24 Mai 2017
“Durante anos, olhamos para o processo em curso como observadores externos, pensando que fosse uma conversa entre a Igreja Luterana e a Católica. Mas os contínuos convites recebidos pelo mundo luterano e a vontade de diálogo, a partir do qual emerge a consciência de que são muitas mais as afinidades que nos unem do que aquelas que nos dividem, encorajaram-nos a reconsiderar a nossa posição. E eu estou aqui em Windhoek, na 12ª Assembleia Luterana Mundial, para compartilhar com os delegados a alegria do anúncio da assinatura, por parte da Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas (WCRC), da Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação.”
A reportagem é de Claudio Geymonat, publicada por Riforma, 23-05-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nos sofás que adornam os imensos corredores do hotel que hospeda, na capital da Namíbia, os trabalhos das 145 Igrejas-membro da Federação Luterana Mundial (FLM), Chris Ferguson, o secretário-geral da WCRC – que reúne, por sua vez, 225 Igrejas reformadas, incluindo a Igreja Valdense – ajuda-nos a repassar as principais etapas dessa escolha: “O texto da declaração se baseia no princípio do ‘consenso diferenciado’, que conta com uma longa tradição ecumênica e que enfatiza como as diversas linguagens teológicas utilizadas para expressar, neste caso, a doutrina da justificação à luz dessa compreensão comum não devem ser mais matéria divisiva. Este é um ponto decisivo: as diferenças permanecem como um aspecto fundamental das nossas Igrejas e do nosso modo de ser cristãos, a justificação; mas prevalece o desejo de explorar novos caminhos, novas relações. Dizemos que é uma declaração de intenções”.
Em 2010, o Conselho Geral da WCRC tinha aberto as consultas com as suas Igrejas-membro. Houve mesas de trabalho, chegaram opiniões, debateu-se, não foi uma escolha óbvia. “Em 2016, em Havana – continua Ferguson – o Comitê Executivo também recomendou que se aceitasse o convite de se juntar à declaração, em conformidade com o princípio ‘Ecclesia reformata, semper reformanda secundum verbum dei’, e, ao mesmo tempo, pediu que o documento oficial de associação à declaração trouxesse uma referência à ligação entre justificação e justiça, como contribuição reformada para o futuro diálogo ecumênico sobre a compreensão da própria justificação.”
A assinatura no texto da declaração ocorrerá durante uma cerimônia no próximo dia 5 de julho, em Wittenberg, na presença de representantes do mundo luterano, católico e também metodista e anglicano, que, por sua vez, assinaram o texto em 2006 e em 2016.
No mesmo dia, será assinado outro documento, desta vez nascido ad hoc em âmbito reformado e luterano, intitulado “O testemunho de Wittenberg”, que, a partir das celebrações conjuntas ligadas aos 500 anos do início da Reforma protestante, confessa, por um lado, a tragédia de uma Igreja dividida, mas reivindica, por outro, o fruto de décadas de diálogo entre as duas organizações e festeja os novos passos rumo à unidade iniciados pelas respectivas Igrejas-membro em todo o mundo.
“É a aposta dos próximos 500 anos – conclui o secretário Ferguson –, diante das tragédias do mundo, Deus nos quer unidos. As Igrejas podem desempenhar um papel-chave para levar as pessoas à paz nesta terra. E, unidas, são mais fortes. Deus nos chama a isso, a superar as divisões, diante do valor mais alto do bem comum para todos.”
Sobre o conceito de “consenso diferenciado”, pode ser útil ler o livro datado de 1999, Il consenso cattolico-luterano sulla dottrina della Giustificazione [O consenso católico-luterano sobre a doutrina da Justificação], editado por Fulvio Ferrario e Paolo Ricca, e publicado pela editora Claudiana.
Na introdução escrita pelo então decano da Igreja Luterana na Itália, o pastor Jürgen Astfalk, afirma-se: “Um consenso não significa pleno acordo. Em um consenso, as diferenças são vistas e não escondidas. As diferenças são elencadas, mas não são mais consideradas como tais a ponto de dividir a Igreja. O método do consenso possibilitou a Concórdia de Leuenberg. As diferentes compreensões dos luteranos e dos reformados – por exemplo – na doutrina da Santa Ceia continuando existindo. Os responsáveis pelas Igrejas, porém, estabeleceram que elas não são tão importantes a ponto de determinar uma divisão entre as Igrejas evangélicas interessadas”.
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Igrejas Reformadas também assinarão a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU