25 Mai 2017
Na manhã deste quarta-feira, 24 de maio, o Papa Francisco se reuniu em privado com o presidente americano Donald Trump no Palácio Apostólico durante aproximadamente 30 minutos. Após o encontro, pediu que o político trabalhe pela paz no mundo.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 24-05-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A atmosfera para o primeiro encontro entre os dois líderes, famosos por discordarem em uma série de temas, pareceu inicialmente rígida e formal. Enquanto cumprimentou o presidente na antecâmara da biblioteca papal, onde tiveram sua reunião privada, o papa manteve um rosto sério e não sorriu.
Na sequência da conversa que tiveram, no entanto, Francisco assumiu um tom mais jovial. Quando a porta da biblioteca foi aberta e lhe apresentaram a primeira-dama Melania Trump, o papa gentilmente pegou em sua mão, olhou para o presidente e brincou: “Mas o que você dá para ele comer?”
Durante a tradicional troca de presentes, Francisco deu a Trump um grande medalhão que traz dois ramos de oliveira entrelaçados como símbolo da paz e da unidade, dizendo ao presidente: “Aqui, a divisão da guerra, no meio, e a oliveira está tentando reuni-los lentamente em paz. (...) É o meu desejo que você se torne uma oliveira para construir a paz”.
Ao que Trump respondeu: “Necessitamos de paz”.
O papa também presenteou o presidente com quatro escritos seus: duas exortações apostólicas Evangelii Gaudium e Amoris Laetitia, a encíclica ambiental Laudato Si’, e a mensagem que escreveu para o Dia Mundial da Paz 2017.
Francisco contou a Trump que havia pessoalmente autografado o exemplar da mensagem de paz, que aborda a não violência como uma estratégia política. Em referência aos documentos, Trump respondeu: “Eu vou ler”.
No final do encontro, o presidente contou ao papa: “Obrigado. Não esquecerei o que o senhor disse”. Em espanhol, Francisco respondeu: “Buena suerte”.
O encontro deste dia 24 de maio era um dos mais aguardados da história recente entre um papa e um chefe de Estado. Trump e Francisco são conhecidos por suas divergências em uma série de temas, como a proteção do meio ambiente e a forma como se deve tratar os imigrantes.
O desacordo entre eles na questão dos imigrantes resultou em dias de tensão em 2016, quando Francisco questionou as qualidades cristãs de Trump quando da ideia de construir um muro na fronteira dos EUA com o México. Trump considerou o comentário papal sobre ele como um comentário “infeliz”.
Em comunicado emitido após o encontro dos dois líderes, o Vaticano descreveu o diálogo ocorrido como “cordial” e manifestou “satisfação pelas boas relações bilaterais entre a Santa Sé e os Estados Unidos da América”.
“Foi manifestado o desejo de uma colaboração serena entre o Estado e a Igreja Católica nos Estados Unidos, comprometida em servir a população nas áreas da saúde, da educação e da assistência aos imigrantes”, lê-se no texto divulgado.
Não se sabe exatamente o que Francisco e Trump disseram um ao outro durante a parte privada do encontro. Além de um intérprete vaticano, os dois líderes foram as únicas pessoas presentes na sala.
Trinta minutos é o tempo normal para um encontro entre o papa e um chefe de Estado.
Francisco passou 52 minutos junto do presidente Barack Obama em março de 2014. No encontro deste ano, o seu tempo esteve limitado, tanto que, após o momento com Trump, ele se dirigiu imediatamente para a sua audiência semanal na Praça de São Pedro.
Francisco primeiramente cumprimentou Trump na “Sala del Tronetto”, parte do Palácio Apostólico que serve como antecâmara da biblioteca papal.
Enquanto apertavam-se as mãos, o presidente agradeceu o papa pela reunião. Em seguida, entraram para a biblioteca juntos, posando para fotos antes de se sentar. Trump sorriu para as câmeras, mas Francisco manteve um rosto sério e olhou para o piso em alguns momentos.
Em seguida, sentaram-se a uma escrivaninha de madeira, um de frente para o outro, com o papa inclinando-se em sua cadeira. O presidente contou ao papa que era “uma grande honra” encontrá-lo. O Vaticano cortou a transmissão ao vivo às 8h32 para deixar os líderes conversarem em privado.
A transmissão retornou às 9h02 com Francisco cumprimentando a primeira-dama, Ivanka Trump, e Jared Kushner. Depois, o papa cumprimentou os demais membros da delegação americana, que incluía o secretário de Estado Rex Tillerson e o assessor para a segurança nacional, o Gen. H.R. McMaster.
Durante a troca de presentes, Trump deu a Francisco uma grande caixa preta contendo um conjunto dos escritos do Rev. Martin Luther King Jr., líder citado por Francisco em seu discurso diante do Congresso na visita que fez aos EUA em 2015. “É um presente para o senhor”, disse Trump ao entregar a caixa. “Acho que vai gostar. Espero que sim”.
Além de ser uma das mais aguardadas visitas de um chefe de Estado, o encontro entre Francisco e Trump era também considerado, por algumas autoridades vaticanas, como um dos encontros possivelmente mais perigosos para o papa.
Na dianteira do evento, algumas autoridades diplomáticas da cidade-Estado manifestaram preocupação a alguns repórteres com que Trump pudesse falar em público o que o papa e ele discutiram em privado, ou mesmo dizer algo depreciativo sobre o papa via Twitter.
Por volta do meio-dia de quarta-feira, horário local, Trump tuitou que encontrar-se com o papa havia sido uma “honra de uma vida inteira”. O presidente mudou a foto do mural em seu perfil no Twitter para uma imagem dele e Francisco juntos.
Na sequência do encontro com Francisco, Trump reuniu-se com o secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal Pietro Parolin, e Paul Gallagher, secretário para as Relações com os Estados. O Vaticano informou que o encontro, que também foi privado, durou cerca de 50 minutos.
À tarde, Tillerson contou aos repórteres que Parolin falou a Trump e demais autoridades americanas sobre as mudanças climáticas.
“O cardeal manifestou a opinião de que este tema é importante”, disse o secretário de Estado. “Ele incentivou a participação continuada no acordo de Paris. Tivemos uma boa troca de ideias sobre a dificuldade de equacionar as mudanças climáticas, as respostas às mudanças climáticas e como garantir que ainda sim tenhamos uma economia próspera”.
Antes de deixar o Vaticano, Trump, a primeira-dama e a filha Ivanka visitaram a Capela Cistina e a Basílica de São Pedro.
Ainda na manhã de quarta-feira, Melania Trump visitou o hospital infantil Bambino Gesu, do Vaticano, localizado próximo da cidade-Estado, na colina Gianicolo, em Roma.
Ivanka Trump dirigiu-se ao bairro romano de Trastevere para uma visita à Comunidade de Sant’Egidio, associação leiga católica que exerce uma influência política significativa na Itália e que conta com o apoio de Francisco, principalmente pelo trabalho desenvolvido junto aos migrantes.
Um projeto que o grupo vem realizando ultimamente chama-se “corredores humanitários”, que arrecada fundos para permitir que refugiados que escapam da guerra e da fome entrem na Europa. O grupo diz que, entre fevereiro de 2016 e março de 2017, conseguiu ajudar cerca de 700 sírios que fugiam da guerra civil em curso no país.
O presidente teve reuniões em separado com o presidente italiano Sergio Mattarella e com o primeiro-ministro Paolo Gentiloni. Em resposta a perguntas dos repórteres durante o encontro com Gentiloni, Trump chamou Francisco de “uma grande pessoa” e disse que o papa e ele tiveram um encontro “fantástico”.
Trump chegou em Roma no dia 23 de maio depois de visitar a Arábia Saudita e Israel. Ele segue para Bruxelas no fim do dia 24, onde se reunirá como rei Philippe, da Bélgica, e participará de reuniões com líderes da Otan e da União Europeia no dia 25.
O presidente volta para a Itália no dia 26 de maio para participar da cúpula do G7, que acontece na Sicília.
Francisco não era o único no Vaticano que estava com ânimo para brincadeiras.
Enquanto conduziam Trump por entre o Palácio Apostólico para o seu encontro com o pontífice, Dom Georg Gänswein, prefeito da Casa Pontifícia, brincou com o presidente a certa altura, dizendo que o prédio se parecia com a Trump Tower em Nova York.
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Em encontro no Vaticano, Francisco pede que Trump trabalhe pela paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU