09 Novembro 2017
No Vaticano, Francisco recebeu Gustavo Vílchez, representante de um grupo de 600 famílias que em breve perderão o trabalho. Elas esperam que ele intervenha de algum modo. “É nossa última alternativa, temos muita fé em Deus e no Papa”.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez, publicada por Vatican Insider, 06-11-2017. A tradução é do Cepat.
Para eles é “a máxima autoridade, santíssima”. É seu pastor e sua última opção. Os operários da Fábrica Militar de Pólvoras e Explosivos Vila Maria, no coração da Argentina, esgotaram todos os recursos para manter seus trabalhos. Mas, a ameaça de 600 demissões permanece. No final do ano, muitos contratos não serão renovados. Por isso, lançaram-se completamente e enviaram um representante para bater na porta do Papa. Francisco o recebeu em Santa Marta e quando soube da notícia, mudou seu semblante. Enviou-lhes ânimo e lhes assegurou suas orações. Abraçou Gustavo Vílchez fortemente, apertando sua mão, desejando transmitir sua proximidade a todos os demais.
O encontro ocorreu no sábado, dia 4 de novembro, após o jantar. O dirigente da Associação de Trabalhadores do Estado, “Cartucho” como o chamam, esperou que o Pontífice terminasse de jantar. Ali, fora do refeitório da residência papal, aproximou-se dele. Foi apresentado por Alicia Peresutti, defensora do povo de Vila Maria e amiga de muitos anos de Jorge Mario Bergoglio.
“Queria pedir a ele a benção para todos os companheiros e companheiras, nossas famílias, e ver se de alguma forma é possível impedir as demissões, não só as nossas, mas todas as demais da Argentina”, contou Vílchez, em declarações ao Vatican Insider.
“O Papa, surpreendido com a notícia que estava lhe dando, segurou forte a minha mão, disse-me que, sim, concedia sua bênção a cada um pelos quais vim pedir. Disse que iria rezar por nós, por minha família e meus companheiros de trabalho, que tivéssemos muita fé. Pareceu muito cansado e, em seguida, quis ir dormir”, acrescentou.
Simbolicamente, o Papa abençoou uma das camisetas que são utilizadas pelos operários de Fabricações Militares. Trata-se de uma companhia estatal dedicada à realização de pólvora, explosivos, coletes à prova de bala, balas, cartuchos e outros materiais para o uso da polícia e de corpos de segurança do país: polícia local, polícia provincial, Gendarmaria, Polícia Federal e outras. É, além disso, a única fábrica de éter na América do Sul.
Mas, apesar de ter as homologações do caso, os mencionamos organismos quase não compram seu produto, lamentou Vílchez. “Compram tudo de fora, na Alemanha, na Itália”. Revelou que, apesar de produzir em sua fábrica a arma policial regulamentar, o Estado Argentino realizou um convênio com a estrangeira Pietro Beretta.
Agora, por falta de compras, o Ministério de Modernização do governo nacional ordenou que 600 trabalhadores, em um total de 2.500, sejam demitidos neste próximo final de ano. Para o líder sindical se trata de um “esvaziamento tremendo” sob a desculpa de que não se vende e não se fabrica. “Isso é uma clara mensagem que se caminha para o fechamento de Fabricações”, insistiu.
Os representantes dos afetados tiveram reuniões com todos os responsáveis políticos e administrativos da fábrica, incluído o ministro de Defesa da Nação, Óscar Aguad. Deputados, senadores, secretários e secretárias. O resultado sempre foi negativo.
Por isso, recorreram ao Papa. Fizeram isto com fé. Para lhe colocar a par das dificuldades de uma porção do povo fiel em seu país natal. “Nós cremos que o Papa está atento, sabe, por pessoas como nós, que graças a Deus tivemos a possibilidade de chegar a ele. Não é alheio à situação da Argentina, à situação que atravessamos com este governo, com demissões, com ameaças de futuras demissões”, precisou Vílchez.
Considerou que Bergoglio é a “pessoa indicada” para que “peça que se freie esta onda de demissões” e pela problemática que “está vivendo a Argentina em geral”. Inclusive – destacou – que seus “companheiros e companheiras” se emocionaram com a gestão, porque “muitos estão convencidos que o Papa pode modificar algo a respeito de tudo isto”.
E apontou: “Nós acreditamos que tem muitíssima influência. Além de ser um Papa argentino, tem uma grande influência sobre cada um dos responsáveis pelo que estamos vivendo. É uma das pessoas que, com sua fé, com suas orações, com suas bênçãos, pode fazer algo muito importante. É uma pessoa muito respeitada, muito querida, é o único que poderia frear estes maus momentos que estão sendo vividos na Argentina. É muitíssima a fé que nós temos, seja em Deus, como no Papa Francisco”.
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A Argentina e o abraço do Papa em famílias à beira da demissão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU