25 Abril 2012
"Com as cotas estimamos que, em 5 anos, foram incluídos mais negros/as nas universidades brasileiras do que nos 500 anos anteriores!", constata Frei David Santos OFM, frade franciscano.
Segundo ele, "a USP, UNESP, UNICAMP e grande parte das universidades públicas insistem na aplicação da meritocracia injusta. Por quê? A quem interessa?"
Eis o artigo.
Mais de 1600 instituições superiores de ensino particular já adotaram cotas para negros através do ProUni. Os cotistas estão com média acadêmica superior aos que pagam suas mensalidades! A Ação Direta de Inconstitucionalidade ADI 3330, em julgamento no STF, vai revelar esses dados de sucesso. Por que este grande sucesso? E a imprensa, por que não dá espaço para debater os motivos desta vitória inesperada?
Nas universidades públicas não é diferente. No julgamento no STF da ADPF 186 e do Recurso Extraordinário 597.285, contra a inclusão de critérios étnico-raciais, vamos provar que na UnB, UFRGS e em mais de 180 instituições superiores públicas que já adotam cotas para negros, brancos pobres e indígenas, estes, os cotistas, estão atingindo médias acadêmicas superiores aos eternos privilegiados da classe média, que podem pagar escolas e cursinhos caros!
Com as COTAS estimamos que, em 5 anos, foram incluídos mais negros/as nas universidades brasileiras do que nos 500 anos anteriores! No vestibular entram com notas baixas e, após um ano, tendo acesso à mesma estrutura educacional, os cotistas estão dando um belo show! Há cota para entrada, entretanto eles provam que não precisam de cotas para a saída! Com esforço próprio e mérito justo eles estão entre os melhores! Todo o Brasil é beneficiado com esta vitória!
Há o racismo institucional do Estado Brasileiro que precisa ser refletido e enfrentado. Vejam o texto no site www.educafro.org.br “Os sete atos oficiais que decretaram a marginalização do povo negro no Brasil”. As instituições particulares não ficam para trás, infelizmente. Vejam, por exemplo, a pesquisa do Instituto Ethos sobre “As 500 maiores empresas do Brasil e a inclusão”. Os dados são vergonhosos para uma nação tão fantástica como a nossa! Brancos e negros iremos dar as mãos e iremos mudar esta realidade!
O Partido DEM, que abre processos contra a terra dos Quilombolas e as cotas de justiça para os negros ingressarem nas universidades, atirou no que viu e está acertando no que não viu: no sistema injusto e arcaico chamado de “vestibular”. O FIM do atual modelo ultrapassado – esse é um dos principais serviços que a luta das cotas deixará como contribuição à fase “pós-cotas” na qual muito em breve entraremos. É preciso se rebelar contra o vestibular que é uma irresponsabilidade acadêmica dos conselhos universitários acomodados!
Um exemplo está na primeira pesquisa de desempenho acadêmico da UnB com os cotistas, na época concluintes da primeira turma: atingiram média acadêmica quase 30% acima dos “não-cotistas”! Por que a imprensa não informa estes dados positivos à sociedade?
As universidades que adotam cotas, após pressão da sociedade, estão apenas colocando em prática o artigo 3º da nossa Constituição: construir, garantir, erradicar, promover são linguagens verbais que indicam ação, movimento, um compromisso, um fazer! A Carta Magna exige postura corajosa dos que ocupam cargos de comando. Interpretar a Constituição usando-a contra as políticas que buscam a igualdade pode ser um vício de lugar social ou de insensibilidade jurídica.
O que explica este esplêndido desempenho dos cotistas? O Professor Michael J. Sandel, da mais importante universidade do mundo, HARVARD, em seu livro “JUSTICE” explica que o sucesso vem da capacidade destes jovens negros e brancos pobres em aproveitar com entusiasmo as oportunidades conquistadas, aqui, no nosso caso brasileiro, representadas pelas referidas COTAS, conquistadas pelo movimento negro e disponibilizadas para todos!
As universidades públicas, com seus “conselhos universitários” preguiçosos ou perversos, conscientemente não querem mudar seus métodos de seleção, por comodismo ou “compromisso de classe”, e selecionam mal. A isto Sandel chama de “meritocracia injusta”. É a atitude irresponsável que consiste em fechar os olhos para a realidade e, de maneira mentirosa, afirmar que o vestibular dá oportunidade igual a todos e seleciona os melhores. Isto é hipocrisia! Este erro consciente fez surgir a revolução silenciosa das cotas, que hoje é vitoriosa!
O vestibular seleciona os já selecionados: os que têm dinheiro no bolso para fugir do sistema público de ensino fundamental e médio e não precisam trabalhar e estudar ao mesmo tempo! Em suma, o vestibular é a principal engrenagem, hoje, que perpetua a exclusão. A USP, UNESP, UNICAMP e grande parte das universidades públicas insistem na aplicação da meritocracia injusta. Por quê? A quem interessa?
A justiça se aproximará do seu ideal quando definirmos as cotas de outra forma: que a percentagem máxima de ingressos de alunos provenientes da rede particular de ensino seja a mesma dos que terminam o ensino médio: 12 por cento. Com isso, automaticamente definiremos que 88% das vagas seriam destinadas aos alunos da rede pública! Esta atitude irá revolucionar a rede pública e a melhora será fruto de uma pressão dos alunos estimulados pelo querer aprender e confiantes no seu futuro! Os alunos verão que as boas universidades públicas gratuitas estão a um passo de seus esforços e a seleção será mais justa, gerará mais credibilidade nos pobres. Falta coragem política aos governantes estaduais e federais para mexerem neste feudo: vestibular e vagas universitárias...
O movimento bonito e novo da luta pelas cotas está dando eficácia ao princípio constitucional chamado de IGUALDADE MATERIAL, jogando no lixo a igualdade preocupada apenas com o formal.
A afirmação do DEM, na ADPF 186, a respeito de que ...“não se pode responsabilizar as gerações presentes por erros cometidos no passado”... largamente questionada por Sandel, pode perfeitamente ser destruída com um simples argumento: poder-se-á, então, eternizar as consequências dos "erros" do passado??? Com exemplos contundentes SANDEL nos alerta sobre o nosso compromisso com o ontem, o hoje e o amanhã. A visão de Sandel é revolucionária! Assim que a juventude brasileira descobrir Sandel, vai reencontrar o sentido de lutar por um mundo melhor! Ele é o “Francisco de Assis” que escolheu como espaço de atuação o mundo acadêmico! É por este motivo que, por onde passa, arrebata multidões!
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