Santa Maria, Mãe de Deus – Ano C – O chamado à humanidade para cuidar da vida e a construir a paz

Ícone da Theotókos de Vladimir, século XII.

26 Dezembro 2024

"Nesse início de ano, qual atitude devemos assumir? A resposta está em Lc 2,16-21, que descreve a primeira comunidade ao redor de Jesus, com Maria, José, os pastores e pessoas das periferias. Os pastores, ao ouvirem o anúncio dos anjos, abandonam seus postos para ir ao encontro do Menino Jesus. A atitude dos pastores é de urgência e de prioridade ao encontro com Jesus. Eles, que não estavam sem fazer nada, estavam trabalhando, deixam tudo para testemunhar o nascimento do Salvador, revelado a pessoas simples, marginalizadas, mal vistas por alguns comportamentos não adequados.

A reflexão é de Zuleica Aparecida Silvano, fsp, religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas. Ela possui licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (1999), graduação em Teologia pelo Instituto Santo Inácio - ISI (2001), em Belo Horizonte, mestrado em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico - PIB (2009) de Roma e doutorado em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE (2018), em Belo Horizonte. Pertence aos Grupos de Pesquisa: A Bíblia em Leitura Cristã (FAJE) e Bíblia e Interpretação: linguagens da Escritura (PUC-MG). É professora na FAJE, assessora no Serviço de Animação Bíblica (SAB/ Paulinas) e Centro Loyola (Belo Horizonte).

Leituras do dia

1ª leitura: Nm 6,22-27
Salmo: Sl 66(67),2-3.5.6.8 (R. 2a)
2ª leitura: Gl 4,4-7
Evangelho: Lc 2,16-21

Eis a reflexão.

Olá, amigas e amigos que acompanham o Ministério da Palavra na voz das mulheres. Hoje, dia 1º de janeiro, além das leituras, é importante lembrar a festa de Maria, Mãe de Deus, e o tema escolhido pelo Papa para o 58º Dia Mundial da Paz: “Perdoai-nos nossas ofensas: dai-nos vossa paz”, inspirado nas encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti. Também celebramos o ano jubilar, que marca os 2.025 anos da Encarnação de Jesus, com o tema “Ser peregrinos e peregrinas da esperança”.

I Primeira: Nm 6,22-27

A primeira leitura, extraída de Nm 6,22-27, traz uma bênção de Aarão, que inicia e termina com o verbo “abençoar”, enfatizando a presença constante de Deus. Ele se torna parceiro de caminhada, um Deus-Pastor que conduz o povo à liberdade e à vida. A certeza da presença de Deus é fundamental para nós e a bênção é sintetizada no valor da vida e no cuidado com ela. Esse aspecto é importante, pois, ao iniciar um ano, geralmente nos perguntamos: como será? O que irá acontecer? Não sabemos, pois tudo é imprevisível, mas essa bênção nos traz a certeza de que, independentemente do que acontecer, teremos a certeza de que, ao longo do ano, seremos acompanhadas, protegidas pela presença de Deus e pela sua face misericordiosa e compassiva, nos convidando a sermos testemunhas do compadecer e da benevolência divina.

Evangelho: Lc 2,16-21

Mas, nesse início de ano, qual atitude devemos assumir? A resposta está em Lc 2,16-21, que descreve a primeira comunidade ao redor de Jesus, com Maria, José, os pastores e pessoas das periferias. Os pastores, ao ouvirem o anúncio dos anjos, abandonam seus postos para ir ao encontro do Menino Jesus. A atitude dos pastores é de urgência e de prioridade ao encontro com Jesus. Eles, que não estavam sem fazer nada, estavam trabalhando, deixam tudo para testemunhar o nascimento do Salvador, revelado a pessoas simples, marginalizadas, mal vistas por alguns comportamentos não adequados.

Ao chegar, os pastores encontram a cena de um recém-nascido em faixas, na manjedoura e um jovem casal. Esse é o sinal da Boa-Nova, uma cena cotidiana, plena de ternura, um bebê que necessita de cuidados para viver, sendo assistido por sua mãe, que o envolve em faixas e o coloca numa manjedoura.

Maria, ao cuidar do Filho de Deus, representa a humanidade chamada a cuidar da vida, especialmente das mais fragilizadas. O fato de Jesus ser colocado em uma manjedoura, num lugar humilde, nos ensina que o sinal é a fragilidade de uma vida repleta de dignidade e cuidado.

O segundo elemento que nos chama a atenção é a atitude de anunciadores dos pastores. Assim, entendemos que a contemplação do mistério de Deus não é algo individual, mas comunitário; é um processo que vai sendo desvelado. Maria, ao ouvir os anjos, Isabel e os pastores, vai compreendendo o mistério de Deus aos poucos, como se fosse pequenos pedaços do grande mosaico do mistério da salvação. O mistério de Deus se revela por meio de outras pessoas e de gestos cotidianos, mas é necessário estarmos atentas para percebê-lo, como os pastores que escutam e vão apressadamente para ver a palavra, a palavra que assumiu a condição humana, que se fez carne. Lá, anunciam, e Maria, numa atitude contemplativa, reúne esses anúncios e os decanta em seu coração, mesmo que, nesse momento, não seja capaz de entender toda a grandeza dessa manifestação de Deus.

Segunda Leitura – Gl 4,4-7

Em Gl 4,4-7, somos lembrados da grande bênção da presença de Deus, que se concretiza na Encarnação do Filho de Deus. Ele é enviado ao mundo para nos ensinar a humanizar nossas relações e nos resgatar, tornando-se nosso parente próximo. Por meio d’Ele, Deus também nos envia o Espírito Santo, que, em seu processo de esvaziamento (kénosis), se restringe ao nosso coração para clamar a oração do Filho: “Abbá, ó Pai”, nos fazendo tomar consciência de que somos filhas, filhos, mas também irmãs e irmãos entre nós. Somos comunidade de iguais, pela graciosidade divina e pelo batismo. Tomemos consciência de que somos filhos e filhas adotivas de Deus e, portanto, livres.

Neste início de ano, celebrando Maria como Mãe de Deus e o Dia Mundial da Paz, somos chamadas a ser pessoas que cuidam da vida onde ela clama, com delicadeza e ternura, reconhecendo o direito de todos e todas a uma vida digna, independentemente de sua condição.

Neste dia, primeiro do ano, podemos nos perguntar: como estamos cuidando uns dos outros, da Casa Comum e de nós mesmas/mesmos? Como promoveremos a paz, a reconciliação e a esperança? Estamos atentas/os aos sinais de Deus nos gestos simples da vida cotidiana? Ouvimos o Espírito Santo em nossos corações, clamando a oração do Filho? Que consequência isso traz para nossa vida de batizados e batizadas? Somos sentinelas da esperança? Como desejamos viver este ano santo, este ano jubilar?

Desejo a todos e todas um lindo domingo e um Feliz 2025!

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