24 Outubro 2017
O Papa Francisco pediu nesta sexta-feira por uma ética que seja "amistosa para a pessoa e o seu entorno" e a partir da qual o modelo social existente seja transformado "de dentro". Uma ética na qual nossos "valores fundamentais" - "a democracia, a justiça, a liberdade, a família, a criação" - não acabem sendo sacrificados "no altar da eficiência, o 'bezerro de ouro' do nosso tempo".
A reportagem foi publicada por Rádio Vaticano, 20-10-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
O Pontífice falava assim com os participantes de um workshop organizado no Vaticano pela Pontifícia Academia de Ciências Sociais, em colaboração com a Organização das Universidades Católicas da América Latina (ODUCAL). O encontro vai de 19 a 21 de Outubro e aborda "As relações mutáveis entre o mercado, o Estado e a sociedade civil".
Desigualdades e a exploração do planeta
Em linha com as discussões que ocorreram durante a cúpula, o Papa salientou duas causas específicas que "alimentam a exclusão e as periferias existenciais". A primeira é o "aumento endêmico e sistêmico das desigualdades e da exploração do planeta".
Além de serem ocasionadas por comportamentos individuais, observou o Pontífice, a desigualdade e a exploração também são engendradas pelas regras econômicas que a sociedade adota. A maneira em que setores tais como o energético, o trabalhista, o bancário, o de bem estar, o de impostos e educação são projetados depende de como a renda e as riquezas são compartilhadas entre aqueles que contribuíram para produzi-los. Mas "se o benefício prevalece como fim, a democracia tende a se tornar uma plutocracia na qual crescem as desigualdades e a exploração do planeta", advertiu o Papa.
O trabalho
A outra causa de exclusão assinalada pelo Bispo de Roma é o trabalho indigno da pessoa humana. Muito além de simplesmente garantir aos trabalhadores um salário justo, afirmou Francisco, todo o processo de produção deveria ser adaptado "às necessidades da pessoa e seu estilo de vida" respeitando "a criação, a nossa casa comum". Isto implica na necessidade de "livrar-se das pressões dos 'lobbies' públicos e privados que defendem interesses setoriais", já que a ação política deve estar à serviço da pessoa humana, o bem comum e o respeito pela natureza", destacou o Papa.
"Civilizar o mercado"
O mercado não deve ser eficiente apenas na hora de criar riquezas e garantir um crescimento sustentável, mas também deve estar a serviço do desenvolvimento humano integral, defendeu o Pontífice.
"Não podemos sacrificar no altar da eficiência, o 'bezerro de ouro' do nosso tempo, valores fundamentais como a democracia, a justiça, a liberdade, a família, a criação", continuou Francisco, acrescentando que, em essência, "devemos procurar 'civilizar o mercado' na perspectiva de uma ética amistosa da pessoa e seu entorno".
Lembrando aos participantes na oficina de princípios da subsidiariedade e da solidariedade da doutrina social da Igreja, o Papa concluiu afirmando que "o Estado não pode ser concebido como o único e exclusivo titular do bem comum, ao não permitir que os intermediários da sociedade civil expressem livremente o seu potencial completo", embora ele tenha pontuado que "o desafio aqui está em como combinar os direitos individuais e o bem comum".
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Papa alerta para "aumento endêmico e sistêmico das desigualdades e da exploração do planeta" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU