20 Novembro 2017
Não existe, hoje em dia, um sábado maçante em Roma, com o Papa Francisco e os departamentos vaticanos a pleno vapor, talvez energizados pela primavera que a Cidade Eterna vive neste mês de novembro.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 18-11-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Entre outras coisas, Francisco proferiu um discurso elogiando o seu antecessor, o Papa Emérito Bento XVI; enviou uma mensagem a um congresso assistência à saúde realizado em Roma, lembrando as empresas farmacêuticas do direito ao acesso ao tratamento básico ou necessário; e nomeou o secretário para o próximo Sínodo dos Bispos sobre a juventude.
Ele também teve reuniões privadas com o Cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos; com o cardeal de Myanmar Charles Maung Bo, na dianteira da visita que fará ao país; e com o Cardeal Jaime Ortega y Alamino, emérito de Havana, Cuba.
Discursando à sessão plenária do Pontifício Conselho para a Cultura, o Papa Francisco elogiou as realizações dos avanços científicos e tecnológicos, porém advertiu que os desenvolvimentos na área, como em qualquer atividade humana, devem ter limites, inspirados por um senso de responsabilidade ética.
“Permanece sempre válido o princípio de que nem tudo o que é tecnicamente possível é eticamente aceitável”, disse Francisco.
“A ciência, como qualquer outra atividade humana, sabe que tem que respeitar certos limites para o bem da humanidade e precisa de um senso de responsabilidade ética”, disse, acrescentando que, nas palavras do Beato Paulo VI, a verdadeira medida do progresso “é a que visa o bem de cada homem e de todos os homens”.
A plenária de 15 a 18 de novembro, intitulada “Futuro da humanidade: novos desafios para a antropologia”, aconteceu no antigo salão sinodal do Vaticano. Entre os 54 participantes estiveram o Cardeal Gianfranco Ravasi, que dirige o departamento, membros e consultores do Pontifício Conselho.
Entre os tópicos discutidos durante a assembleia estavam medicina e genética, neurociência e o progresso das máquinas autônomas e pensantes. Estes, disse Francisco no começo de sua fala, têm levado alguns a crerem que o mundo está “num momento singular na história da humanidade, quase no alvorecer de uma nova era e do nascimento de um novo ser humano, superior ao que conhecemos até agora”.
Na verdade, continuou ele, as questões e os problemas “que estamos enfrentando são grandes e sérios”, e foram “parcialmente antecipados” pela literatura e filmes de ficção científica.
“Por este motivo, a Igreja, que cuidadosamente segue as alegrias e esperanças, a angústia e os temores das pessoas do nosso tempo, quer pôr a pessoa humana e as questões que a preocupam no centro de suas reflexões”, disse o papa.
Na ocasião da apresentação do Prêmio Ratzinger pala Fundação Vaticana Joseph Ratzinger-Bento XVI, concedido anualmente, Francisco afirmou que a obra e o magistério de seu antecessor “continuam sendo uma herança viva e preciosa para a Igreja e para o nosso serviço”.
Os premiados deste ano são o teólogo luterano Theodor Dieter, o padre Karl-Heinz Menke e o músico Arvo Pärt.
“Joseph Ratzinger continua sendo um mestre e um interlocutor amigo para todos os que exercem o dom da razão, a fim de responder à vocação humana em busca da verdade”, disse Francisco em italiano.
“A verdade de Cristo”, continuou, “não é só para solistas, mas é sinfônica”. Requer colaboração e partilha.
Buscar, estudar, contemplar e traduzir a verdade na prática, junto com a caridade, irá atrair os que assim o fazem em plena união. “A verdade se torna uma fonte viva de elos de amor cada vez mais íntimos”.
Recentemente, o prêmio foi estendido para incluir um recipiendário do mundo das artes, além das categorias tradicionais de teologia e ciências. Esta decisão, segundo Francisco, “corresponde bem à visão de Bento XVI, que tantas vezes nos falou de maneira tocante sobre a beleza como um caminho privilegiado para nos abrir à transcendência e encontrar Deus”.
Em particular, o papa observou a sensibilidade de seu antecessor na música. Encerrando a cerimônia, Pärt tocou “Pater noster” no antigo piano de Bento XVI.
O direito à assistência à saúde é uma questão de justiça, e deve ser garantida, disse Francisco em mensagem enviada ao XXXII Congresso Internacional “Enfrentar a Disparidade Global em Matéria de Saúde”.
Ao ver as desigualdades mundiais no acesso à assistência à saúde, e os fatores subjacentes a isso, “a Igreja não pode ficar indiferente”, disse Francisco. “Consciente de sua missão a serviço dos seres humanos criados à imagem de Deus, ela se obriga a promover a dignidade e os direitos fundamentais deles”.
O papa também elogiou o lançamento de uma plataforma online pensada para conectar os cerca de 116 mil hospitais, clínicas e dispensários católicos ao redor do mundo.
“Uma organização de assistência médica eficiente e capaz de enfrentar as desigualdades não pode esquecer a sua razão de ser, que é a compaixão: a compaixão dos médicos, enfermeiras, equipes de apoio, voluntários e todos os que são, pois, capazes de minimizar a dor associada com a solidão e ansiedade”, disse o papa em sua mensagem.
Ele definiu compaixão como um “modo privilegiado de promover a justiça”, já que a empatia com os outros “nos permite não só entender suas lutas, dificuldades e medos, mas também descobrir, na fragilidade de cada ser humano, o seu valor único e a sua dignidade”.
A compaixão, continuou, é ensinada na passagem do Evangelho em que Jesus ensina a parábola do Bom Samaritano que vê uma pessoa na rua, a qual havia sido despojada e ferida, e “é tocado pela compaixão”.
Essa compaixão, disse Francisco, é mais do que piedade ou pesar, ela “mostra uma prontidão a se envolver pessoalmente na situação alheia”. Muito embora jamais podemos se igualar à compaixão divina, explicou o papa, “nós podemos imitar esta compaixão ‘nos aproximando’, ‘fechando as feridas’, ‘aliviando as dores’ e ‘cuidando’ do próximo”.
O papa encerrou a sua carta endereçada a empresas farmacêuticas reunidas em Roma, a convite do cardeal ganense Peter Turkson, organizador do evento, para falar sobre o acesso a medicamentos retrovirais para pacientes com HIV, focalizando particularmente as crianças dos países mais pobres do mundo.
Disse que as estratégias dos programas de assistência à saúde, de perseguir o bem comum, devem ser “econômica e eticamente sustentáveis”, argumentando que, muito embora devam seguir as suas próprias regras, incluindo a de propriedade intelectual e o lucro justo para sustentar a inovação, elas precisam encontrar meios para “combinar estas coisas adequadamente com o direito ao acesso a tratamentos básicos ou necessários, ou ambos, especialmente nos países subdesenvolvidos”.
Entre as várias nomeações feitas por Francisco e anunciadas no sábado esteve a nomeação do Cardeal Sergio da Rocha, do Brasil, como Relator Geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos.
Da Rocha é arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Foi criado cardeal por Francisco no ano passado.
O sínodo sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” acontecerá em Roma, entre os dias 3 a 28 de outubro de 2018.
De acordo com um comunicado do Vaticano que anunciava o sínodo em outubro de 2016, a escolha do tema – uma “expressão da solicitude pastoral da Igreja para com os jovens” – está em continuidade com os dois Sínodo dos Bispos sobre a família e com o documento Amoris Laetitia.
O sínodo do próximo ano busca “acompanhar os jovens no seu caminho rumo à maturidade, para que, através de um processo de discernimento, possam descobrir o seu projeto de vida e realizá-lo com alegria, abrindo-se ao encontro com Deus e com os homens, participando ativamente da edificação da Igreja e da sociedade”.
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Sábado ocupado: Francisco fala sobre assistência à saúde, seu antecessor e moralidade da tecnologia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU