13 Fevereiro 2017
Os núncios dos Estados Unidos e do México, Christophe Pierre e Franco Coppola, respectivamente, estarão organizando um encontro de bispos de ambos os países para denunciar o “muro da exclusão”. Um encontro que, de acordo com a imprensa mexicana, deverá acontecer no final de fevereiro em Brownsville (Texas), e no qual seriam abordados os problemas da imigração, acolhida e proteção na fronteira na “era Trump”.
A reportagem é de Jesús Bastante e publicada por Religión Digital, 12-02-2017. A tradução é de André Langer.
“Nós respeitamos o direito do governo dos Estados Unidos de cuidar de suas fronteiras e de seus cidadãos, mas não acreditamos que uma aplicação rigorosa e intensiva da lei seja o caminho para alcançar seus objetivos, e que, pelo contrário, estas ações são geradoras de alarma e medo entre os imigrantes, desintegrando muitas famílias sem um exame mais aprofundado”, diziam, em um comunicado, os bispos mexicanos. O comunicado foi replicado pelo L’Osservatore Romano.
Um texto que se somava aos publicados por diversos bispos estadunidenses, que veem com receio e preocupação a política migratória de Donald Trump e seu anúncio de fechar a fronteira com o México com um muro. Entre eles encontra-se o bispo de Austin, Joe Steve Vásquez, que destacou que a construção do muro “colocará em perigo a vida dos migrantes”.
“Em vez de construir muros – disse dom Vásquez –, os bispos vão continuar a seguir o exemplo do Papa Francisco. Queremos construir pontes entre as pessoas, pontes que nos permitam derrubar os muros da exclusão e da exploração”.
Para o cardeal arcebispo de Newark, Joseph William Tobin, esta medida “é o contrário do que significa ser americano” e contribuirá para destruir famílias e comunidades. O cardeal O’Malley, por sua vez, destacava que um católico deve continuar a sentir “compaixão e misericórdia” por aqueles que fogem da violência e da perseguição.
Do mesmo modo, os jesuítas dos Estados Unidos e do Canadá emitiram um duro comunicado em que “denunciamos o Decreto executivo da Administração Trump, que suspende e expulsa refugiados e proíbe a presença dos nacionais de sete países, como uma afronta à nossa missão e uma agressão aos valores americanos e cristãos”.
“Nossa identidade católica e jesuíta nos pede para acolher o estrangeiro e aceitar diferentes tradições de fé e cultura com abertura e compreensão. Não devemos nos atemorizar”, escrevem no comunicado.
Como membros de uma ordem religiosa global que trabalha na formação de homens e mulheres conscientes e compassivos, denunciamos o Decreto Executivo da Administração Trump – que suspende e expulsa refugiados e proíbe a presença dos nacionais de sete países – como uma afronta à nossa missão e uma agressão aos valores americanos e cristãos.
Os jesuítas – por nosso trabalho em universidades, escolas e paróquias e outros ministérios específicos como o Serviço Jesuíta aos Refugiados – temos uma longa e estimada tradição de acolher e acompanhar refugiados, independentemente de sua religião, quando iniciam uma nova vida nos Estados Unidos. Continuaremos este trabalho defendendo e mantendo a solidariedade com todos os filhos de Deus, sejam eles muçulmanos ou cristãos.
O mundo é profundamente problemático, e muitos dos nossos irmãos e irmãs estão, com razão, aterrorizados. Nossa identidade católica e jesuíta nos pede para acolher o estrangeiro e aceitar diferentes tradições de fé e cultura com abertura e compreensão. Não devemos nos atemorizar. Devemos continuar a defender os direitos humanos e a liberdade religiosa. Como disse o Papa Francisco: “Não se pode ser cristão sem viver como cristão”.
Queridos irmãos e amigos:
Escrevemos para manifestar-lhes a nossa consternação ao ver como o modo de falar da nova administração sobre a imigração tomou um tom mais agudo e abertamente xenófobo. Não há dúvida de que a recente disposição do governo contradiz uma obrigação fundamental da nossa tradição judeu-cristã: “amem o imigrante, porque vocês foram imigrantes no Egito” (Dt 10, 19) e “eu era estrangeiro e me receberam em sua casa” (Mt 25, 35). Também o Papa Francisco foi claro: ele nos chama para “ver um raio de esperança... nos olhos e nos corações dos refugiados e daqueles que foram violentamente deslocados” e para servir os imigrantes e refugiados o quanto for possível. Pelo contrário, o decreto do Presidente impiedosamente manda voltar um grande número de mulheres e crianças aos horrores da guerra, da fome, da repressão massiva e mesmo da morte.
Saímos recentemente da nossa 36ª Congregação Geral que declarou que “diante das atitudes de hostilidade para com estas pessoas [deslocadas, inclusive refugiados e migrantes], a nossa fé convida a Companhia a promover, onde quer que seja, uma cultura da hospitalidade mais generosa”.
Como membros de uma ordem religiosa global que trabalha para formar homens e mulheres conscientes e compassivos, denunciamos, de forma inequívoca, o Decreto executivo da Administração Trump como uma afronta à nossa missão e uma agressão aos valores americanos e cristãos e como uma rejeição da nossa humanidade. Nenhuma região do nosso país beneficiou-se tanto com a contribuição dos emigrantes como o oeste. Elevamos a nossa voz individual e coletiva contra as políticas severas e desumanas da atual administração, que não se importa em levantar um muro e bater a porta na cara das pessoas mais vulneráveis do mundo.
Nestes dias difíceis, renovamos o nosso compromisso para sermos construtores de pontes entre pessoas de diferentes pontos de vista políticos, ao mesmo tempo que também mantemos firmemente os valores do Evangelho e da nossa Doutrina Social Católica.
Em união de oração, seus em Cristo,
Scott Santarosa, S.J. (Provincial da Província do Oregón)
Michael Welier, S.J. (Provincial da Província da Califórnia)
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Os bispos dos Estados Unidos e do México deverão se reunir para denunciar o “muro da exclusão” proposto por Trump - Instituto Humanitas Unisinos - IHU