10 Julho 2020
Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia. Numerosas multidões se reuniram em volta dele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé na praia.
E Jesus falou para eles muita coisa com parábolas: «O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os passarinhos foram e as comeram. Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. Porém, o sol saiu, queimou as plantas, e elas secaram, porque não tinham raiz. Outras sementes caíram no meio dos espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e renderam cem, sessenta e trinta frutos por um. Quem tem ouvidos, ouça!»
Leitura completa do Evangelho de Mateus 13,1-23 (Correspondente ao 15º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Na liturgia deste domingo continuamos com a leitura do evangelho de Mateus capítulo 13. Lembrem-se que este evangelho foi escrito perto dos anos 80 para um grupo de pessoas que seguia Jesus e que possivelmente estava desanimado pelas dificuldades que deviam enfrentar, a rejeição de um grupo de judeus da mensagem de Jesus. Era um grupo de cristãos desalentados, com diferentes posicionamentos sobre a pessoa de Jesus, discussões entre eles e sem saber qual o caminho a seguir.
O texto que lemos neste domingo busca esclarecer a dúvida sobre uma semente que é semeada com muita generosidade, mas não é acolhida por todos.
Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia.
“Jesus sai da sua casa”. Apresenta-se assim uma primeira atitude para aceitar sua mensagem. É preciso sair do espaço conhecido e seguro, sair do encerramento nas suas próprias ideias e critérios, da sua forma de pensar e de agir. Sair de si mesmo e segui-lo.
Ele se dirige ao mar da Galileia, lugar onde os primeiros discípulos escutaram o convite de Jesus a segui-lo, onde estão os pescadores no seu trabalho diário e o povo que escuta e acolhe sua mensagem. A mesma Galileia que era rejeitada pelos sumos sacerdotes e fariseus porque “Da Galileia não sai nenhum profeta” (Jo 7,53).
Numerosas multidões se reuniram em volta dele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé na praia.
Diante de Jesus há um público que deseja ouvir suas palavras, que possivelmente tenha perguntas. Às vezes imagina-se um grupo de pessoas quase passivas, que somente escuta, mas é preciso pensar nas divergências que talvez haja nessa multidão: pessoas que já o conhecem e escutam com interesse, outras que procuram conhecê-lo, as que tinham questionamentos, perguntas, as que discordavam com suas palavras ou desejavam milagres que não foram realizados. Ou seja, uma multidão, cada um com diferentes olhares e posicionamentos diante de Jesus e suas palavras.
“Jesus falou para eles muita coisa com parábolas”. Jesus começa sua prédica sentado numa barca, um pouco afastado da beira do mar e dirige-se em parábolas. Lembremos a importância das parábolas na pregação de Jesus. Por que Jesus usa este tipo de linguagem?
Como dizia o Cardeal Carlo Maria Martini: “De um lado, as parábolas são um verdadeiro ensinamento: elas falam de Deus, da sua obra, das consequências para a vida dos homens, da resposta que Deus espera; de outro lado, as parábolas são um ato de cortesia, de respeito pela liberdade dos homens, de condescendência, quase de ternura. Jesus é um verdadeiro mestre também por isso. Ele conhece o coração dos homens e, por isso, não tem pressa, sabe adequar-se ao passo do ouvinte, aceita também que este custe a entender, espera que mude de opinião e reveja algumas posições. Texto completo aqui.
“O semeador saiu para semear”. O semeador também deve sair para semear, como saiu Jesus da sua casa. Desta forma Jesus apresenta-nos uma pessoa em movimento, que caminha, e no seu caminho semeia uma semente que não sabemos qual é. É preciso mover-se e percorrer o solo para que a semente germine com o espaço que precisa. O semeador tem um objetivo: deseja que sua semente germine, cresça e produza fruto abundante.
As sementes caem em terrenos diferentes: “à beira do caminho”, “em terreno pedregoso, onde não havia muita terra”, “no meio dos espinhos” ou “em terra boa”. Diferentes cenários que nos levam a perguntar-nos quais são esses cenários hoje na nossa vida e na vida da nossa comunidade? Cada um deles tem sua originalidade, mas também sua particularidade para contribuir no crescimento da semente.
Se pensarmos num bom semeador, é difícil entender como ele não reconhece uma terra quando é pedregosa ou quando tem espinhos? Isso nos leva a pensar num semeador diferente, que não fica à procura daquilo que é considerado apto, do terreno indicado ou oportuno para acolher a semente. É um semeador que semeia gratuitamente, até podemos pensar excessivamente generoso. Jesus fala em parábolas para deixar a pergunta aberta: como é nossa terra?
O diverso tipo de solo onde caiu a semente trouxe consequências diferentes. E por isso o fruto não é o mesmo como apresenta-se na narrativa: “os passarinhos foram e as comeram”, “brotaram, mas a terra não era profunda e o sol saiu, queimou as plantas, e elas secaram, porque não tinham raiz”, “os espinhos cresceram e sufocaram as plantas” e outras “renderam cem, sessenta e trinta frutos por um”.
Jesus tenta responder à pergunta sobre por que nem todos os que escutam sua palavra a recebem e acolhem da mesma forma. Ele é generoso, mas a resposta de cada pessoa é livre. Ele não deixa de semear sua mensagem sempre e em toda pessoa, seja qual for sua realidade.
Neste domingo apresenta-se a concordância que deve existir entre a escuta da palavra e a germinação dela numa vida solidária e coerente com sua mensagem. No discípulo e discípula a Palavra, a semente recebida deve produzir fruto. Não há cristianismo que seja somente interno. A mensagem do Reino deve traduzir-se numa vida coerente.
Não há que pensar o ar para que se infiltre
até o último canto dos pulmões.
Nem há que imaginar a aurora
para que decore o novo dia
brincando com as cores e as sombras.
Não há que dar ordens ao coração tão fiel,
nem às células sem nome
para que lutem pela vida
até o último alento.
Não há que ameaçar aos pássaros para que cantem
nem vigiar os trigais para que cresçam
nem espiar a semente de arroz
para que se transforme
no segredo da terra.
Em exata dose de luz e de cor,
de canto e silêncio,
nos chega a vida sem ser notada,
dom incessantemente teu,
trabalhador sem sábado,
Deus discreto.
Para que tua infinitude
não nos espante,
Ofereces-te no dom
Em que te escondes.
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear internamente as coisas
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A eficácia da Palavra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU