10 Abril 2018
Usuários forjados no México, comandados do Chile e ativos na Espanha. Assim é a indústria das aparências que contaminou as redes sociais.
A reportagem é de Fernando Peinado e David Alameda, publicada por El País, 08-04-2018.
Um time da primeira divisão do futebol espanhol em má fase precisava levantar o moral da torcida, e para isso entrou recentemente em contato com o consultor digital mexicano Carlos Merlo, conta ele. Merlo diz que fabricou para o clube alguns torcedores de mentira graças à sua “fazenda” de usuários falsos do Twitter.
“Estavam mal e precisavam que os animássemos”, explica ele, por telefone, da Cidade do México. Merlo, de 29 anos, dirige a Victory Lab, uma empresa de consultoria de marketing digital que prosperou graças ao florescente negócio dos seguidores falsos e do spam político nas redes sociais. Merlo lembra que os torcedores fictícios publicavam mensagens do tipo “com você nos bons e nos maus momentos” e “somos mais que um time”.
Por trás da bolha das aparências que desvirtuou as redes sociais se esconde uma indústria integrada por empresas de consultoria e trabalhadores freelance. Esse setor nas sombras presta serviço a políticos, grandes corporações, artistas, esportistas, advogados, médicos, chefs e pequenos empresários. Alguns procuram inflar sua vaidade ou rechear sua carteira, aparentando uma falsa popularidade. Outros manipulam a opinião pública, lançando campanhas de desinformação. Eles se aproveitam do fato de que o público continua confiando em indicadores como o número de seguidores no Facebook ou no Twitter para medir a reputação.
“Eles usam seguidores falsos como alguém que usa uma camisa com um crocodilo”, diz Enrique San Juán, diretor da agência digital de Barcelona Community Internet.
Merlo, que começou trabalhando em 2006 como community manager do grupo de rock Molotov, afirma que agora trabalha para poderosos clientes políticos no México. Tem sob suas ordens uma equipe de jovens que criam as contas, programam conteúdo automático e às vezes interagem com usuários reais.
Outros protagonistas desse negócio trabalham de casa em seu tempo livre para ter uma renda extra. Eles publicam anúncios em lojas online, como Amazon e eBay, ou em sites de microsserviços, como Fiverr, OlimpoSEO e Por5pavos. Comprar 1.000 “curtidas” no Facebook custa apenas entre 5 e 20 euros (21 e 83 reais).
Não é muito dinheiro por um só serviço desse tipo, mas a demanda é enorme e, por isso, às vezes chove dinheiro. “Isso mudou a vida de muita gente”, diz Álvaro López Sepúlveda, um chileno que começou trabalhando em tempo parcial nesse mercado e agora se dedica plenamente a ele. Tem milhares de contas falsas no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube, e garante faturar em alguns meses mais de 2.000 dólares (6.700 reais) graças à sua carteira de clientes na Espanha, Colômbia, EUA e Chile, entre outros países.
A farsa funciona porque as redes sociais permitem medir o impacto de uma notícia ou o status de uma pessoa de forma rápida e acessível. “Em um ambiente de oferta acelerada de informação, os indicadores mais instantâneos têm maior notoriedade”, diz Antonio Gutiérrez-Rubí, assessor de políticos e empresários.
Nos últimos anos, ficaram conhecidos na Espanha alguns casos de anomalias nas redes graças, principalmente, à análise da visualização de big data. Os especialistas afirmam que esses casos são apenas a ponta do iceberg.
Soube-se, por exemplo, que a conta do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, no Twitter ganhou em apenas um dia 60.000 seguidores, muitos deles árabes, e que o líder do Partido Socialista Operário Espanhol, Pedro Sánchez, foi acusado de ter o apoio de uma rede de 80 contas que espalhavam spam político. Pessoas próximas aos partidos Podemos e Ciudadanos também foram apontados como suspeitas. E o que é ainda mais alarmante é que a propaganda russa a favor da independência da Catalunha foi impulsionada por milhares de contas de Twitter anônimas.
No mundo das grandes empresas, a Telefónica, a Sacyr, a Bankia, a Mediaset e o Real Madrid contrataram os serviços de uma fazenda de até 45.000 bots (contas automatizadas) e de uma rede de páginas de propaganda na Internet, controladas pelas empresas de reputação online Eico e Madiva. A revelação foi feita no âmbito da Operação Púnica, uma investigação em andamento contra a corrupção que já revelou como políticos do Partido Popular usaram dinheiro público para melhorar sua imagem. Para fabricar um “assunto do momento”, ou trending topic − colocar uma informação entre as mais vistas do Twitter −, essas empresas cobravam 6.000 euros (25.000 reais). Alguns contratos eram muito lucrativos, como o de 300.000 euros (1,2 milhão de reais) ao ano condicionado ao cumprimento de metas que firmaram com o Real Madrid, segundo o sumário do caso.
No campo do entretenimento, aspirantes a influenciadores espanhóis são capazes de enganar grandes marcas para assinar lucrativos contratos de promoção de seus produtos.
Em nível global, essa indústria subterrânea movimenta centenas de milhões de dólares, segundo algumas estimativas. Dois investigadores de cibersegurança italianos, Andrea Stroppa e Carlo De Micheli, estimaram em 2013 que o mercado dos seguidores falsos no Twitter tinha potencial para um negócio entre 40 milhões e 360 milhões de dólares (135 milhões e 1,2 bilhão de reais). Stroppa afirma que agora a indústria é muito maior. “Nos últimos cinco anos, o mercado disparou, principalmente pela demanda para seu uso na política”, disse ele ao El País.
Mas qual é a origem dos seguidores falsos que infestaram as redes? Como ocorre com muitos outros produtos, pouca gente sabe que costumam ter origem em países pobres, com poucos controles e muita mão de obra barata.
Muitos fabricantes de contas falsas atuam da China, Rússia, México, Filipinas e Tailândia, segundo investigadores e reportagens da imprensa. Isso ocorre porque nesses países eles contam com inúmeros funcionários dispostos a trabalhar por poucos dólares na criação manual das contas falsas. Assim, burlam os controles do Facebook, Twitter e outras redes sociais destinados a impedir que uma máquina crie milhares de contas falsas: cada novo usuário precisa fornecer um número de telefone, um endereço de correio eletrônico ou passar por um captcha (um teste visual).
Outra vantagem de alguns países é que as autoridades impõem menos controles sobre a venda de linhas de celular. As companhias telefônicas não exigem um documento oficial de identidade para comprar uma linha (diferentemente da Espanha, que faz essa exigência desde 2009), por isso esses fabricantes de contas podem comprar centenas ou milhares de chips de celular para usá-los na abertura de contas em redes sociais. O mexicano Merlo, da Victory Lab, afirma que compra os chips em grandes quantidades no mercado da Praça da Computação na Cidade do México, onde, segundo ele, cada um custa apenas 50 pesos mexicanos (9 reais). Ele disse ao El País que tem uma fazenda de 4 milhões de bots.
Essas empresas empregam jovens que levam cerca de três minutos para criar manualmente uma conta. Eles se revezam em turnos de dia e noite. Colocam o chip no celular, esperam que chegue a mensagem de texto da rede social com um código de ativação e em seguida o inserem no formulário de criação da conta. O usuário falso estará disponível no fim do processo. É possível criar contas fornecendo endereço de correio eletrônico, mas nesse mercado subterrâneo aquelas que são verificadas por telefone são consideradas mais resistentes a controles. Diferentes reportagens revelaram a existência de fazendas desse tipo nas Filipinas e em Bangladesh. Os trabalhadores dessas fábricas ganham salários tão baixos como 120 dólares (404 reais) ao ano.
Mas como essas empresas fazem para criar perfis de usuários ocidentais com outros idiomas? Para isso, assim como para tantas outras coisas, a Internet tem soluções. Há uma série de ferramentas na própria Internet que permitem que esses fabricantes criem perfis com dados pessoais falsos de diferentes nacionalidades. Por exemplo, em Fake Name Generator (“gerador de nome falso”) é possível gerar dados aleatórios de um homem ou uma mulher residente em 30 países distintos, incluindo Brasil, Espanha e Alemanha. Também há serviços que armazenam fotos de usuários que alegadamente cederam seus direitos de imagem, como Random User Generator (“gerador de usuário aleatório”). Merlo alerta que uma de suas linhas vermelhas que não podem ser ultrapassadas é o roubo de identidade de pessoas reais, um crime que já pôs muita gente em problemas.
Outra artimanha indispensável: as fábricas driblam os controles do Facebook e de outras empresas usando servidores proxy que fazem parecer que elas estão acessando a Internet de Manhattan ou de qualquer outro lugar que desejem.
Com o tempo, têm aparecido máquinas que substituem a mão de obra e são capazes de gerar milhões de contas em um só dia, usando números de telefone e endereços de correio eletrônico falsos. Mas, por esse motivo, tais usuários são mais vulneráveis às inspeções periódicas feitas por funcionários das redes sociais. “Essas empresas funcionam por volume. Investem mais na criação de um grande número de perfis do que na qualidade deles”, explica Omar Benbouazza, engenheiro de cibersegurança. Algumas delas têm um serviço mais caro, com perfis falsos de melhor qualidade, criados manualmente, acrescenta Benbouazza.
Merlo chama de “carne de canhão” seus usuários falsos mais frágeis. “São aqueles que usamos para insultar e atacar. Sei que são contas que serão perdidas, porque serão eliminadas” pelas equipes de monitoramento das empresas de redes sociais, afirma.
Apesar dessa fragilidade, foram criadas dessa forma grandes fazendas que passaram pelos controles das redes sociais. Uma legião de três milhões de usuários do Twitter criados em 22 de outubro de 2013 atuou sem ser detectada pela rede social durante mais de dois anos. Nesse período, esses usuários fictícios, com nomes em série como @sfa_2000000000, publicaram mais de 2,6 bilhões de tuítes.
Um dos fabricantes mais populares, o russo buyaccs.ru, tem um site básico em inglês e russo com um longo menu de ofertas de contas fraudulentas para diferentes tipos de redes sociais, assim como pacotes com milhares de endereços de correio eletrônico. Os preços variam de 0,2 dólar (70 centavos de real) a 350 dólares (1.180 reais). Um pacote de mil contas falsas de usuários espanhóis de Facebook vale 6 dólares (20 reais). Incluem fotos únicas e data de nascimento, segundo a oferta. São “contas muito sólidas, nas quais o Facebook confia”, prometem os criadores.
Os fabricantes nem sempre lidam diretamente com os compradores de seguidores e de curtidas. Há intermediários que compram um grande volume de contas falsas e as mantêm como se fosse um exército à disposição dos objetivos do cliente. Eles gerenciam essas contas com programas de administração de redes sociais no estilo do Tweetdeck, que permitem comandar dezenas de usuários falsos para que publiquem em massa uma mesma mensagem ou curtam publicações de uma pessoa específica. “Esses intermediários são os que obtêm os maiores benefícios”, assinala o investigador italiano Stroppa.
Há empresas de consultoria, como a norte-americana Devumi, que têm mais de 200.000 clientes (atores, esportistas, jornalistas), segundo uma investigação do jornal The New York Times. A Devumi tem um armazém de 3,5 milhões de contas falsas que fornece seguidores, curtidas e comentários a seus clientes. A empresa está sendo investigada judicialmente por roubar a identidade de pessoas reais.
A Devumi também tem clientes estrangeiros, como o crítico de cinema mexicano Jorge Báez, segundo documentos judiciais consultados pelo El País sobre um processo da Devumi contra um ex-funcionário. Báez, cuja conta no Twitter, @cuacarraquear, tem mais de 8.800 seguidores, comprou da Devumi 500 seguidores dessa rede social, segundo uma mensagem de correio eletrônico anexada ao processo. Na mensagem, Báez pede que a empresa devolva seu dinheiro porque os perfis que o seguem são do tipo ovo, ou seja, sem foto real: “Em seu site vocês garantem que seus usuários parecem reais e não são anônimos, mas eu ainda não recebi de volta meus dez dólares”.
Páginas da Internet com versões em espanhol, como Socialdek, oferecem seus serviços para o mercado hispânico. “Fazemos mágica”, promete essa página.
Os operadores mais sólidos têm equipes de pessoas que comandam as contas falsas. É aí que uma conta bot (100% automática) se transforma em “ciborgue” (na qual uma parte de suas mensagens é gerada automaticamente e outra, manualmente). Sabe-se da existência de fazendas desse tipo na Espanha (Eico e Madiva, investigadas pela Operação Púnica), Rússia (a Internet Research Agency, que divulgou propaganda a favor de Donald Trump na última campanha eleitoral à presidência dos EUA), China (o grupo 50 Cent, que divulga propaganda do Partido Comunista) e México (fazendas controladas pelo Partido Revolucionário Institucional na eleição presidencial de 2012).
Ter uma equipe humana controlando os perfis falsos é caro, mas é uma garantia contra as eliminações automáticas de contas feitas pelas redes sociais. No caso dos políticos e de outros poderosos interessados em influenciar a opinião pública, os serviços consistem em um “marketing digital de guerrilha”: comentários no Twitter durante os programas de debate político, fabricação de trending topics ou campanhas de difamação contra adversários políticos. “Um cliente me deu uma instrução muito clara: ‘quero que chore’”, revela Merlo, explicando que as campanhas sujas são um serviço popular. Uma ex-prefeita da cidade espanhola de Denia, Ana María Kringe, pagou supostamente com dinheiro público para difamar a oposição, segundo a investigação da Operação Púnica.
O assédio por parte de indivíduos ou fazendas que se escondem atrás de contas anônimas no Twitter é um problema que afeta não só políticos, mas também jornalistas. No caso espanhol, já foram ameaçados e assediados, entre outros, a jornalista de TV Ana Pastor e o diretor-adjunto do El País, David Alandete.
Os menores operadores desse mercado são freelancers com pequenas fazendas de bots. Como o investimento é baixo e não são necessários grandes conhecimentos técnicos, a entrada nesse mercado está ao alcance de praticamente qualquer pessoa.
Mas o negócio não é vantajoso para todos. Alejandro Romeral, um operador de caixa de supermercado de Guadalajara, Espanha, de 21 anos, diz que ganhou cerca de 150 euros (620 reais) em três meses com uma fazenda de 5.000 contas de Facebook. Prestou serviço para pequenas empresas locais e, quando recuperou o dinheiro investido, abandonou o negócio. “Não vale a pena”, afirma. “Você precisa ficar conhecido, senão ninguém te contrata.”
Romeral também reclama da concorrência existente na América Latina, disposta a trabalhar por preços muito baixos. Nas plataformas de microsserviços há muitos freelancers localizados na Venezuela, um país arruinado onde o salário mínimo não é suficiente nem para a cesta básica.
O chileno Álvaro López Sepúlveda, de 36 anos, conta que entrou no mercado digital em 2007 para melhorar o posicionamento de seus sites no Google. Em pouco tempo, com o auge das redes sociais, muita gente descobriu que maquiar seus números ajudava seu negócio a crescer. “Na Espanha, trabalhei com vários artistas que querem conquistar seu espaço no mundo da música”, afirma.
Um de seus clientes, o representante de músicos latino-americanos Jean Carlos Santos, contratou seus serviços para impulsionar a carreira de dois artistas de reggaeton. López Sepúlveda lhe forneceu milhares de seguidores no Instagram e de reproduções no YouTube. Logo chegaram os contratos para concertos em Madri, Barcelona e outras cidades, segundo Santos. “Ninguém quer contratar uma pessoa que não tenha curtidas, seguidores, reproduções etc., porque não acreditam nela”, disse Santos ao El País. “No mundo em que vivemos hoje, a percepção é até mais importante que a realidade”, acrescenta. “Se você se vende como um fracassado, vão conhecê-lo como um fracassado.”
O perigo dos bots para as redes sociais é que os usuários reais abandonem suas plataformas ante a impossibilidade de diferenciar entre um conteúdo genuíno e um falso.
Twitter, Facebook, Instagram e outras redes realizam limpezas periódicas de usuários fictícios. Estimativas independentes indicam que cerca de 48 milhões de usuários do Twitter são bots (15% do total). O Facebook reconhece que abriga mais de 260 milhões de contas duplicadas e falsas (10% do total). Já o Instagram estima que 8% de seus 800 milhões de usuários ativos sejam falsos.
Os críticos afirmam que essas redes poderiam fazer muito mais para livrar suas plataformas dos falsos seguidores. Mas argumentam que seu interesse financeiro as impede de fazer isso, já que sua cotização na Bolsa cairia com a redução abrupta do número total de usuários. Como exemplo da falta de vontade das redes, os especialistas lembram que elas só agem sob pressão. Quando jornais influentes fizeram investigações sobre o mercado dos usuários falsos, essas companhias realizaram intensas limpezas.
Um porta-voz do Facebook na Espanha diz que a empresa leva a autenticidade muito a sério. “Os likes criados por contas falsas ou por pessoas de má fé são ruins para os usuários do Facebook, para os anunciantes e para o próprio Facebook. Temos um forte incentivo para detectar, de forma agressiva, as pessoas por trás desses likes porque as empresas e as pessoas que usam nossa plataforma querem conexões e resultados reais”, afirma a fonte.
Parece que as redes sociais têm levado a sério o cerco contra essas contas falsas, a julgar pelas recentes medidas tomadas pelo Facebook e o Twitter. Ano passado, a empresa de Mark Zuckerberg anunciou melhoras em seu sistema de monitoramento, que se baseia no aprendizado de máquina (machine learning) para detectar atividade automática maciça. O Twitter anunciou em fevereiro que adotará medidas agressivas contra os retuítes e os likes falsos utilizando programas de gestão como o Tweetdeck.
Como consequência dessa nova política, o Twitter apagou algumas contas de influenciadores como a de @girlposts, que tinha mais de 10 milhões de seguidores.
Detectar personalidades públicas com muitos usuários falsos é fundamental para o negócio das agências de publicidade que fazem uma intermediação entre influenciadores e marcas. Cada vez mais, elas recorrem a ferramentas para caçá-los, como o Twitter Audit, o Fake Follower Check e o Botometer da Universidade de Indiana. O problema é que nenhum desses programas é 100% preciso. O Twitter Audit, por exemplo, baseia-se em critérios como o número de tuítes, a data do último tuíte e a relação seguidos/seguidores.
Para evitar erros, as agências de relações públicas espanholas estão implementando a prática de exigir dados privados de audiência dos influenciadores em redes como Instagram, como condição para fechar um contrato. “Infelizmente, muitos falsos influenciadores batem à nossa porta”, afirma Jacobo Zelada, responsável pela área digital da Apple Tree, uma consultoria internacional com sede em Barcelona. “Já tivemos alguns casos descarados. Que um madrilenho tenha muitos seguidores na Indonésia e na Turquia é bastante suspeito.”
Rafaela Almeida, CEO da agência de marketing e relações públicas Blanz, afirma: “Esses controles são uma tarefa fundamental antes de realizar qualquer campanha, pois oferecem um filtro para as marcas.”
Também é útil fazer uma análise visual da conversa digital do Twitter. Quando aparecem grupos de usuários que não interagem com os demais, podemos suspeitar que se trata de uma fazenda de bots. Ferramentas e detecção visual são usadas por ativistas que denunciam o spam político, como o das redes russas que agiram na Catalunha.
Nem sequer algumas dessas análises são capazes de provar, de maneira contundente, a culpa do suspeito. É o que adverte Enrique Ávila, chefe de segurança da informação da Guarda Civil espanhola. “No ciberespaço, todas as evidências são indiciárias”, afirma. “Como você pode garantir que os bots por trás de retuítes de um determinado candidato não foram comprados por um adversário político?”
Os críticos propõem que as redes sociais exijam maiores controles. Por exemplo, a apresentação de um documento de identidade oficial como requisito indispensável para a criação de uma conta.
“Uma opção muito simples seria mandar e-mails ou SMS de confirmação da conta após certo período de tempo, de forma aleatória”, sugere o ciberespecialista Benbouazza.
Em meio a essa batalha, alguns perderam a fé nas redes sociais. Uma fonte do PSOE, conhecedora da estratégia digital do partido, acredita que a bolha da desinformação está a ponto de estourar. “Os partidos estavam prestando bastante atenção no Twitter e nas redes sociais até há muito pouco, mas acho que estamos agora diante de um ponto de inflexão”, afirma.
Quem cancelou sua conta foi um dos especialistas em informática da Eico, a empresa que criava contas falsas envolvida no escândalo Púnica. Ele revelou a este jornal que não acredita em nada do que vê nas redes sociais. “Nem sequer tenho uma conta no Twitter depois de tudo o que vi."
Os bots distorcem boa parte do conteúdo que vemos na Internet. Além das redes sociais, já se detectou o uso fraudulento dessas máquinas para:
Claro que também existem bots benignos de atendimento ao cliente, que as grandes empresas usam para vender pizza e passagens aéreas, por exemplo. São tantos os tipos de robôs na Internet que Gregory Maus, especialista em informática da Universidade de Indiana, publicou uma tipologia.
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O mercado global das curtidas falsas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU