04 Dezembro 2017
Quando a primeira onda de imigrantes do Bangladesh chegou aos Estados Unidos, nos anos 70, muitos deles foram para Astoria, Queens - um dos bairros com maior diversidade de imigrantes em Nova York.
A reportagem é de Christopher White, publicada por National Catholic Reporter, 02-12-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Hoje, os olhos do mundo estão voltado ao seu país, quando o Papa Francisco fecha sua visita de seis dias a Mianmar e Bangladesh. Embora a comunidade imigrante esteja mais preocupada com seus próprios assuntos e não pareça ter conhecimento da presença do Papa em sua terra natal, quando ficaram sabendo, eles tiveram opiniões fortes sobre o que o Papa deveria dizer e fazer.
Na noite do primeiro dia de Francisco no país, me aventurei ao Boishakhi, um conhecido restaurante bengalês no bairro Queens, que agora é o lar da maior comunidade de bengaleses nos Estados Unidos. Depois de falar com uma dúzia de pessoas, descobri que a grande maioria desta amostragem aleatória não sabia da viagem do Papa, o que não os impediu de opinar ao perceber que a presença do pontífice no Bangladesh poderia causar alguma mudança.
Primeiro, me aproximei de uma mesa com oito homens, que gentilmente me convidaram para sentar e tomar uma xícara de chá. Após uma breve pesquisa com o grupo, apenas um sabia da viagem de Francisco ao Bangladesh.
"Acho que li sobre isso no jornal, mas não sabia que era agora", disse.
"Bem, agora que sabe que ele está lá, o que espera que ele diga ou faça?", perguntei.
Os homens se olham e empurram o membro mais carismático do grupo para falar. "O inglês dele é o melhor", insistiram.
"Vou dizer não o que eu espero, mas o que eu acho que vai acontecer", começou Mahfuz, que preferiu dar apenas o primeiro nome.
"Acho que ele vai falar sobre o desastre humano do momento”, disse, "sobre a população de muçulmanos erradicada, brutalmente estuprada e brutalmente assassinada".
Mahfuz, que tem 49 anos e chama os Estados Unidos de lar há 24 anos, do nada, imediatamente entrou no mesmo assunto que foi o foco desta visita papal.
A crise dos muçulmanos rohingya - mais de 600.000 fugiram de Mianmar para escapar da limpeza étnica e buscar refúgio em Bangladesh nos últimos três meses - dominou a viagem de Francisco e as manchetes internacionais na semana passada.
"Precisamos de uma ação real", disse Mahfuz. "O Papa tem um grande poder para influenciar os poderes mundiais a colocar pressão sobre Mianmar."
Ainda que os companheiros de jantar estejam em silêncio, todos concordam com a cabeça.
"Devemos lembrar o que aconteceu em Ruanda, e isso tem de parar”, acrescentou. "Lembre-se da Carta das Nações Unidas. Se um país não puder mais controlar o que está acontecendo, já não é mais apenas problema dele".
Então, digo que o Papa visitou Mianmar pela primeira vez antes de viajar para Bangladesh e que alguns criticaram Francisco por não ter identificado os rohingya pelo nome especificamente.
"Para nós, tudo bem o Papa não ter usado a palavra rohingya", respondeu Mahfuz, "desde que diga que eles são seres humanos e que isso tem de acabar".
Depois, falei com a gerente do restaurante - que, depois de perguntar se eu não queria outra porção de peixe e samosas vegetarianas, sentou-se para falar comigo.
Novamente, ela não sabia das viagens do Papa. "Aquele da Itália?", perguntou, surpresa.
Quando sondei mais a fundo para ver se ela tinha quaisquer expectativas para a visita, ela ficou perplexa, mas depois acrescentou, "ele será muito bem-vindo ao nosso país. Temos pessoas de todas as religiões e origens”.
"Estará calor, mas espero que ele desfrute do clima", acrescentou.
Na sexta-feira, Francisco encontrou-se com um grupo de 16 refugiados muçulmanos rohingya, em Bangladesh, e pediu perdão pela "indiferença do mundo" à sua situação e, pela primeira vez na viagem, referiu-se a eles especificamente pelo nome.
"A presença de Deus hoje também se chama rohingya", disse Francisco.
Refletindo sobre o poder das palavras papais, Mahfuz recordou o desmoronamento de um edifício comercial de cinco andares em Dhaka, capital de Bangladesh, em 2013, que matou 1.134 pessoas e feriu outras quase 3.000.
Na época, Francisco censurou fortemente as condições de trabalho e pediu uma mudança estrutural.
"Uma manchete que realmente me surpreendeu na época da tragédia em Bangladesh foi 'Vivendo com 38 euros por mês' ", disse o Papa. "Isso é trabalho escravo. Hoje, no mundo, esta escravidão está sendo cometida contra algo lindo que Deus nos deu - a capacidade de criar, trabalhar, ter dignidade. Quantos irmãos e irmãs encontram-se nesta situação! Não pagar o suficiente, não dar emprego porque só se olha para o balanço, só se olha para maneiras de lucrar. Isso vai contra Deus!"
"As coisas mudaram desde então. Nenhum outro edifício desabou, há mais verificações e o país está melhor", disse Mahfuz.
"Quando o Papa fala, suas palavras são levadas a sério. Nós o saudamos por querer trazer a paz."
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Estadunidenses Bengaleses não sabem da viagem do Papa, mas esperam que ele traga paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU