18 Julho 2018
"O processo constituinte na Catalunha terminará no dia 1º de setembro. Naquele dia eu vou voltar para a vida normal do mosteiro, cada vez mais convencida que o movimento catalão de independência da Espanha é uma oportunidade para aprofundar a democracia e enfrentar algumas questões fundamentais sobre a exclusão e o abuso social. Isso abriu os olhos de muitas pessoas sobre a natureza insuficiente da nossa democracia e sobre o fato de que no século XXI globalizado o poder político está sujeito ao poder econômico".
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 16-07-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Teóloga feminista e freira beneditina, Teresa Forcades há dois anos deixou a clausura para se envolver na política lutando pela independência da Catalunha. Mais um mês e ela vai voltar para o mosteiro onde vai continuar suas batalhas, mas de outra maneira.
Entre as escritoras mais lidas na Espanha, atuante contra o lobby das indústrias farmacêuticas, pelos direitos de gênero e do mundo LGBT, ela relata ao La Repubblica estes dois anos "fora dos muros" e os desafios do futuro, tudo com um olhar além das fronteiras espanholas. Sobre a Itália, por exemplo, Forcades tem ideias claras: "A Liga é um movimento de extrema direita. Todos os movimentos de extrema direita são perigosos para a democracia, porque são, por definição, autoritários, inimigos do pluralismo e desconfiados em relação ao pensamento crítico. Eu acredito que o sucesso generalizado do atual autoritarismo de extrema direita na Europa seja uma reação à frustração criada pela democracia capitalista: é impossível ter uma democracia política sem a democracia econômica. Não é possível esperar que alguém aja como um cidadão democrático responsável depois de passar dez horas por dia trabalhando em condições degradantes por um salário miserável. O livro ‘Hired’ de James Bloodworth abre os olhos nesse sentido, da mesma forma que ‘Il mondo deve sapere’ de Michela Murgia".
Para Forcades, o ideal político são as Nações Unidas, "mas não aquelas que temos hoje, com o direito de veto; nem a União Europeia que temos hoje, destinada a privilegiar os poderes econômicos".
"Os poderes econômicos – ela afirma - têm mais poder do que os políticos, mais poder que os eleitores. Isso eu considero como o principal problema".
Na Igreja, Forcades é uma figura questionadora sempre ativa. São muitos, de fato, os temas sobre os quais a Igreja se esforça para ter um olhar novo. Entre estes, a homossexualidade. O catecismo prega o acolhimento, mas, ao mesmo tempo, pede que as pessoas homossexuais vivam em castidade. Forcades afirma: "Acho que isso é profundamente desumano. Acredito que o casamento homoafetivo deva ser reconhecido como um sacramento, porque o que constitui o sacramento do matrimônio é o que este específico laço humano tem em comum com a vida da Trindade, e da vida da Trindade não tem relação nenhuma com a complementaridade de gênero ou sexual e nada a ver com ter filhos. A homossexualidade não é um problema; a homofobia sim."
E ainda: "Em algumas questões, tais como a justiça social, a doutrina da Igreja e algumas das suas práticas são proféticas e à frente do nosso tempo. Em outras questões, a Igreja é realmente atrasada. Particularmente é atrasada em relação à moralidade sexual (por exemplo, proibindo a contracepção), e em relação ao papel das mulheres, e acredito que isso seja, muito provavelmente, devido ao fato de serem somente homens celibatários que governam a Igreja."
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A última batalha da freira ativista: "Volto para a clausura” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU