09 Fevereiro 2017
Em 2007, a construção de tecnologias sociais para a produção de alimentos no Semiárido brasileiro ganhou escala com o início da ação do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da ASA. Uma década depois, 136 mil famílias agricultoras, segundo dados do Governo Federal, guardam água da chuva - em reservatórios como cisternas-calçadão, barragens e barreiros - que antes seria desperdiçada pela falta de estrutura para armazená-la. Com esse estoque, as famílias se mantêm produtivas no período seco, inclusive, nas longas estiagens como a atual, que se estende por seis anos. Os alimentos são produzidos para autoconsumo e o excedente é comercializado, gerando renda.
A reportagem é de Verônica Pragana e publicado por Articulação do Semi-Árido - ASA, 07-02-2017.
Das 136 mil famílias agricultoras com as tecnologias de segunda água em todo o Semiárido, 69,7% foram atendidas diretamente pelo P1+2. Boa parte das demais famílias (as 30% restantes) foi contemplada com as tecnologias disseminadas pelas organizações da ASA via convênios com os governos estaduais utilizando a mesma metodologia do programa. Atualmente, estima-se uma demanda reprimida de 900 mil famílias agricultoras.
Na quinta-feira passada (2), o P1+2 completou 10 anos de realização do seu primeiro encontro de planejamento em um momento semelhante, quando se avalia e planeja as novas etapas do programa com financiamento da Fundação Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e Governo Federal. Além destes parceiros, ao longo da caminhada de uma década, as ações do P1+2 foram apoiadas também pela Petrobras, a Fundação Pepsico e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS).
Apesar das tecnologias terem um papel extremamente importante e impactante para a segurança alimentar das famílias difusas do Semiárido rural, um dos grandes trunfos da metodologia do P1+2 é o estímulo à construção de conhecimentos vindos dos próprios agricultores e agricultoras. Desconsiderada pela educação formal, essa sabedoria popular é um dos grandes tesouros que se multiplica e ganha força no programa.
São vários os momentos em que isto acontece: quando os agricultores e agricultoras se encontram nos cursos de formação sobre diversos assuntos relacionados com a convivência com o Semiárido, quando vão para os intercâmbios intermunicipais e interestaduais e quando têm sua experiência de vida sistematizada e transformada em boletins impressos numa tiragem de mil exemplares que são distribuídos pela família e se espalham por todo o Semiárido. A versão digital dos boletins também está disponível para acesso pelo portal da ASA.
“O P1+2 aumentou o cabedal da ASA na produção de conhecimento. Cada intercâmbio e cada boletim que o programa fez nestas 10 anos de existência contribuíram para que o conhecimento aumentasse e circulasse no Semiárido. E esse conhecimento, oriundo dos agricultores e agricultoras, foi e é instrumento da mudança do Semiárido para melhor”, destacou Naidison Baptista, coordenador executivo da ASA pelo estado da Bahia.
Esta região equivale a 12% do território nacional e concentra grande parte das propriedades da agricultura familiar do Brasil. Na Bahia, por exemplo, 2/3 das famílias agricultoras estão localizadas na faixa semiárida do estado. De acordo com o Censo Agropecuário 2006, a agricultura familiar é a base econômica de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes, responde por 35% do produto interno bruto nacional e absorve 40% da população economicamente ativa do país. Ela abastece os brasileiros e brasileiras com 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz e 21% do trigo consumidos no país.
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Há dez anos ASA promove o acesso à água de produção para famílias agricultoras do Semiárido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU