Por: Lara Ely | 21 Dezembro 2017
Um argentino sob análise de outro. Isso é o que irá ocorrer durante o XVIII Simpósio Internacional IHU. A virada profética de Francisco, quando a doutora em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Católica Argentina Emilce Cuda versar sobre a Teologia do Povo do Papa Francisco.
Em sua obra lançada em 2016 “Para ler Francisco”, ela se refere ao papa como profeta e pastor que desmascara as causas da pobreza. Ela diz que “seus gestos atraem o olhar internacional sobre o pensamento teológico, ético e político latino-americano e argentino, e ao mesmo tempo levanta questões difíceis de responder”. Responsável pelo prólogo do livro de Cuda, o teólogo argentino Juan Carlos Scannone também será conferencista no simpósio.
Membro da rede internacional de teólogos, Emilce é uma das mulheres que ocupou espaço na teologia ética católica. Sua tese de doutorado foi sobre a relação entre catolicismo e democracia nos Estados Unidos. Depois, estudou o populismo na Argentina e Brasil com o filósofo Ernesto Laclau.
Segundo afirmou o jornalista Austen Ivereigh em reportagem publicada no IHU On-Line, Emilce Cuda é "a mulher que sabe como ler o papa", e ela é especial por uma série de razões. Primeiro, é teóloga na Pontifícia Universidade Católica de Buenos Aires, o “think tank” deste pontificado, e como o seu reitor e o vice-reitor é uma seguidora da escola de teologia do “povo”, tornada famosa por Francisco. Por muitos anos, ela estudou sob o seu mais conhecido pioneiro, o Pe. Lucio Gera.
Depois, há o fato marcante de ser mulher leiga numa área dominada pelo clero. Ainda, soma-se a isso a ideia de Cuda ser a primeira leiga a ter um doutorado em teologia pela citada pontifícia universidade, o que leva pelo menos 15 anos. É uma pessoa próxima a Dom Victor Manuel Fernández, reitor da Pontifícia Universidade Católica de Buenos Aires, e se descreve como uma “católica alinhada e obediente” que segue de perto Francisco.
Em entrevista publicada no sitio do IHU On-Line nesta última quarta-feira, 20-12-2017, Ivereigh repercute a recém publicada obra Jorge Mario Bergoglio. Una biografia intelettuale, de outro grande autor de papa Francisco, o filósofo italiano Massimo Borghesi. Como o maior conhecedor, em nível mundial, da biografia e da vida de Jorge Mario Bergoglio, o jornalista diz que "o fato de Francisco não ter um background acadêmico formal não tira o fato de que seja um pensador profundo e sistemático. Como explica o próprio Borghesi, a simplicidade das maneiras e da comunicação do Papa é uma simplicidade que vai além da complexidade. Ela pode ser tão direto apenas porque uma longa reflexão preparou as suas declarações".
Em entrevista ao site Página 12, ela afirma que “o Papa conseguiu um consenso mundial incrível. Está na imprensa todos os dias pelas coisas que diz. Verdade que tem opositores, mas também é verdade que tem uma grande legitimidade, não só entre os católicos senão entre os não católicos”.
Sobre o papado que inspirou seu livro, Emilce faz a seguinte análise: para ela, o Papa não está rompendo todas as tradições da Igreja, como muitos dizem. Ele representa uma continuidade no melhor dos sentidos.
“Está voltando aos princípios fundamentais do cristianismo, a importância ao homem, ao seu sofrimento e perdão. Define seu discurso como contemporâneo, ameno e simples, uma vez que “se faz entender por todos. Antes as encíclicas eram quase incompreensíveis para as pessoas em geral. Agora não há lugar para dúvidas, o Papa é completamente claro", diz.
Seu livro não pretende dar respostas, mas sim ferramentas para ler Francisco do ponto de partida da teologia, filosofia e política latino-americana. Na obra, a escritora argumenta que é importante não ignorar que sua origem é a Argentina e América Latina, e que sua formação é jesuíta clássica e moderna, além de universal e concreta. "Agora Bergoglio é Francisco, o Papa de toda a Igreja Católica, para crentes desafiadores e não-crentes", complementa.
Sobre o antagonismo que enfrenta de setores mais conservadores da Igreja, ela define como uma oposição natural, existente em qualquer instituição. Mas diz que, como alguém que ganhou legitimidade popular, é muito difícil que seja derrotado.
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Para teóloga argentina, Francisco é consenso mundial - Instituto Humanitas Unisinos - IHU