A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Joao 15,1-8 que corresponde ao 5° Domingo de Páscoa, ciclo B do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
"Eu sou a verdadeira videira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão fruto, ele os poda para que deem mais fruto ainda. Vocês já estão limpos por causa da palavra que eu lhes falei. Fiquem unidos a mim, e eu ficarei unido a vocês. O ramo que não fica unido à videira não pode dar fruto. Vocês também não poderão dar fruto, se não ficarem unidos a mim. Eu sou a videira, e vocês são os ramos. Quem fica unido a mim, e eu a ele, dará muito fruto, porque sem mim vocês não podem fazer nada. Quem não fica unido a mim será jogado fora como um ramo, e secará. Esses ramos são ajuntados, jogados no fogo e queimados."
"Se vocês ficam unidos a mim e minhas palavras permanecem em vocês, peçam o que quiserem e será concedido a vocês. A glória de meu Pai se manifesta quando vocês dão muitos frutos e se tornam meus discípulos."
Neste domingo, o Evangelho de João nos oferece as palavras de Jesus ao grupo que está sempre ao seu lado. São palavras de encorajamento no caminho, de força, sobretudo nos momentos difíceis, e ao mesmo tempo oferecem uma luz que orienta e ilumina.
Jesus utiliza a imagem da videira para se referir a si próprio e, em função dela, dirá que o seu Pai é o vinhateiro e a comunidade é como os ramos: "Vós sois os ramos".
Detemo-nos na imagem do Pai como o vinhateiro que cuida da sua vinha com um amor ciumento, que a vê crescer, que está atento às suas dificuldades para a "podar" e assim gerar um melhor crescimento. Ele próprio plantou essa vinha, que é o seu Filho, e à sua volta cresceram os ramos, como aquele grupo cheio de vida que segue Jesus, cativado pelas suas palavras, gestos e ações.
A videira cresce sob o olhar amoroso do Pai, desde o momento da encarnação, como aquela semente de eternidade plantada na nossa terra no seio de Maria. O Pai dá-nos a sua videira e, através dela, dá-nos a seiva que, como verdadeiro nutriente, alimenta a nossa vida e a enche da alegria da sua presença. Ele é o vinhateiro e nós pertencemos à sua vinha, estamos nela, com a originalidade própria de cada criatura. Ele é o criador que cuida de nós e nos alimenta com a sua vitalidade.
Neste domingo, continuamos a celebrar a Páscoa, a morte e a ressurreição de Jesus, que hoje se identifica com a Videira e que, através das suas palavras, nos aproxima do mistério de um Deus que é Pai e que nos ama com um amor incondicional. Nada nos pode separar do seu Amor que nos abraça desde o momento do nosso nascimento, mas podemos viver sem o saber ou sabendo-o ao longo da nossa vida.
Deus Pai é aquele vinhateiro sábio e amoroso, atento a cuidar de cada rebento que está para nascer e também daquilo que pode prejudicar o crescimento e a fecundidade do ramo. Jesus convida-nos a permanecer unidos a Ele, como o ramo à videira. Somos ramos pequenos ou grandes convidados a estar unidos a Ele, a deixar que a sua seiva flua em nós e alimente a nossa vida.
Como é possível que um ramo se separe de uma árvore ou um ramo da videira? Estamos habituados a ver árvores nas bermas das estradas, no meio de uma estepe ou nas ruas da cidade. Árvores de grandes troncos que crescem à procura de luz, alimentadas por uma vida não visível aos nossos olhos que são as suas grandes raízes que se espalham pela terra sustentando essa vida que é refúgio de novidade, espaço onde os pássaros fazem os seus ninhos e se desenvolvem, proteção contra as inclemências do tempo, abrigo de tantas vidas e cores. Cada árvore precisa do seu tempo e do seu espaço, tem a sua singularidade e particularidade que, por vezes, aos nossos olhos pouco habituados, pode tornar-se uma raridade. Tamanho, ramos, folhas, cores compõem esta variedade significativa que Deus nos deu. Nelas pulsa uma vida que procura o sol e recolhe a luz que a alimenta e é sustentada pela água e pelos nutrientes da terra. Não podemos imaginar uma árvore sem ramos porque é algo constitutivo, algo que faz a árvore, senão seria um simples tronco.
Do mesmo modo, não podemos imaginar uma videira sem ramos. A videira existe para dar fruto e fruto abundante. Jesus toma esta imagem da videira e dos ramos como símbolo do laço que nos une a ele e do qual o Pai cuida com amor contínuo. É um laço que já está semeado no âmago do nosso ser, mas do qual Jesus nos convida a "darmo-nos conta", a reconhecê-lo, a abrir o nosso espaço interior e o das nossas comunidades, para que a sua Vida possa fluir em toda a sua força. Quando Jesus fala de permanência, não se refere a ficar no mesmo sítio sem mudar. Ele apresenta-nos a imagem do ramo unido à videira, referindo-se assim a uma ligação especial, através da qual flui a vida, a seiva que os alimenta mutuamente. Trata-se de uma troca silenciosa e profunda, que alimenta e liga as duas partes de tal forma que se tornam quase inseparáveis.
Neste domingo, somos convidados a reconhecermo-nos como ramos de uma grande videira que o Pai semeou na nossa terra e da qual cuida com profundo amor. Ele é o Vinhateiro e sob o seu olhar amoroso vivemos, movemo-nos e damos fruto. Talvez seja necessário deixar de fazer coisas "para agradar a Deus" ou simples esforços para permanecer nele e dar espaço à seiva do seu Espírito que nos ajuda a reconhecê-lo presente no nosso ambiente, na nossa vida e nas nossas comunidades.
Oração: Luz
Não nos chamas
a iluminar as sombras
com frágeis velas
protegidas dos ventos
com as palmas da mão,
nem a ser puros espelhos
que refletem luzes alheias,
cotizadas estrelas
dependentes de outros sois,
que como amos da noite
fazem brilhar as superfícies
com reflexos passageiros
ao seu bel prazer.
Tu nos ofereces
ser luz desde dentro, (Mt 5,14)
corpos acesos
com teu fogo inextinguível
na medula do osso (Jr 20,9)
sarças ardentes
nas solidões do deserto
que buscam o futuro (Ex 3,2)
rescaldo de lar
que congrega os amigos
compartilhando pão e peixes (Jo 21,9)
ou relâmpago profético
que risque a noite
tão dona da morte.
Tu nos ofereces
ser luz do povo (Is 42,6)
fogueiras de pentecostes
na persistente combustão
de nossos dias
acesos por teu espírito,
ser luz em ti,
que és a luz,
fundido inseparavelmente
nosso fogo com teu fogo.
Benjamín G. Buelta, sj