12 Julho 2018
Que Bento XVI fosse um homem ocupado, mesmo no silêncio do mosteiro Mater Ecclesiae onde vive há cinco anos e meio, já tinha ficado claro quando ele recusou o convite para escrever o prefácio dos onze "volumes" sobre a teologia e filosofia do Papa Francisco que havia lhe sido solicitado por mons. Dario Edoardo Viganò, então prefeito da Secretaria (agora dicastério) das Comunicações.
"Tenho outros compromissos já assumidos", havia afirmado Joseph Ratzinger, confirmando que o estudo e a escrita ainda fazem parte de sua vida cotidiana junto, naturalmente, com a oração.
A informação é publicada por Il Foglio, 11-07-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Agora, em pleno verão, na revista Communio – fundada por ele, junto com Hans Urs von Balthasar e Henri de Lubac – está sendo publicado um ensaio com um título um tanto misterioso: 'Misericórdia e vocação sem arrependimentos'.
O Papa emérito faz uma reflexão sobre o diálogo católico-judaico e, em especial, se aprofunda na chamada "teoria da substituição", ou seja, que Israel não seria substituído pela igreja. Ratzinger escreve que essa ideia "nunca existiu como tal", afirmando que o judaísmo "não é uma religião entre outras", mas "está em uma condição especial, e como tal deve ser reconhecido pela igreja".
Bento XVI então se concentra em outro ponto, o da "aliança nunca dissolvida" entre Deus e os judeus. A fórmula remonta a João Paulo II e para o Papa Emérito hoje precisa de alguns esclarecimentos.
A tese "é considerada correta, mas em seus detalhes ainda precisa de muitos esclarecimentos e aprofundamentos. A fórmula da aliança nunca dissolvida - continua Ratzinger - foi certamente de grande ajuda para a primeira fase do novo diálogo entre judeus e cristãos, mas a longo prazo não é suficiente para expressar a grandeza da realidade de maneira suficientemente adequada".
O texto original, escrito no final de outubro do ano passado, não foi concebido para ser publicado, disse o cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, mas eventualmente - depois de alguma insistência - Bento XVI consentiu com a difusão do ensaio através das páginas da Communio.
Nem todos, porém, gostaram da nova manifestação do Papa emérito. "Não creio que seja muito sábio para um ‘Papa emérito’ publicar em revistas acadêmicas novos ensaios sobre delicadas questões teológicas", escreveu no Twitter o historiador do cristianismo Massimo Faggioli. Nos últimos anos, Ratzinger muitas vezes tem feito intervenções públicas, assinando prefácios para livros de amigos e antigos colaboradores (como, por exemplo, os livros publicados pelos cardeais Gerhard Ludwig Müller e Robert Sarah), outras vezes enviando mensagens de alguma forma ligadas a assuntos atuais, como no caso do texto entregue em Colônia para o funeral do cardeal Joachim Meisner, em julho do ano passado.
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Bento XVI retoma a caneta e escreve na "sua" revista Communio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU