10 Julho 2017
Líderes da Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas assinam cópias da declaração na Igreja de Santa Maria em Wittenberg, Testemuho de Wittenberg, Alemanha, expressando apoio das igrejas Reformadas à Declaração Conjunta Católico-Luterana sobre a Doutrina de Justificação.
O Papa Francisco, que participou de uma cerimônia ecumênica na Suécia, em outubro passado, lançando a comemoração luterana da Reforma ao longo do ano, enviou uma mensagem dizendo que esperava que este último passo "marcaria uma nova etapa de comunhão e cooperação a serviço da justiça e da paz em nossa família humana".
A reportagem é de Tom Heneghan, publicada por Crux, 09-07-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
(Foto cortesia da WCRC / Anna Siggelkow)
Em meio a cerimônias do ano que marca o 500º aniversário da Reforma, uma das principais vertentes do Protestantismo passou a concordar oficialmente com o Vaticano na questão crucial que originou sua separação da Igreja Católica Romana há meio milênio.
A Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas, que realizou na Alemanha seu Conselho Geral mundial, que acontece uma vez a cada sete anos, assinou uma declaração nesta semana, apoiando o acordo católico-luterano de 1999 sobre como os cristãos podem ser dignos de salvação aos olhos de Deus.
A cerimônia ocorreu em Wittenberg, onde, em 1517, Martinho Lutero revelou as 95 teses que lançaram a Reforma e, com ela, séculos de disputa sobre se a salvação eterna vem apenas da fé - a posição do novo movimento protestante - ou se requer também boas obras na Terra, como argumentavam os católicos.
A decisão da WCRC - que representa 80 milhões de membros das igrejas Congregacional, Presbiteriana, Reformada, Unidas e Valdense - marcou outro passo em direção a uma reconciliação gradual, mas notável, sobre essa questão, entre os cristãos que já guerrearam e se declararam hereges por elas.
O Conselho Metodista Mundial aprovou formalmente o acordo católico-luterano, conhecido como Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, em 2006. A comunhão anglicana deverá fazer o mesmo ainda este ano.
A WCRC "agora aceita alegremente o convite para se associar" à Declaração Conjunta, disse o documento assinado em um momento de oração ecumênico. "Estamos muito felizes que as diferenças doutrinárias históricas na doutrina da justificação não nos dividem mais".
A Declaração Conjunta encerra efetivamente o debate secular "fé versus obras", pois une as visões luterana e católica sobre a salvação, ao invés de colocá-las uma contra a outra.
"Unicamente pela graça, na fé na obra salvadora de Cristo e não por qualquer mérito da nossa parte", disse a principal passagem, "somos aceitos por Deus e recebemos o Espírito Santo, que renova os nossos corações,nos instrumentaliza e nos chama às boas obras".
Por mais histórico que seja, a resolução desta disputa teológica não levará a mudanças imediatas que possam ser sentidas pelos fiéis, como o compartilhamento da comunhão entre católicos e protestantes ou o reconhecimento mútuo de ministros.
"Embora nos aproxime dos católicos, dos luteranos, dos metodistas e dos anglicanos nesta questão em particular, não nos aproxima de forma imediata nos caminhos concretos que serão sentidos em nossas igrejas membros", disse o porta-voz da WCRC, Philip Tanis.
Uma declaração do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos do Vaticano disse que a cerimônia de assinatura em Wittenberg "deve ser vista como outro marco importante na jornada rumo à plena e visível unidade dos cristãos; ainda não é o fim da jornada, mas um passo significativo do caminho".
O Papa Francisco, que participou de uma cerimônia ecumênica na Suécia, em outubro passado, lançando a comemoração luterana da Reforma ao longo do ano, enviou uma mensagem dizendo que esperava que este último passo "marcaria uma nova etapa de comunhão e cooperação a serviço da justiça e da paz em nossa família humana".
O processo de reconciliação entre o Vaticano, que representa 1,2 bilhão de católicos em todo o mundo, e as federações internacionais menores das principais denominações protestantes tem sido lento.
O luteranismo e o movimento reformado, com base nos escritos do teólogo francês João Calvino, são dois dos principais ramos do cristianismo protestante. Lutero ensinou que a salvação eterna é alcançada apenas pela fé, enquanto Calvino e outros pensadores da Reforma colocam-na no contexto mais amplo da aliança de Deus com o homem. Os luteranos têm bispos e a maioria das igrejas reformadas são menos hierárquicas.
O diálogo entre teólogos protestantes e católicos levou a um consenso geral no debate "fé versus obra" já na década de 80, mas demorou um pouco mais para que as várias hierarquias da igreja alcançassem o acordo oficial.
Antes de endossar a Declaração Conjunta, a WCRC passou vários anos considerando uma abordagem especificamente reformada da questão, disse Setri Nyomi, ex-secretário geral da WCRC, ao RNS.
"Ao analisarmos mais profundamente, observamos que faltava uma conexão entre justificação e justiça, que há muito tempo foi uma das nossas prioridades, mas os meios para isso não estavam prontamente acessíveis", afirmou.
"Às vezes, é preciso um tempo de maturação para uma discussão atingir um nível de ação no nível ecumênico internacional".
Um segundo documento assinado no serviço de oração, chamado Wittenberg Witness, pode dar frutos logo, já que foi concluído apenas entre a WCRC e a Federação Luterana Mundial.
Ele afirmava que nenhuma questão teológica separava as igrejas reformadas e luteranas e que os dois lados deveriam dar o seu melhor para promover a unidade, desde as instituições mundiais até o nível local.
Entre as ideias para uma cooperação mais estreita, a WCRC e a FLM realizam assembleias gerais conjuntas em vez de reuniões separadas.
Em vários países europeus, incluindo a Alemanha, anfitriã do Conselho Geral, as igrejas luteranas e reformadas ligam-se em uma única federação protestante nacional.
"Estamos felizes de que não há mais necessidade de separação", diz o documento. "Agradecemos pelos exemplos das Igrejas Luteranas e Reformadas que já declararam a comunhão das igrejas e agora têm testemunho comum, compartilhando o culto, o testemunho e o trabalho para o mundo".
Cerca de 1.000 clérigos e leigos participaram do Conselho Geral, realizado principalmente na cidade vizinha de Leipzig.
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Igrejas reformadas endossam o acordo católico-luterano sobre disputa crucial da Reforma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU