05 Junho 2018
A Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro criou uma comissão nesta segunda-feira, 4, para apurar atos de racismo que teriam ocorrido no sábado e no domingo, dias 2 e 3, durante os Jogos Jurídicos Estaduais, em Petrópolis (RJ).
A reportagem é de Juliana Diógenes, publicada por O Estado de S. Paulo, 04-06-2018.
Relatos de estudantes nas redes sociais denunciam que a torcida da PUC-Rio teria jogado cascas de banana e gritado "macaca" para atletas de universidades adversárias. Os jogos jurídicos reúnem estudantes de Direito do Estado do Rio de Janeiro. Um relatório será elaborado pela comissão em 15 dias.
"Após tomar conhecimento, pelas redes sociais, de informações sobre atos de racismo possivelmente ocorridos durante os jogos jurídicos, a Vice-Reitoria para Assuntos Comunitários e o Departamento de Direito da PUC-Rio decidiram constituir Comissão Disciplinar para averiguação das informações e, caso confirmada a veracidade, a apuração e individualização das responsabilidades de membros do corpo discente", afirmaram em nota o vice-reitor comunitário Augusto Sampaio e o diretor do Departamento de Direito Francisco de Guimaraens.
Procurado, o Diretório Central de Estudantes (DCE) da PUC-Rio disse que está apurando as denúncias e não vai se manifestar até ter mais detalhes sobre os casos.
A comissão disciplinar será composta por Breno Melaragno, professor de Direito Penal, Job Gomes, professor de Direito do Trabalho e de Direito Desportivo, e Thula Pires, coordenadora do NIREMA (Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente) e professora de Direito Constitucional.
No texto divulgado, a PUC-Rio defende que o racismo é uma "violência que ainda corrói a sociedade brasileira" e que "deve ser enfrentado por medidas repressivas e inclusivas". A universidade destaca que combate manifestações de racismo com "punições disciplinares". "Preservaremos o esforço de contínua melhoria das políticas de promoção da diversidade e da igualdade racial em nossa Universidade", disse a instituição.
Segundo o movimento Jogos Sem Racismo, campanha organizada por universitários atletas de universidades do Rio, neste domingo, 3, a delegação da PUC - Rio foi protagonista de dois episódios de racismo. "No primeiro, após um jogo de Basquete Masculino, membros da delegação da PUC-Rio imitaram macacos para ofender estudantes da UERJ. Já o segundo consistiu em uma injúria racial destinada a uma atleta da UFF, em que membros da delegação da PUC - Rio chamaram-na de 'macaca' ", informou em nota divulgada no início da tarde desta segunda.
Neste sábado, 2, o movimento relatou que um jogador negro da Universidade Católica de Petrópolis (UCP) teria sido alvo de cascas de banana por uma componente da delegação da PUC-Rio. Os integrantes do coletivo Jogos Sem Racismo afirma ter solicitado à Liga Jurídica Estadual - organizadora dos jogos - uma punição.
"Acordamos no dia seguinte com a notícia de que, diante de um crime, a Liga havia punido a Atlética da PUC - Rio apenas com o compromisso de elaboração de uma breve nota, o pagamento de uma multa irrisória de R$500,00 e a suspensão da torcida", disse o movimento..
Diante dos episódios, o Jogos Sem Racismo, além dos coletivos negros Patrice Lumumba (UERJ), Caó (UFF) e Cláudia Silva Ferreira (UFRJ), pedem que os Jogos Jurídicos não tenham um campeão geral, que a PUC-Rio esteja suspensa pelo período de um ano - sendo afastada dos Jogos Jurídicos Estaduais de 2019 - e que a Atlética da PUC-Rio e a Liga se comprometam a realizar campanhas antirracistas para as torcidas.
Leia mais
- Resistência Viva. A luta de Zumbi e Dandara continua. Revista IHU On-Lie, N° 477
- Breves do Facebook
- USP adere cotas raciais, mas racismo ainda é determinante na academia
- "A Justiça reforça a segregação racial no Brasil"
- A Lei de Cotas é positiva para as federais? Duas opiniões
- Cotas técnicas: sucesso acadêmico e de integração
- Supremo Tribunal retoma julgamento sobre cotas raciais na faculdade
- Cotas sociais não promovem inclusão racial
- Universidade de São Paulo diz não às cotas raciais
- Brasil precisa mudar conceitos para acabar com racismo, diz professor
- Na USP, professor defende tese de que negros africanos tem QI menor que europeus
- 'Mercado exclui mais os negros do que universidade'
- No Brasil, negros morrem 2,6 vezes mais que os brancos por armas de fogo
- A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil, diz CPI
- 'Não vou falar com preto': executivo negro relata racismo no mundo corporativo brasileiro
- Negros e negras brasileiros que deveriam ser mais estudados nas escolas
- Brasil é 10º país que mais mata jovens no mundo; em 2014, foram mais de 25 mil vítimas de homicídio
- Choques, guerra de classes e apartheid social – o que temos pela frente
- Temer coloca o Brasil na rota do apartheid social
- Ser negra e mulher, a discriminação dupla no Brasil
- "Queremos o preto e o favelado no centro do processo decisório"
- "Negros não puderam viver luto pela escravidão"
- Movimento Negro: resistência e libertação
- A palavra herdada dos pais africanos
- A transformação do negro em ser errante. Entrevista especial com Kabengele Munanga
- Racismo explica 80% das causas de morte de negros no país. Entrevista especial com Rodrigo Leandro de Moura
- Negros e negras brasileiros que deveriam ser mais estudados nas escolas
- O racismo e a sonegação da história afrodescendente no Rio Grande do Sul. Entrevista especial com Jorge Euzébio Assumpção
- Pesquisa mostra como racismo se perpetua nas estruturas do poder
- O negro no Rio Grande do Sul: uma história de omissão e esquecimento
- Imigrantes negros que chegam ao Brasil deparam-se com 'racismo à brasileira', diz sociólogo
- A sub-representação dos negros na política brasileira
- Extermínio da juventude negra brasileira é maior do que mortes em guerra
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
PUC-Rio vai investigar casos de racismo envolvendo estudantes de Direito em jogos universitários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU