29 Novembro 2016
O jornalista Carlo Tecce, do jornal Il Fatto Quotidiano, 28-11-2016, elenca abaixo as 10 revoluções desencadeadas pelo Papa Francisco ao longo do seu papado.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
1. Luta contra os excessos do clero: em Santa Marta, em 90 metros quadrados
Um papa que escolheu Francisco como nome indicou uma existência franciscana para o Vaticano: nada de carros de luxo, nada de joias (Bergoglio veste uma cruz de ferro), nada de recepções, nada de desperdício nos apartamentos, e, de fato, ele mora em um quarto de 90 metros quadrados em Santa Marta. Há também os excessos, que tornam ainda mais ansioso o trabalho dos gendarmes: Bergoglio rejeita os carros blindados durante visitas ao exterior.
2. Férias no Vaticano, Castel Gandolfo fechado
A Castel Gandolfo, residência para as férias dos papas, Bergoglio foi apenas para prestar homenagem ao Papa Emérito Ratzinger. Transportado de helicóptero, para lá tinha se retirado o teólogo alemão. Aquela visita deu ao mundo a primeira imagem de um encontro entre dois papas, quase uma alucinação. Depois, Bergoglio ordenou o fechamento daquela mansão pontifícia. Férias em Santa Marta. Ele recebe os convidados institucionais no palácio pontifício.
3. Os cardeais vêm do fim do mundo
Nos tempos de Bento XVI, o consistório era governado também pelo poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone. Os novos cardeais eram italianos, melhor ainda se fossem salesianos, com um passado no Piemonte ou na Ligúria, as dioceses governadas por Bertone. Ao contrário, Francisco elevou a príncipes da Igreja os bispos das terras mais remotas ou das menores cidades. E, desse modo, prepara o próximo conclave. A sua sucessão.
4. Aquelas pastas, herança de Bento XVI
O ponto de contato entre o papa no cargo e o papa aposentado é sempre Dom Georg Gänswein. Contou-se, no passado, que os dois papas costumam se ver no jantar. O mais jovem, Bergoglio, vai se encontrar com o mais idoso no convento onde decidiu viver ao “abrigo dos olhos do mundo”. Mas a passagem de bastão foi real e formal, um pacote de documentos – a famosa investigação dos cardeais – que Ratzinger deu a Bergoglio.
5. O pacificador entre EUA e Cuba, as habilidades diplomáticas
Um papa argentino não podia ignorar as condições econômicas, políticas e sociais da América mais pobre e mais impopular aos Estados Unidos. Com uma habilidade diplomática com poucos precedentes, também por causa da capacidade de tecer as negociações em sigilo, Jorge Mario Bergoglio conseguiu debelar aquelas poucas milhas que separam os Estados Unidos de Cuba. E fez isso cultivando uma relação de confiança recíproca com os irmãos Castro.
6. Os homossexuais e o seu “Quem sou eu para julgar?”
“Quem sou eu para julgar?” Essa pergunta, tão evidente em uma sociedade (em grande medida) livre dos vínculos ideológico-religiosos, aproximou a Igreja aos homossexuais. O papa da misericórdia, da abertura e do diálogo não pode aceitar comportamentos reacionários no clero. Até porque, por culpa daquele grupo agarrado aos dogmas e curvado apenas à doutrina, a Igreja corre o risco de perder fiéis. Os do futuro, mas também os do presente.
7. As inovações no Sínodo sobre a família
A primeira reforma de Bergoglio foi a abordagem que a Igreja deve ter com a família. Família significa casais do mesmo sexo, família significa conjunto de pessoas composto por um divorciado ou por uma divorciada, família significa uma mulher que escolheu ou teve que escolher o aborto. A Igreja é uma família e, para não se afastar da família, portanto, deve saber perdoar. Mas o Sínodo não convenceu a todos.
8. A atividade internacional e a cautela nacional
Com a nomeação de Pietro Parolin à Secretaria de Estado, Bergoglio roubou autonomia e relevância da Cúria para confiá-las a um diplomata, a um núncio pontifício. Assim, o Vaticano é muito ativo nos cenários internacionais e muito cauteloso e, muitas vezes, silencioso sobre os assuntos nacionais. Nem mesmo a controversa lei sobre as uniões civis mobilizou a robusta máquina vaticana. Continuou sendo uma batalha de uma parte dos bispos.
9. Projetos em curso: banco, Cúria e comunicação
Para a reforma da Cúria e da própria comunicação do Vaticano, muito frequentemente incapaz de seguir a evolução tecnológica e cultural do mundo, Bergoglio instituiu um grupo de trabalho, um grupo restrito de cardeais. Enquanto isso, tentou desmantelar aquela acumulação de negócios muito obscuros que se chama IOR, o banco vaticano, embora seja impróprio defini-lo como banco. Sobre a Cúria, ainda há muito a se mudar.
10. As relações com os governos: é proibido se intrometer
Esperando o fim da época de Angelo Bagnasco na cúpula da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Bergoglio interveio com as nomeações – por exemplo – de Matteo Zuppi em Bolonha depois de Carlo Cafarra (hoje contado entre os contestadores da linha de Francisco) e de Corrado Lorefice em Palermo. O papa delega as relações com os governos nacionais à CEI, mas julga como anacrônicas e prejudiciais as ingerências do passado.
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As 10 revoluções de Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU