13 Agosto 2018
Mujica pessoalmente, e Lula por carta enviada da prisão, estiveram no lançamento do novo livro de Nicolás Trotta, reitor da UMET, que também contou com a presença de Manuela D’Ávila, candidata a vice-presidente de Lula, Felipe Solá e o vice-prefeito de Barcelona, Pisarello.
A informação é publicada por Página|12, 11-08-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.
“Amigas e amigos reunidos em Buenos Aires que estão aprofundando os debates e as ideias, a batalha de vocês pela democracia me faz sentir mais forte porque sei que não estou sozinho, mesmo que tentem me isolar do povo brasileiro”. Estas foram as palavras do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, enviadas da prisão em Curitiba, e escolhidas para abrir o debate onde a universidade Metropolitana dos Trabalhadores (UMET) e o Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), apresentaram no Teatro del Globo, Latinoamérica piensa, o novo livro de Nicolás Trotta, reitor da UMET. Lula sabe do impacto que José Mujica causa em todos os lugares onde se apresenta, fato pelo qual também pediu a ele, seu “companheiro”, que transmita seu abraço aos participantes. A emoção se transformou, então, em um longo aplauso.
“Quero deixar claro a vocês que não vou desistir de ser candidato a presidente. A única hipótese para que não seja candidato é que possam apresentar alguma prova contra mim que justifique que eu continue preso por alguma razão. A outra possibilidade é que a justiça brasileira volte a passar por cima de nossa constituição e impugne a candidatura. A luta agora é para que o povo brasileiro volte a ser feliz”, concluiu a carta de Lula. Além do ex-presidente do Uruguai, o evento contou com a presença do deputado nacional Felipe Solá; Manuela D’Ávila, futura candidata à vice-presidência do Brasil; o vice-prefeito de Barcelona, Gerardo Pisarello, e os moderadores Pablo Gentili, secretário executivo de Clacso, e Trotta. Entre eles, debateram sobre os processos políticos do campo popular na América Latina e na Europa. E foi justamente Mujica que ligou esses processos com a necessária luta pela felicidade de cada um dos seres humanos, em particular os mais frágeis, e a mudança cultural que isso implica.
As expressões “Lula Livre” e “Marielle Franco presente” foram aclamadas e aplaudidas várias vezes durante o debate. Ao subir ao palco, D’Ávila saudou a todos com o punho erguido e mostrando seu lenço verde. Da mesma forma foram aplaudidas as militantes feministas que estiveram nas ruas no dia 8 de agosto, exigindo aborto legal, seguro e gratuito.
Trotta, o primeiro a falar, recordou as implicações negativas que o Consenso de Washington causou na região e refletiu sobre os avanços alcançados com os governos de Lula, Hugo Chávez, ex-presidente venezuelano, Fernando Lugo, ex-presidente do Paraguai e os governos de Néstor e Cristina Kirchner. “Até onde se pode chegar se não damos a discussão para o poder real?”, disse, convidando a pensar como superar os limites do desenvolvimento latino-americano. “O melhor está por vir se o construirmos juntos,” acrescentou. Seus companheiros reconheceram o desafio.
“A questão latino-americana não se racionaliza muito, se sente ou não se sente” enfatizou o deputado Solá, que depois acrescentou que o Mercosul foi uma decisão política para unir os países regionais. Em relação à atualidade territorial, Solá ressaltou que essas decisões políticas hoje não acontecem. “É um erro gravíssimo deixar de lado a Unasul”, concluiu.
Em seguida foi a vez do vice-prefeito de Barcelona, tucumano e filho de desaparecidos, que levou a luta pela memória, verdade e justiça até a cidade catalã, reivindicando pelas vítimas do franquismo. Pisarello foi promissor ao expor que em Barcelona conseguiram instalar um governo local, feminista e popular. “Há coisas que não nos perdoam. Não nos perdoam que estamos mostrando que há alternativas. Que não é certo que tenhamos que nos resignar diante deste neoliberalismo zumbi, que não faz mais nada do que se reciclar com as mesmas propostas que não solucionam nenhum problema das pessoas”, afirmou o vice, ao se referir à preocupação com uma Europa que tende a governos racistas e de extrema direita. “Um cenário que se parece ao dos anos 30 do século 20. Essa não pode ser nossa alternativa”, sentenciou.
Depois, Manuela pegou o microfone, ela que há poucos dias confirmou sua aliança com o PT na corrida de Lula pela presidência. Emocionada por estar ali dois dias depois da histórica jornada no Congresso Nacional, agradeceu ao movimento feminista argentino por liderar as lutas de mulheres em busca da ampliação de direitos. “As principais vítimas das políticas de Michel Temer são as mulheres e os jovens”, declarou. Em um castelhano fluído, afirmou que a tarefa hoje é defender as conquistas democráticas diante da direita golpista. “Se tiram do povo a possibilidade de eleger Lula, tiram do povo a possibilidade de aprofundar a democracia” pronunciou.
Mujica concluiu o evento com um discurso sobre o consumismo e a globalização. “Estamos próximos de um holocausto ecológico, vocês acreditam que uma civilização fundada no desperdício, com o objetivo de produzir ganância, não é perigosa para a espécie humana?”, interpelou os presentes o ex-presidente uruguaio, que explicou que se continuarmos com estes níveis de consumo, em 40 anos a metade da humanidade acabará como a África. “É preciso provocar uma mudança cultural centrada na felicidade dos seres humanos reais”, ressaltou, ao pedir um lugar determinante para os atingidos frente ao beco sem saída do consumismo. Mujica provocou, então, a luta pela democracia, mas, paralelamente, a luta pela vida. “Esta civilização pode ser infinitamente melhor, mas estão à solta forças que se não forem controladas irão nos fazer sucumbir”.
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