"Na explicação da parábola Jesus ressalta a importância da acolhida da semente, que só pode frutificar no coração de quem se esforça para ser a terra boa, que oferece as condições essenciais para que a Palavra de Deus semeada se torne fruto na vida daqueles que à acolhe. Assim a parábola narrada por Jesus é um forte convite para seus discípulos refletirem sobre seu significado. Que tipo de terreno somos nós? Hostil como o terreno pedregoso e cheio de espinho ou como a terra boa que acolhe. Jesus apresenta os vários tipos de terreno. Aqueles nos quais a Palavra de Deus semeada jamais consegue penetrar porque são demasiadamente duros e não oferecem condições para que a semente germine. Outros, são inconstantes, e inicialmente a Palavra pode ser acolhida, mas com as dificuldades não dá condições para que a palavra crie raízes, porque as propostas interessantes desse mundo sufocam as sementes do Reino de Deus. Por fim, a terra boa simboliza aquelas pessoas que se abrem à Palavra, apesar de todos os desafios que ela apresenta."
A reflexão é de Izabel Patuzzo, religiosa da Congregação das Missionárias da Imaculada - MdI. Ela é mestra em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e possui graduação em Filosofia pelo Centro Universitário Assunção (1992). Atualmente é membro da Comissão Regional Sul 1 da CNBB para Animação Bíblica da Pastoral. Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Prática, atuando principalmente nos seguintes temas: manual de catequese ticuna, tradições sagradas, resistência, poder pastoral, Papa Francisco, povos originários, histórias sagradas e antigo testamento. Escreve roteiros homiléticos para a Revista Pastoral.
1ª Leitura - Is 55,10-11
Salmo - Sl 64,10.11.12-13.14 (R. Lc 8,8)
2ª Leitura - Rm 8,18-23
Evangelho - Mt 13,1-23
Na primeira leitura deste domingo (Is 55,10-11), o Profeta Isaías nos recorda que a Palavra de Deus se destina a produzir frutos em nossa vida. O profeta compara a fecundidade da palavra de Deus como a chuva. Assim como a água é essencial para que a vida se desenvolva na natureza, igualmente para os discípulos e discípulas do Senhor Jesus Cristo, a Palavra de Deus é a fonte de nosso agir cristão.
A segunda leitura (Rm 8,18-23), retirada da carta de Paulo aos cristãos de Roma, o apóstolo faz uma catequese para que a comunidade acolha o dom da salvação como fruto da bondade e do amor de Deus. Essa salvação que nos chegou por meio de Jesus Cristo, atua em nós por meio da ação do Espírito Santo. Segundo o Novo Testamento, a conclusão do plano salvífico de Deus, em Jesus Cristo se conclui com a descida do Espírito Santo sobre a comunidade reunida em oração no Cenáculo. E a última ação do Ressuscitado, antes da sua Ascenção, é a promessa que seríamos revestidos da força do alto, para ir e produzir muitos frutos até os confins do mundo.
O Evangelho (Mt 13, 1-23), em linguagem parabólica, nos exorta a acolher a Palavra de Deus, como terra boa, que dependendo de nossa fidelidade à Palavra, frutifica cem, sessenta e trinta por um. Deus não olha para a quantidade, mas pela nossa disposição interior de produzir frutos para o Reino de Deus.
O texto da primeira leitura de hoje pertence à segunda parte do livro do profeta Isaías, também chamado de Deutero-Isaías. Este profeta anônimo que pertence á comunidade profética de Isaías, exerce sua missão entre o povo exilado na Babilônia. Diante da dura realidade de se encontrar em terras estrangeiras, distante do Templo e da terra, o profeta exorta a comunidade dos fiéis a acreditar na força da Palavra de Deus, pois, independentemente das circunstâncias, e do lugar onde se encontram, a Palavra de Deus com certeza produz frutos, na vida daqueles a guardam e observam.
Certamente, a comunidade dos exilados ouviu muitas outras vozes, todo tipo de promessas de autoridades terrenas que não cumpriram com sua palavra. É possível que estavam fartos de falsas promessas, de palavras que não eram verdadeiras, e isso levou ao desânimo, a desacreditar na força e na importância da Palavra. Por isso, o profeta Isaías consola a comunidade dos fiéis, levando-os a perceberem que Deus é fiel à sua Palavra. Desde o princípio do mundo, a palavra divina possui em si a força criadora de vida e vida em plenitude.
Para expressar a ideia da fecundidade da Palavra de Deus, o profeta utiliza a metáfora da chuva e da neve. A chuva e a neve descem do céu, e para lá não voltam, sem antes produzir frutos. Nós todos conhecemos este fenômeno da natureza. Sabemos o quanto é importante a chuva para todos os seres da natureza. A imagem da chuva serve para compreendermos o quanto a Palavra de Deus é importante em nossa vida. Como a chuva faz toda terra frutificar, alimentando as plantas e todos os seres vivos, a palavra divina é essencial para alimentar nossa vida espiritual. Ela é como essa água bendita que com certeza gera essa vida plena que alimenta o povo de Deus.
A segunda leitura da liturgia deste domingo, apresenta uma catequese do apóstolo Paulo à comunidade dos cristãos de Roma, acerca do caminho que deve ser percorrido para abraçar uma vida segundo o Espírito. Sua concepção acerca do plano salvífico de Deus para toda a humanidade, toda a criação depende de uma vida orientada pelo Espírito Santo. O pecado está em oposição à escolha de uma vida segundo o Espírito. Escolher o pecado, significa optar pela morte, enquanto a vida segundo o Espírito é escolher sempre a vida.
Em suas palavras, toda a criação geme e espera que o ser humano escolha por uma vida segundo o Espírito, que conduz ao cuidado de toda a obra da criação. O egoísmo, a falta de solidariedade, de respeito pela vida faz com que toda a criação padeça. Portanto, para Paulo, a escolha por uma vida segundo o Espírito tem consequências cósmicas; é benéfica para toda a natureza. Uma vida assim, conduzida pelos critérios de Deus, gera respeito, amor, solidariedade, cuidado com a vida de todos os seres viventes na natureza.
Na perspectiva desta leitura, a vida segundo o Espírito se caracteriza pela libertação de todas as formas de escravidão que explora de forma violenta os bens da natureza, destruindo as condições de habitabilidade em nosso planeta, não apenas para o ser humano, mas também da fauna e da flora. Por isso Paulo fala da esperança de todas as criaturas que aguardam pela libertação dessa escravidão, quando nós escolhemos por uma vida que se inspira no Espírito de Deus, que é o Espírito de vida.
3. Evangelho: Mt 13,1-23
O texto do Evangelho de hoje está inserido no contexto das sete parábolas do Reino, segundo o relato de Mateus. A leitura apresenta três partes: a parábola do semeador, o propósito da parábola e a explicação da parábola. Na última parte, Jesus assume o papel de hermeneuta de seus discípulos, visto que eles têm dificuldades de entender o sentido da parábola.
A linguagem parabólica era comum no tempo de Jesus; era utilizada por muitos mestres judeus de sua época. As parábolas têm um fim didático, isto é, facilitar o aprendizado de um conteúdo ético, moral e religioso por meio da auto reflexão. A este ponto do Evangelho segundo Mateus, Jesus começa a enfrentar uma forte oposição das lideranças religiosas judaicas de seu tempo. Por isso, para falar da presença do Reino de Deus no meio do povo, Jesus escolhe a linguagem parabólica, que não estimula a argumentação, mas a reflexão pessoal diante do exposto.
A parábola do semeador reflete a própria ação de Jesus, que fala às multidões, chamando a todos para o caminho do discipulado. Ele é o primeiro que sai a semear a mensagem do Pai. Como bom semeador, Ele semeia com generosidade, em todos os tipos de terreno. Ele não exclui ninguém de sua ação evangelizadora. Até os terrenos mais impróprios recebem com generosidade as sementes do Reino. Jesus é o semeador, mas ao mesmo tempo a semente que morre para dar a vida. Segundo seu ensinamento é sempre tempo de sair e semear em todos os lugares.
Na explicação da parábola Jesus ressalta a importância da acolhida da semente, que só pode frutificar no coração de quem se esforça para ser a terra boa, que oferece as condições essenciais para que a Palavra de Deus semeada se torne fruto na vida daqueles que à acolhe. Assim a parábola narrada por Jesus é um forte convite para seus discípulos refletirem sobre seu significado. Que tipo de terreno somos nós? Hostil como o terreno pedregoso e cheio de espinho ou como a terra boa que acolhe. Jesus apresenta os vários tipos de terreno. Aqueles nos quais a Palavra de Deus semeada jamais consegue penetrar porque são demasiadamente duros e não oferecem condições para que a semente germine. Outros, são inconstantes, e inicialmente a Palavra pode ser acolhida, mas com as dificuldades não dá condições para que a palavra crie raízes, porque as propostas interessantes desse mundo sufocam as sementes do Reino de Deus. Por fim, a terra boa simboliza aquelas pessoas que se abrem à Palavra, apesar de todos os desafios que ela apresenta.
A parábola do semeador nos faz pensar em nossas comunidades cristãs que buscam continuamente se alimentar da Palavra de Deus. Como alimentamos nossa espiritualidade bíblica? Temos consciência de que de que é a Palavra anunciada, proclamada, meditada, partilhada, celebrada, que cria a comunidade e que a alimenta no dia a dia?
A semente que cai em terrenos hostis, duros, pedregosos e espinhosos nos faz pensar corações insensíveis, egoístas, orgulhosos, onde não há lugar para a Palavra de Jesus e para os valores do “Reino”. É a realidade de tantos homens e mulheres que veem no Evangelho um caminho para fracos e vencidos, e que preferem um caminho de independência e de autossuficiência, à margem de Deus e das suas propostas.
Por outro lado, a semente que caiu em boa terra e que deu fruto abundante nos faz pensar naquelas pessoas cujo corações são sensíveis e bons, capazes de aderirem às propostas do Reino de Deus anunciado por Jesus. É a realidade de tantos homens e mulheres que encontraram na proposta de Jesus um caminho de libertação e de vida plena e que, como Jesus, aceitam fazer da sua vida uma entrega a Deus e um dom aos homens.