09 Dezembro 2016
Francisco considerou que "os meios de comunicação têm uma grande responsabilidade", porque em suas mãos está "a possibilidade e a capacidade de formar opiniões", mas advertiu ao mesmo tempo sobre os "danos" que podem causar.
A reportagem é de Washington Uranga, publicada por Página/12, 08-12-2016. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Em uma entrevista à revista semanal católica Tertio, e divulgada ontem pelo Vaticano, o Papa Francisco considerou que "os meios de comunicação têm uma grande responsabilidade", porque em suas mãos está "a possibilidade e a capacidade de formar opiniões", mas ao mesmo tempo advertiu sobre o "dano" que podem causar. Entre os prejuízos que podem provocar, Bergoglio mencionou a "difamação". Sobre isto, Francisco afirmou que "no processo de difamação, são desengavetados arquivos que expõem algo seu que é verdade, mas que ficaram guardados no passado - como dizemos na Argentina, faz-se um "carpetazo". De acordo com o Papa, " Ninguém tem direito a isso. Isso é pecado e faz mal".
A pergunta sobre os meios de comunicação foi feita pelos entrevistadores em um questionário mais amplo, mas foi uma das que mais obteve a atenção do Papa.
Bergoglio valorizou a contribuição dos meios de comunicação assinalando que eles "são construtores de opinião e podem edificar e fazer um bem realmente imenso", pois "podem formar boas e más opiniões" e "construir uma sociedade". Segundo Francisco, os meios de comunicação "são para construir, para intercambiar, para confraternizar, para fazer pensar, para educar" e, portanto, "em si mesmas, são positivas".
No entanto, continuou refletindo o Papa, "como todos nós somos pecadores, a mídia também podem vir a causar danos - àqueles que são o foco da mídia, como eu que estou aqui, usando um meio da comunicação". Bergoglio opinou a respeito das "tentações" dos meios de comunicação, resumidas por ele em quatro: calúnia, difamação, desinformação e sensacionalismo.
No que diz respeito às calúnias, o Papa disse que os meios "podem ser tentados pela calúnia (usada para caluniar e sujar as pessoas), especialmente no mundo da política". E podem também ser usados para a difamação, sustentou. E esclareceu que "todas as pessoas têm o direito a uma boa reputação, mas em sua vida anterior, sua vida passada, ou há dez anos atrás, ter um problema com a justiça, ou um problema em sua vida familiar... então, trazer essas coisas para a luz hoje em dia é grave, machuca", porque "isso anula uma pessoa".
Francisco distinguiu que, "na calúnia, se diz uma mentira de uma pessoa". Ao invés disso, "no processo de difamação, são desengavetados arquivos que expõem algo seu que é verdade, mas que estava encoberto no passado - como dizemos na Argentina, faz-se um "carpetazo", disse Bergoglio fazendo uso de uma terminologia argentina que ele costuma introduzir tanto em suas entrevistas como em várias de suas intervenções formais. "Talvez (essa pessoa) já tenha pago pelo delito com a prisão, com multa, ou com o que quer que seja", continuou ele. "Ninguém tem direito a isso (ao ‘carpetazo’). Isso é pecado e faz mal", destacou.
Francisco também se referiu à desinformação, observando que "pode causar muitos prejuízos". Porque "frente a qualquer situação, conta-se uma parte da verdade e não a verdade inteira. Não! Isso é desinformar. Porque fornecem apenas a metade da verdade ao espectador. E, portanto, não se pode fazer um julgamento sério sobre a verdade completa".
Em suas declarações à Tertio, o Papa assegurou que "a desinformação é provavelmente o maior prejuízo que a mídia pode causar", porque "orienta a opinião em uma direção, removendo a outra parte da verdade."
Por fim, Bergolio disse que "os meios de comunicação têm que ser limpos e transparentes". Afirmou que não devemos cair no "sensacionalismo da imprensa marrom: que busca sempre comunicar o escândalo, comunicar o que é feio, mesmo que seja verdade. E como as pessoas têm a tendência ao sensacionalismo, muitos prejuízos podem ser causados".
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