"Peçamos ao Senhor Jesus Cristo, Palavra Viva do Pai, Verbo Encarnado, Palavra que nos revela Deus na nossa história para que sejamos fiéis e sempre atentos ao que sua Palavra nos diz, a fim de que sejamos anunciadores ao mundo desta Palavra que nos liberta, que nos livra de todas as prisões e nos dá discernimento na caminhada!"
A reflexão a seguir é de Dalva Maria de Almeida. Ela é leiga, possui graduação em pedagogia e psicopedagogia, bacharelado em teologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP e pós graduanda em alfabetização e letramento, e Antropologia Teológica. Atua como Ministra da Palavra e Catequista em sua comunidade na Diocese de Osasco/SP. Ela também integra o Conselho Regional de Leigos/as CnBB Sul 1 e colabora dos Cursos da SAB – Serviço de Animação Bíblica, promovidos pelas Irmãs Paulinas, com ênfase em Teologias Bíblicas e Visão Global da Bíblia.
1ª Leitura – Jeremias 1,4-5.17-19
Salmo - Sl 70,1-2.3-4ª.5-6ab.15ab.17 (R.15ab)
2ª Leitura – 1Cor 12,31-13,13
Evangelho - Lc 4,21-30
A Palavra de Deus neste 4º Domingo do Tempo Comum prossegue a caminhada iniciada no Tempo de Natal com vistas ao nascimento de Jesus, e hoje, nos propõe a sermos uma comunidade profética a serviço do Evangelho.
Os textos bíblicos na liturgia deste domingo nos dizem que desde o ventre materno fomos pensados por Deus e Ele nos confia uma imensa tarefa: o anúncio do seu amor por todos nós, por isso Ele nos ama, chama e nos envia!
Nos convida “a refletir sobre o ‘caminho do profeta’: caminho de sofrimento, de solidão, de risco, mas também caminho de paz e de esperança, porque é um caminho onde Deus está sempre presente.” [1]
Deus dá segurança ao profeta ao dizer: “não temas, porque Eu estou contigo”; e dá segurança a todos que se colocam neste caminho profético. Fala do amor como um dom ao nos apresentar o texto paulino e ressalta a rejeição sofrida por Jesus pelo seu próprio povo na Sinagoga de Nazaré.
Qual será, então, o propósito da Palavra de Deus neste domingo? O que ela nos ensina?
A primeira leitura (Jeremias 1,4-5.17-19) apresenta a figura do profeta Jeremias. Escolhido, consagrado e constituído profeta por Deus, Jeremias vai se defrontar com todo o tipo de dificuldades; mas não desistirá de concretizar a sua missão e de tornar uma realidade viva no meio dos homens a Palavra de Deus.
Aqui vale ressaltar que o próprio texto traz a reflexão de que antes dele se formar no ventre materno, o Senhor já o havia escolhido para uma missão. Neste relato surge uma questão muito importante e fundamental na vida de qualquer profeta ou daqueles que adquirem este múnus profético: ao entendimento sobre a vocação, como chamado e resposta. Quem chama e quem responde?
Quando falamos de vocação profética com base na de Jeremias, contemplamos o encontro dele com Deus e com sua Palavra, conforme o próprio texto nos diz: “A Palavra do Senhor foi-me dirigida” A Palavra de Deus deixa sua marca e assinala aqueles que a ela aderem e fazem dela o grande anúncio do Reino de Deus como resposta vocacional. E Deus escolhe e consagra Jeremias, capacita-o para o serviço e ele irá falar em seu nome!
Hoje em nossa realidade atual e numa sociedade onde as relações entre as pessoas se esfriaram dando lugar o individualismo e tantas outras formas de viver individualmente, urge aos profetas anunciarem este amor de Deus, para que se descaracterize nosso individualismo ou um agir em proveito pessoal. Lembrando que a iniciativa é sempre de Deus que espera uma resposta amorosa daqueles a quem ama e chama. Num momento podemos refletir com as próprias palavras de Deus: Não fostes vós me escolhestes, mas eu que vos escolhi para irdes e dar frutos abundantes. (Jo 15,'6)
Importante revisitar: Qual foi o ambiente e as situações que envolveram Jeremias quando chamado por Deus para uma missão profética?
O cenário e o ambiente onde está instalado Jeremias lhe é hostil, pessoas indiferentes e mergulhadas no pecado no reino de Judá. A tarefa é sempre denunciar a impiedade e a injustiça para que o povo volte ao Senhor.
Jeremias não desiste, pois é seduzido pelo Senhor, e deixa-se seduzir! Deixemo-nos seduzir também pelo Senhor! Peçamos por todos os profetas de nosso tempo que lutam contra os poderes deste mundo que massacram os mais frágeis e desprotegidos, e que possam para dar a todos uma vida cheia de justiça e felicidade.
Com o Salmo 70 como resposta à esta palavra podemos dizer: “A minha boca proclamará a vossa salvação!
Continuemos o caminho da palavra e acolhamos a segunda leitura: 1 Cor 12,31-13,13. O texto nos traz um belíssimo poema que no entender de Paulo é o caminho para o amor que se concretiza na caridade que fazemos.
Como falar de amor e de caridade num mundo tão cheio de contrariedades, de descasos, onde a Palavra nem sempre encontra espaço para ser lida, meditada, contemplada e praticada?
Precisamos retomar este texto que faz arder nosso ser e nos enche da vontade de amar e servir, aqui também temos os sinais da ação profética motivada pelo amor de irmãos. Nossa assembleia dominical está sempre unida em torno da Palavra, como assembleia de irmãos que se amam, que se acolhem, que se protegem, que celebra, que canta a vida e o amor, porque se não for o amor tudo que fizermos será em vão. Somos movidos pelo amor de Deus através dos irmãos. O amor é a essência da vida cristã. Sendo assim, pode a assembleia dominical reunida em torno da Palavra, recebendo a Eucaristia, com louvores e ação de graças, ser uma assembleia alheia uns aos outros, onde falta a caridade e o amor?
Antes de mais, convém dizer que o amor de que Paulo fala aqui é o amor tal como ele é entendido pelos cristãos: é o amor gratuito, desinteressado, sincero, fraterno, que se preocupa com o outro, que sofre pelo outro, que procura o bem do outro sem esperar nada em troca. Sem amor as melhores coisas se tornam sem sentido. Só o amor dá sentido à vida e às nossas ações. Vale ressaltar eu na lógica e no plano de Deus, o amor é uma pessoa: o próprio Deus que se manifesta em Jesus Cristo.
Qual lição para vida nos apresenta a segunda leitura?
Como estamos realizando a caridade em nossas comunidades, como a entendemos? Nossos serviços são feitos sem interesse pessoal? Servimos de coração aberto e com alegria? De forma gratuita?
O amor une os irmãos! É dom gratuito e divino! Onde há amor e caridade, Deus aí está!
O Senhor está chegando com sua Santa Palavra no Evangelho. O que nos apresenta o Evangelho deste 4º domingo do tempo comum (Lc 4,21-30)?
Neste contexto bíblico da palavra de Deus em nossas liturgia, o Evangelho é a palavra por excelência, e hoje traz como destaque “a Sinagoga de Nazaré”, onde Jesus pronuncia seu discurso dando uma continuidade ao evento da Palavra do Evangelho no domingo anterior da Festa do Batismo do Senhor.
Vamos nos localizar nesta passagem do Evangelho: Lucas 4,21-30 – A Sinagoga de Nazaré. Sabemos que a Sinagoga é local do culto judaico, mas usada como local de estudo bíblicos, orações e, muitas vezes, também como centro comunitário. Estamos na sequência do episódio que a liturgia de domingo passado nos apresentou. Jesus foi a Nazaré, entrou na sinagoga, foi convidado a ler um trecho do Profeta Isaías e a fazer o respectivo comentário, após realizar o que lhe foi pedido houve uma a reação dos habitantes de Nazaré à ação e às palavras de Jesus, mas também o posicionamento do próprio Jesus como um grande profeta e Mestre. Hoje se cumpriu esta Escritura que acabastes de ouvir! O povo pergunta: Não é este o Filho de José? Reações adversas à presença de Jesus: Nenhum profeta é bem aceito em sua terra natal, em seu território!
Jesus também enfrenta a decepção com seu povo e seus atos ruis, com a incompreensão, com a falta de credibilidade em Deus através dele, Jesus, que se encarna na história e se identifica para o povo.
Nazaré não acolhe a Jesus. Os seus o expulsam da sua cidade! E nós agimos da mesma forma?
Em Nazaré Jesus inicia a sua pregação e tem autoridade para ensinar como Mestre: “Deram-lhe o livro do profeta Isaías, ao terminar de lê-lo, enrolou o livro e entregou ao chefe da sinagoga, e sentou-se, esta é no tempo de Jesus a postura daquele que ensina na sinagoga. É interessante que a Palavra lida na sinagoga fala dele e de sua ação salvadora para aqueles que creem. E traz testemunhos dos que antecederam a história como exemplo de fé e mudança de vida para que dê tempo para o arrependimento.
O que levamos para a vida após a reflexão da Palavra de Deus da liturgia deste 4º Domingo do Tempo Comum?
A rejeição do povo quando Jesus toca na ferida daquela sociedade que ainda não enxerga a proposta de vida que está no ensinamento do maior profeta Jesus e que nos fez refletir também pela vocação e missão de Jeremias e como coroação deste momento da palavra o hino do amor: porque o amor é paciente, não se envaidece, tudo suporta, tudo crê, tudo espera, não é vaidoso, não se deixa iludir e nem se enganar, e está acima de tudo porque é Deus e vem de Deus! Deus é amor!
“Deus fiel e paciente, bendito sejas pela mensagem de graça que saía da boca do teu Filho Jesus. Nós Te bendizemos pelos profetas que enviaste outrora aos pagãos, porque Tu queres a salvação e a felicidade de todos os homens.
Nós Te pedimos pelas nossas cidades, onde a mensagem do Evangelho provoca as mesmas oposições e rejeições que outrora em Nazaré. Que o teu Espírito sustente a nossa fé”. [2]
Peçamos ao Senhor Jesus Cristo, Palavra Viva do Pai, Verbo Encarnado, Palavra que nos revela Deus na nossa história para que sejamos fiéis e sempre atentos ao que sua Palavra nos diz, a fim de que sejamos anunciadores ao mundo desta Palavra que nos liberta, que nos livra de todas as prisões e nos dá discernimento na caminhada!
Louvado seja Jesus, a Palavra Eterna do Pai!
Louvado seja todo(a) aquele(a) que anuncia esta Santa palavra, por aqueles que a escreveram e aqueles que a leem!
Louvado seja Deus por sua Palavra que tudo criou! Amém!
[1] HomePage Dehonanios – Comentários à Liturgia do 4º domingo do tempo comum, Ano C: https://bit.ly/3u5tiCW
[2) Idem.