23 Agosto 2018
O coração do Vaticano está fibrilando. À medida que nos aproximamos da viagem à Irlanda do papa Bergoglio e assomam no horizonte as nuvens negras formadas pelo dossiê (mundial) sobre a pedofilia, talvez para evitar o que já aconteceu no Chile, quando Francisco respondeu ao vivo à pergunta de um jornalista chileno ofendendo desajeitadamente as vítimas e obrigando-se, a seguir, a apresentar um pedido de desculpas, a sala de imprensa da Santa Sé, avisou a imprensa internacional que durante as saudações tradicionais previstas no voo de ida Roma-Dublin não serão permitidas perguntas espontâneas, muito menos selfies ou bênçãos gravadas com o celular.
A informação é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 22-08- 2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma medida de precaução. Para as perguntas permanece a conferência de imprensa do voo de regresso que, inevitavelmente, vai incluir as muitas questões em aberto a serem submetidos a Francisco sobre a luta contra os abusos e sobre o impasse ferrenho que agora transparece entre aqueles que consideram excessiva a atitude extremista do cardeal de Boston, Sean O'Malley, que nos últimos anos fez da tolerância zero uma bandeira, e quem, especialmente nos Estados Unidos, argumenta que não é possível agir sob o peso da pressão pública, que já existem normas canônicas e órgãos internos em condições de esclarecer o comportamento de muitos bispos no passado.
De fato, o tema da responsabilidade dos bispos e cardeais é tão delicado quanto é fonte de divisão. O cardeal de Washington Donald Wuerl, generoso patrocinador de muitos projetos do Vaticano, nos últimos dias chegou a cancelar sua presença em Dublin, no Encontro Mundial das Famílias (onde ele era aguardado para um importante discurso sobre o bem-estar) em aberto contraste com o que está acontecendo. A Diocese de Washington evitou explicar os motivos, embora o cancelamento de sua viagem seja facilmente relacionável à gestão papal do caso McCarrick, o cardeal norte-americano expulso do Colégio Cardinalício para uma velha história de abusos, aliás bem conhecida em vários níveis. Uma passagem que fez dizer à ex-primeira-ministra da Irlanda, Mary McAleese que a cultura do encobrimento "parece algo não só sistêmico, mas parte de um único comando, localizado no Vaticano".
O temor de que o Encontro das Famílias seja ofuscado pelo tema da pedofilia na Irlanda já é uma realidade. "Em todas as viagens nos países em que os abusos são uma realidade forte, o Papa se encontra com as vítimas."
E assim deveria fazer também em Dublin, explicou o Vaticano, embora sejam as próprias vítimas, se assim o quiserem, que decidirão o que tornar conhecido oficialmente. "Para o Papa é muito importante ouvi-las".
O que é oficial é que Francisco no próximo sábado vai rezar na Catedral de Saint Mary, em Dublin, onde há uma chama que arde ininterruptamente em memória de todas as vítimas. Dez anos atrás, um relatório do governo levantou a cortina de uma realidade horrenda. Violência, assédio, crueldade.
A ferida irlandesa continua difícil de ser curada.
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O ciclone dos abusos sexuais e a viagem para a Irlanda. No avião não se fazem perguntas ao Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU