28 Mai 2018
A situação que os migrantes venezuelanos enfrentam no Brasil é preocupante, ainda mais se levarmos em conta o pouco apoio que têm dos órgãos do governo e a rejeição mais ou menos explícita de boa parte da população. Neste sentido, a Igreja Católica está realizando um grande esforço para ser um sinal de misericórdia para aqueles que foram forçados a deixar o seu país.
A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicada por Religión Digital, 26-05-2018. A tradução é de André Langer.
Um dos organismos da Igreja Católica que mais trabalha nesse sentido é a CEPEETH, Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano, que se reuniu em Brasília nos dias 23 e 24 de maio. O encontro tratou basicamente da situação dos migrantes venezuelanos, realidade que foi conhecida em primeira mão pela comissão em sua missão a Boa Vista – capital de Roraima, Estado que faz fronteira com a Venezuela e onde se concentra a grande maioria dos migrantes daquele país –, realizada entre os dias 1º e 4 de março.
Participaram do encontro representantes da Rede Eclesial Pan-Amazônica, Rede um Grito pela Vida, da Cáritas, Comissão Pastoral da Terra, Pastoral do Menor, Pastoral da Mulher Marginalizada, Catholic Relief Services, Comissão de Justiça e Paz, Pastoral dos Migrantes, Instituto de Migrações e Direitos Humanos, assim como o presidente da Comissão, dom Enemésio Lazzaris, o bispo do Marajó, dom Evaristo Spengler, e a secretária da Comissão, irmã Claudina Scapini.
Como assinala a irmã Roselei Bertoldo, representante da Rede Eclesial Pan-Amazônica, foram apresentadas as iniciativas e os desafios enfrentados pelos diversos organismos que integram a comissão, sendo compartilhados os avanços e dificuldades que estão ocorrendo no tocante ao tráfico de seres humanos dentro da conjuntura atual, que muda continuamente. Tudo isso com o objetivo de identificar o papel e como realizar a missão por parte da CEPEETH diante da crise da migração venezuelana no Brasil, especialmente a partir dos encaminhamentos decorrentes da missão realizada em março em Roraima, sendo definidas através de um plano de ação as tarefas de cada entidade presente.
Entre as iniciativas listadas estão diversos seminários, semanas e encontros de reflexão, formação de novos agentes para ajudar nesse campo, o trabalho diário de prevenção, orientação, fiscalização e denúncia que está sendo realizado com os migrantes, também nas fronteiras, a inclusão da questão do tráfico de pessoas nas comissões da Repam e do Sínodo Pan-Amazônico, assim como a articulação com a Rede Clamor, a Conferência Latino-Americana e Caribenha de Religiosos (CLAR) e a participação no recente Fórum Social Mundial.
A comissão percebe alguns desafios, como a necessidade de um trabalho em comum que fomente uma maior articulação entre as diferentes organizações e que permita avançar em alguns aspectos, como a criação de abrigos para migrantes, o combate ao contrabando e à exploração sexual e do trabalho de migrantes e refugiados, a falta de recursos humanos e financeiros, o reduzido compromisso eclesial, o crescente fortalecimento das redes de exploração de migrantes ou a situação político-social da Venezuela.
Além disso, o encontro serviu para conhecer as dificuldades desse processo, como a falta de líderes e sua pouca continuidade na condução dos trabalhos, a falta de visibilidade dessa problemática, a fragilidade das instituições públicas, o pouco diálogo e continuidade dos processos, a frágil coordenação com as pastorais sociais e organismos, o que leva a constatar um trabalho em guetos, o fato de que não foram efetivadas as ações propostas pelos órgãos governamentais, nem as políticas públicas a esse respeito.
Partindo desta realidade, o presidente da comissão, dom Enemésio Lazzaris, insistiu em que esta é uma presença efetiva, para a qual cada instituição representada traz uma força que nasce de suas diferentes realidades, destacando a credibilidade e a incidência que a própria comissão tem. Junto com isso, o bispo de Balsas denunciou a invisibilidade dos crimes praticados contra migrantes, pois são realidades silenciadas pelos grandes meios de comunicação.
Nesse sentido, não se pode ignorar que há cada vez mais realidades que gritam pelas ações da Igreja, segundo dom Lazzaris, pois se trata de urgências, clamores e gritos que se prolongam. Esta ação eclesial é decisiva na ausência de compromisso dos diferentes níveis de governo (federal, estaduais e municipais) que não realizam políticas públicas de ajuda aos migrantes. Essa é uma situação que se torna mais difícil diante da perda de direitos, da criminalização dos líderes e movimentos sociais no país.
A partir disso, o presidente da comissão insistia na necessidade de acompanhar melhor as ações propostas pela própria comissão, de manter-se informados sobre a situação dos migrantes e de outras realidades e de ter clareza sobre aonde se quer chegar.
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"Os crimes contra os migrantes no Brasil são invisibilizados" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU