25 Mai 2017
O Papa Francisco, fino analista da guerra mundial travada em pedaços, não deixou escapar o próximo problema que está sendo preparado por Trump e pelos estadunidenses no Oriente Médio. De fato, ele liquidou o presidente estadunidense em 40 minutos, o mesmo tempo do encontro entre Abbas e Trump. O resto, provavelmente, foi dito pelo secretário de Estado, Parolin, e Gallagher.
A reportagem é de Alberto Negri, publicada por Il Sole 24 Ore, 24-05-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As relações com o Oriente Médio, há semanas, estão bastante claras, e a visita à Arábia Saudita deve ter fortalecido as convicções da Santa Sé: mais do que a luta contra o ISIS e os foreign fighters do Califado, os Estados Unidos estão se preparando para abrir um fronte contra o Irã e o Hezbollah, que obviamente envolve a Síria de Assad.
Muito entusiasmo por parte dos sauditas pela visita de Trump: uma euforia justificada pela postura anti-iraniana assumida pelo presidente estadunidense em Riad e profundamente paga com encomendas de 110 bilhões de dólares em armas. Estas são as coisas que enfurecem o papa, que disse várias vezes que os problemas do Oriente Médio dependem da proliferação dos armamentos.
Certamente, esta não é a primeira vez que o Vaticano e os Estados Unidos se encontram em posições opostas, especialmente no Oriente Médio. Em 1991, João Paulo II tinha se oposto ao ataque ao Iraque depois da ocupação do Kuwait, porque Saddam era o protetor dos cristãos. Ainda mais forte foi a oposição do papa em 2003, convencido de que os regimes autoritários, mas laicos, eram a única barreira contra o Islã político.
As tensões entre a Casa Branca e o Vaticano continuaram com o Papa Ratzinger. A secretária de Estado, Hillary Clinton, teve uma boa atuação, na época, ao convencer Barack Obama de investir na Irmandade Muçulmana e de aplicar com as primaveras árabes de 2011 o “leading from behind”, ou seja, liderar nos bastidores.
Aqui começou o desastre em que ainda estamos imersos hoje. A questão da Líbia está diante dos olhos de todos: franceses, ingleses e estadunidenses, que não têm, como de costume, uma alternativa a Gaddafi, assim como não tinham para Saddam em 2003, fizeram afundar um país inteiro e até mesmo as fronteiras da Itália.
Pior ainda aconteceu com a Síria, onde Hillary Clinton, para obter o apoio financeiro das monarquias do Golfo, deu luz verde para Erdogan abrir a “rodovia da jihad”, a fim de abater o regime de Assad. Na realidade, tratava-se de uma guerra por procuração contra o Irã, arqui-inimigo dos árabes do Golfo e de Israel. Eles pensavam em manobrar os jihadistas que, agora, voltam atrás como uma sangrenta ressaca na Europa, como se viu também nestas horas na Grã-Bretanha.
Embora não sendo um admirador de Assad, o Papa Bergoglio, em 2013, promoveu uma vigília de oração em São Pedro, da qual participou também a então ministra do Exterior italiana, Emma Bonino, que, depois, foi removida por Renzi: assim como o seu antecessor Ratzinger, o Papa Bergoglio tinha compreendido as graves consequências que estavam se adensando sobre os cristãos na Síria se vencesse a ala mais radical do Islã sunita. Os cristãos da Síria foram salvos pelo Hezbollah libanês xiita que libertaram os povoados das formações al-qaedistas.
Se esses são os antecedentes, pode-se imaginar o que o papa disse para Trump, ou seja, toda a sua discordância a uma operação militar no Oriente Médio destinada a atingir o Irã e o Hezbollah. Uma operação que, dentre outras coisas, envolve os ingleses e a Jordânia, com riscos nada pequenos para o reino hachemita. Mas este presidente estadunidense, como muitos outros que o precederam, também finge querer fazer a luta contra o terrorismo, mas, na realidade, ele o alimenta e tende a fazer favores aos seus patrocinadores sauditas e às monarquias do Golfo. Com os devastadores resultados que conhecemos.
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O "saudita" Trump não agrada o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU