05 Fevereiro 2018
Um telefonema de Francisco a Pedro Casaldáliga, por ocasião de seus 90 anos, seria a “ligação do padre, do amigo, do Papa dos pobres, do Francisco da primavera pela qual Casaldáliga entregou sua vida inteira”, escreve o vaticanista espanhol José Manuel Vidal.
“Telefone a Casaldáliga, Santidade! Ele merece!”, conclui, em carta aberta publicada por Religión Digital, 03-02-2018. A tradução é do Cepat.
Querido Papa Francisco,
e quanto ao “querido” não é uma mera cortesia. Recordo que quando tive a sorte de cumprimentá-lo, após conversar sobre diversos temas, nos despedimos, beijei o seu anel, você foi saindo e eu fiquei ali, sozinho, no meio do corredor da Casa Santa Marta, tão emocionado que, de repente, senti uma moção interior e me vi direcionando a você e dizendo: “Santidade, eu te amo!”. Uma declaração de amor que saiu do fundo de minha alma e sem passar pela peneira do controle mental. Surpreendido por meu próprio gesto, tranquilizou-me ver que você se voltou e sorrindo (não sei se de gratidão ou comiseração) respondeu: “Eu também te amo”. E, durante alguns segundos, voltei a flutuar.
Baseado nesta declaração de amor pública e recíproca, atrevo-me a lhe pedir uma coisa: que faça um telefonema a Pedro Casaldáliga pelos seus 90 anos. Seu aniversário é no dia 16 de fevereiro. Certamente, possuem o número de seu telefone em algum escritório da Santa Sé. Ou seu amigo, o cardeal Hummes, que recentemente o visitou em sua casa, em São Félix. Ou é possível solicitar a Félix Valenzuela, a Ivo ou a José de Jesús Saraiva, três dos agostinianos que cuidam e atendem as obras que ‘o profeta do Araguaia” pôs em marcha e segue animando, sentado em sua cadeira e com a cabeça inclinada pelo “irmão Parkinson”.
Até eu mesmo o tenho e, caso me peça, realizaria o sonho de voltar a cumprimentá-lo... e reiterar meu carinho pelo que você é e representa nesta Igreja do Vaticano II que renasce de sua mão.
Um telefonema no dia 16 (ou antes ou depois, também não é necessário exagerar) seria o melhor presente de aniversário que Casaldáliga poderia ter e, por extensão, seus amigos (que são muitíssimos) e seus admiradores-seguidores, que são uma legião em todo o mundo.
Um telefonema para uma homenagem merecidíssima. Acredito que é possível dizer, sem medo de exagerar, que ninguém merece isso mais que ele. Não existe nenhum religioso vivo que mereça isso mais que ele. Possui tudo. É um santo vivo, daqueles que se tornaram santo com e apesar de seu forte caráter, o que traz mais mérito.
Pedro Casaldáliga (Fonte: Religión Digital)
É certo que, como bem sabe, a questão das devoções é algo muito particular, mas o que ninguém pode negar é que Casaldáliga é um profeta. O último profeta vivo. Do porte de Helder Câmara e de dom Romero, eu me atreveria a dizer. De fato, foi o primeiro a profetizar e a canonizar “São Romero da América” e a elevá-lo aos altares do povo latino-americano, quando as autoridades receavam e o faziam passar pelo que você mesmo chamou de “duplo martírio”.
Santo, profeta e bispo dos pobres. Desses bispos com cheiro de ovelha que tanto lhe agradam. E, além disso, sempre foi assim. E em tempos nos quais essa forma de ser pastor não era seguida. Inclusive, era muito desprezada. Tão desprezada que, das alturas vaticanas, era reprovado, recebia bronca, era marginalizado e impossibilitado... lá, em sua mata. Foi um bispo do Vaticano II com todas as consequências. A serviço de uma Igreja-povo (de verdade, não só retoricamente) e dos mais pobres dos pobres: índios, negros, camponeses...
Um bispo sem mitra e sem báculo. Bom, sim: Sua mitra, um chapéu de sertanejo; seu báculo, um remo, seu anel, de tucum. Sua casa sempre aberta para qualquer pessoa, sua vida exposta. Pela libertação dos seus, muitas vezes, esteve fisicamente em perigo vital real. Talvez não o mataram, porque, como diz o salmo, os anjos lhe protegeram, porque é tocado pelo dedo de Deus que escuta e sente o clamor de seu povo oprimido.
Fonte: Religión Digital
Um bispo único, especial, da estirpe dos grandes bispos latino-americanos: Arns, Lorscheider, Câmara, Romero, Méndez Arceo, Samuel Ruiz, Pironio, Angelelli, Gerardi, Proaño... Boa colheita de mitrados sem mitra. Daqueles que nunca foram funcionários do sagrado, daqueles que conquistam o coração das pessoas, daqueles que se entregam de verdade como o grão de trigo. Daqueles que permanecem.
Porque a Casaldáliga, apesar de ter militado pela causa dos pobres durante toda a sua vida, a militância não o atirou, não o cansou, não o derrubou. Segue aí, fiel a suas causas, que, como sempre diz, “valem mais que minha vida”. Dom Pedro sempre esteve no mesmo sulco (o do Vaticano II), sempre arou com os mesmos bois (os da teologia da libertação), sempre rezou com sua mística encarnada.
Porque, além de santo, profeta e bispo dos pobres, Casaldáliga é um grande poeta. Um poeta místico. Um poeta que o próprio Leonardo Boff compara a ninguém menos que São João da Cruz. Seus poemas nos despertam, sacodem nossas entranhas, nos agitam por dentro, nos elevam a Deus e nos lançam à ação. Poesia mística para a ação.
Fonte: Religión Digital
Santidade, tenho certeza que você sabe tudo isso e mais a respeito de Casaldáliga. Por isso, há algum tempo, você disse: “diga a Dom Pedro que o carrego no coração”. Seu telefonema (ou sua carta) seria mais uma forma de fazer essa demonstração. A ele e a muitos outros que, na Igreja, o reconhecemos como uma referência, um ícone, que merece já em vida a reabilitação do Papa e o especial reconhecimento de Francisco.
Não posso me colocar como representante de ninguém, mas, sim, posso lhe assegurar que em Religión Digital chegam milhares de sugestões e pedidos de reabilitação de Casaldáliga, para que nós as transmitamos. Desde simples cristãos de base, a personagens tão conhecidos e queridos como o Padre Ángel, fundador dos Mensageiros da Paz.
Uma enxurrada de solicitações que você pode satisfazer com um simples telefonema. A ligação do padre, do amigo, do Papa dos pobres, do Francisco da primavera pela qual Casaldáliga entregou sua vida inteira. O Papa ao qual se refere como ‘bênção de Deus’. Telefone a Casaldáliga, Santidade! Ele merece!
Para aqueles que queiram se somar a este pedido, criamos a hashtag #papallamaacasaldaliga
Fonte: Religión Digital
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Santidade, telefone a Casaldáliga por seus 90 anos! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU