22 Junho 2017
Um mês. Este foi o tempo necessário para que a aglomeração de dependentes e usuários de drogas que forma a cracolândia de São Paulo deixasse a praça Princesa Isabel e retornasse à região da Luz, dessa vez ao lado da estação Júlio Prestes.
A reportagem é de Felipe Betim e publicada por El País, 21-06-2017.
No último 21 de maio, uma operação da PM expulsou usuários e traficantes da rua Helvetia e Alameda Dino Bueno, na mesma zona, como parte de uma de ação do gestão João Dória (PSDB) que prometeu extinguir a questão. Nesta quarta-feira, entretanto, um usuário gritava enquanto atravessava a rua Helvétia sob o olhar atento dos policiais: "Estou em casa de novo!". Os dependentes estão agora na rua paralela à Dino Bueno, em uma pequena praça da Alameda Cleveland, na esquina com a Helvétia. Praticamente onde estavam antes.
A movimentação começou por volta das 20h, quando uma multidão deixou a Princesa Isabel correndo e atravessou a Helvétia. Adriano foi um dos últimos a deixar a praça. "Foi uma ordem do comando aí. Falaram pra gente ir pra outra praça, que esta era histórica e tal", conta. A polícia nada fez e não estava claro, até a publicação desta reportagem, a que "comando" Adriano se referia.
O capitão da PM Marcelo Martin explicou que a movimentação foi repentina e partiu dos próprios usuários. Em princípio, disse, se respeitou o direito de ir e vir deles. Mas depois recebeu ordens para deixar os dependentes no outro local. "Ali é um lugar menor, melhor para controlar. E para a prefeitura é mais fácil de fazer as abordagens", explica.
O secretário de segurança urbana, José Rodríguez de Oliveira, confirmou que, para a prefeitura, o novo local é melhor. "Eles agora estão perto dos equipamentos de atendimento". Enquanto os últimos usuários saiam da Princesa Isabel, o secretário orientava deixá-los saírem de forma natural. A ação na cracolândia foi considerada um dos reveses da jovem gestão Dória, iniciada em janeiro.
A nova localização da cracolândia está ao lado de uma sede do programa Recomeço, de uma tenda que pertencia ao Braços Abertos e de um CAPS do programa Redenção. Está mais perto também de uma unidade de atendimento da prefeitura que oferece alimentação, banheiro e camas para dormir. Durante a movimentação, a PM e a Guarda Civil Metropolitana bloquearam o acesso à Dino Bueno. A Helvétia, contudo, estava livre para que os usuários passassem.
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Um mês depois de ação de Doria, a cracolândia retorna à região da Luz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU