01 Agosto 2017
Para o Papa Wojtyla, férias era igual a montanhas, possivelmente altas, com longas caminhadas e muito silêncio contemplando os picos. Para Bento XVI, férias era principalmente ler, estudar e tocar piano, nas montanhas ou em Castel Gandolfo. Para o seu sucessor, Francisco, férias é desacelerar os compromissos cotidianos, as audiências e as celebrações, mas sem se afastar de casa.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr. e Andrea Tornielli, publicada por La Stampa, 31-07-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E, assim, a histórica residência de veraneio dos papas – à qual João Paulo II mandou acrescentar uma piscina para poder nadar sem ser perturbado –, inutilizada pelo seu titular pro-tempore, também se torna um museu aberto ao público.
As últimas férias entendidas como férias longe de casa foram tiradas por Jorge Mario Bergoglio nos anos 1970. Desde então, o atual pontífice sempre preferiu viver o tempo do repouso de verão sem se afastar da sua residência habitual e da sua cidade. Desacelerando os ritmos do trabalho cotidiano, mas sem nunca se deslocar.
Na família Bergoglio, nunca se tiravam férias: “Nós não éramos ricos. Chegávamos ao fim do mês normalmente, mas não mais. Tínhamos um carro, não tirávamos férias ou essas coisas”, contou o futuro papa.
Ao contrário, o pai de Jorge Mario desejava que o filho encontrasse um trabalho durante o período de pausa da escola. Ele trabalhou primeiro em uma fábrica de meias, onde inicialmente foi encarregado da limpeza. No terceiro ano, confiaram-lhe algumas tarefas administrativas. Nos anos seguintes, estudaria e trabalharia simultaneamente em um laboratório químico. A decisão de não tirar férias, portanto, também está ligada a um hábito desde quando ele era criança e, depois, jovem.
Francisco falou sobre as suas férias no voo de volta da Coreia, em 2014: “Eu tirei férias, agora, em casa, como faço de costumo, porque... Uma vez eu li um livro, interessante, o título era: ‘Alegre-se por ser neurótico’! Eu também tenho algumas neuroses... Uma dessas neuroses é que eu sou um pouco apegado demais ao habitat. A última vez que eu tirei férias fora de Buenos Aires, com a comunidade jesuíta, foi em 1975. Depois, eu sempre tiro férias – de verdade! – mas no habitat: mudo de ritmo. Durmo mais, leio as coisas que eu gosto, ouço música, rezo mais... E isso me repousa”.
Bergoglio se levanta um pouco mais tarde do que o despertador normal das 4h45, celebra a missa privadamente (sem a participação do povo), não realiza as audiências gerais. O único compromisso com os fiéis continua sendo o Ângelus dominical. Há mais tempo para encontros e conversas com as pessoas amigas, mas não falta o estudo sobre os dossiês e a preparação dos discursos para as viagens.
Enquanto isso, em Castel Gandolfo, no lugar do papa, vão as pessoas. Primeiro, era acessível aos chefes de Estado ou às altas hierarquias eclesiásticas. Mas, desde outubro passado, qualquer um pode entrar no sóbrio quarto dos pontífices e observar a cama de um lugar e meio, sobre a qual morreram Pio XII e Paulo VI, ver os telefones modelo SIP usados pelos bispos de Roma, o sofá e a poltrona da biblioteca sobre os quais se sentaram, um de frente para o outro, dois papas, Bergoglio e Ratzinger, e a mesinha sobre a qual foram apoiadas as pastas do Vatileaks.
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Oração, leitura e na cama até mais tarde: as férias “caseiras” de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU