Por: Jonas | 04 Agosto 2016
O Papa Francisco se encontrou com os bispos poloneses, durante a Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia. Foi um diálogo à porta fechada, realizado no dia 27 de julho, na Catedral. O padre Federico Lombardi, há dois dias ex-diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, havia indicado que se tratou de um encontro em um clima “muito simples e familiar”, e tinha insistido em que “a maior parte dos bispos é simples, não são as velhas guardas que apresentam um pouco de dificuldades, mas não é que existam mistérios, o encontro aconteceu com absoluta familiaridade”. Nenhum mistério, de fato, pois, hoje, o Vaticano publicou a transcrição do encontro com os bispos poloneses, que fizeram quatro perguntas ao Papa. O tema da teoria de gênero foi um dos assuntos especialmente enfrentados pelo Papa Bergoglio, que afirmou que está de acordo com seu predecessor Bento XVI: “Esta é a época do pecado contra o Criador”.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada por Vatican Insider, 02-08-2016. A tradução é do Cepat.
“Na Europa, na América, na América Latina, na África, em alguns países da Ásia, há verdadeiras colonizações ideológicas – repetiu. E uma destas, digo claramente, com ‘nome e sobrenome’, é a teoria de gênero”. “Hoje, às crianças (às crianças!) se ensina isto na escola: que cada um pode escolher o sexo. E por que ensinam isto? Porque os livros são das pessoas e das instituições que lhe dão o dinheiro. São as colonizações ideológicas, apoiadas também por países muito influentes. E isto é terrível. Conversando com o Papa Bento XVI – fez referência -, que está bem e tem um pensamento claro, disse-me: ‘Santidade, esta é a época do pecado contra Deus, o Criador!’ É inteligente! Deus criou o homem e a mulher. Deus criou o mundo assim, assim e assim... e nós estamos fazendo o contrário”.
O Bispo de Roma também refletiu sobre a situação da paróquia, uma estrutura “sempre válida”, mas que deve ser renovada. “O problema – fez presente Francisco – é como concebo a paróquia! Há paróquias com secretárias paroquiais que parecem ‘discípulas de satanás’, que espantam as pessoas! Paróquias com as portas fechadas. Mas, também há paróquias com as portas abertas, paróquias nas quais, quando alguém vai perguntar, se diz: ‘Sim, sim! Diga, qual é o problema?’. E se ouve com paciência”.
O Papa ressaltou que, na atualidade, ser pároco é cansativo, mas “o Senhor nos chamou para que nos cansemos um pouquinho, para trabalhar, não para descansar”. Depois, contou o que acontecia em uma paróquia de Buenos Aires: “Quando os noivos chegavam: ‘Nós queremos nos casar aqui’. ‘Sim – dizia a secretária –, estes são os preços’. Isto não funciona, uma paróquia assim não funciona”, exclamou.
Sobre a descristianização: “a secularização do mundo inteiro é forte. É muito forte. Mas, alguns dizem: ‘Sim, é forte, mas se veem fenômenos de religiosidade, como se o sentido religioso tivesse sido despertado’. E isto também pode ser um perigo. Acredito que nós, neste mundo tão secularizado, também temos o outro perigo, da espiritualização gnóstica. Esta secularização nos dá a possibilidade de fazer crescer uma vida espiritual um pouco gnóstica”. Francisco recordou “que foi a primeira heresia da Igreja: o apóstolo João deu uma surra nos gnósticos (e como, e com que força!), onde há uma espiritualidade subjetiva, sem Cristo. O problema mais grave desta secularização, para mim, é a descristianização: tirar Cristo, tirar o Filho. Eu rezo, ouço... e nada mais. Isto é gnosticismo”. Encontrar, observou, “a Deus sem Cristo, um Deus sem Cristo, um povo sem Igreja. Por que? Porque a Igreja é a Mãe, a que lhe dá a vida, e Cristo é o Irmão mais velho, o Filho do Pai, que revela o nome do Pai. Uma Igreja órfã: o gnosticismo de hoje, posto que se trata de uma descristianização, sem Cristo, nos leva a uma Igreja, digamos melhor, a cristãos, a um povo órfão. E nós devemos fazer com que nosso povo ouça isto”.
O conselho do Pontífice: “A proximidade. Hoje, nós, servidores do Senhor (bispos, sacerdotes, consagrados, leigos convencidos), devemos estar perto do povo de Deus. Sem proximidade, só existe palavra sem carne”. Por isso, é necessário passar pelas obras de misericórdia, “tanto corporais, como espirituais”. “‘Mas, você diz estas coisas porque está na moda falar da misericórdia, neste ano’... Não! É o Evangelho! A proximidade é tocar a carne de Cristo que sofre”. E a Igreja, “a glória da Igreja – acrescentou – são os mártires, claro, mas há também muitos homens e mulheres que deixaram tudo e passaram suas vidas nos hospitais, nas escolas, com crianças, com os doentes”.
O Papa contou que em sua viagem à República Centro-Africana “havia uma freirinha, tinha 83 ou 84 anos, magra, boa, como uma menina... E veio me cumprimentar: ‘Eu não sou daqui, sou do outro lado do rio, do Congo, mas uma vez por semana venho fazer compra, porque é mais conveniente’. Disse-me a idade: 83-84 anos. ‘Há 23 anos, estou aqui, sou enfermeira obstetra, fiz nascer de dois a três mil bebês’. ‘Ah, e vem aqui sozinha?’ ‘Sim, com a canoa...’ Aos 83 anos! Com a canoa se lançava uma horinha e chegava”. Para Jorge Mario Bergoglio, “esta mulher, e muitas como ela, deixaram seu país (é italiana, de Brescia) para tocar a carne de Cristo. Se vamos até estes países de missão, na Amazônia, na América Latina, nos cemitérios encontramos as sepulturas de muitos homens e mulheres, religiosos que morreram jovens por causa de doenças daquela terra, que não tinham anticorpos e morriam jovens”.
O Papa disse que “a questão da misericórdia não é uma coisa que me ocorreu. Este é um processo. Se olharmos, o beato Paulo VI já expunha algumas coisas sobre a misericórdia. Depois, São João Paulo II foi o gigante da misericórdia, com a Encíclica ‘Dives in misericordia’, a canonização de Santa Faustina, e depois a oitava de Páscoa: morreu antes desse dia”, a Festa da Divina Misericórdia, instituída pelo mesmo.
Falando sobre o assassinato do padre Jacques Hamel, afirmou: “Ideologias, sim, mas como é a ideologia de hoje, que está no centro e que é a mãe das corrupções, das guerras? A idolatria do dinheiro. O homem e a mulher já não são o ápice da criação, aí colocaram o dinheiro, e tudo se compra e se vende por dinheiro. No centro, o dinheiro”.
“Um grande católico me contou, escandalizado – continuou –, que foi ver um amigo empresário: ‘Vou lhe ensinar como ganho 20.000 dólares sem sair de minha casa’. E com o computador, da Califórnia, fez uma compra de não sei que coisa e a vendeu na China. Em 20 minutos, em menos de 20 minutos, havia ganhado os 20.000 dólares. Tudo é líquido!”.
Sobre os migrantes disse que, ao conversar com economistas mundiais, “que veem este problema, dizem: ‘Nós temos que investir naqueles países”, dos quais provêm. “Fazendo investimentos – explicou – terão trabalho e não precisarão migrar. Mas, tem a guerra!” A guerra “das tribos, algumas guerras ideológicas ou algumas guerras artificiais, preparadas pelos traficantes de armas que vivem disto: dão as armas para você que está contra aqueles, e àqueles que estão contra você. E assim eles vivem! De verdade, a corrupção é a origem da migração”. Então, “o que é necessário fazer? Eu acredito que cada país deve ver como e quando: nem todos os países são iguais; nem todos os países possuem as mesmas possibilidades. Sim, mas eles têm a possibilidade de ser generosos! Generosos como cristãos. Não podemos investir ali, mas para aqueles que vem... Quantos e como?”.
Não é possível “dar uma resposta universal, porque a acolhida depende da situação de cada país e também da cultura. Mas, claro que é possível fazer coisas. Por exemplo: a oração. Uma vez por semana, a oração ao Santíssimo Sacramento, com oração por todos os que batem nas portas da Europa e não conseguem entrar. Alguns conseguem, outros não... Depois, entra um e empreende um caminho que gera medo”. Há países “que souberam integrar bem os migrantes, há anos! Souberam integrá-los bem. Em outros, infelizmente, se formaram como guetos”. Há uma “reforma que é necessário fazer em nível mundial sobre este compromisso, sobre a acolhida. Mas é, de qualquer forma, um aspecto relativo. Absoluto é o coração aberto a acolher. Isto é o absoluto! Com a oração, a intercessão, fazer o que eu posso. Mas, o problema é mundial! A exploração da Criação e a exploração das pessoas. Nós estamos vivendo um momento de aniquilação do homem como imagem de Deus”.
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“Bento XVI tem razão: é a época do pecado contra o Criador”, afirma Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU