necessário, de convocar um novo concílio já que a Igreja acaba de fechar um ciclo neste momento. Tão grave que Francisco, um Papa que chegou a suscitar esperança e interesse não só na Igreja, mas fora de suas fronteiras por sua liberdade de espírito, corre o risco de acabar arrastado pela parte mais podre de uma Igreja que vive uma de suas grandes crises seculares.

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