Solenidade de Pentecostes – Ano B – O Espírito Santo de Deus nos habita e capacita para a vida

Foto: Piqsels

Por: MpvM | 17 Mai 2024

"O Evangelho de João (Jo 20,19-23) nos situa: Diz que era o primeiro dia da semana e que já anoitecia. Conta que após a morte de Jesus os discípulos estavam amedrontados, não por causa dos romanos, mas por causa dos judeus. Aqui vale uma lembrança: Jesus morreu sob Pôncio Pilatos, governador romano, mas por vontade expressa daqueles judeus considerados justos e piedosos naquela época. Por isso, no lugar onde estavam os discípulos mantinham as portas fechadas, mas Jesus entra inesperadamente e coloca-se no meio deles. Colocar-se no meio significa fazer-se presente para cada um e para todos."

 A reflexão é de Maria Inês de Castro Millen, graduada em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1971) e em Teologia pela PUC-Rio (1992), mestre em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1997) e possui doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2003). Atualmente é professora titular no curso de Teologia do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora e atua principalmente nos seguintes temas: moral fundamental, moral social, moral sexual conjugal e familiar, bioética e antropologia teológica.

 

Leituras do Dia

1ª Leitura - At 2,1-11
Salmo - Sl 103, 1ab.24ac.29bc-30 31.34 (R.30)
2ª Leitura - 1Cor 12,3b-7.12-13
Evangelho - Jo 20,19-23

Eis a reflexão

Neste dia em que celebramos o Espírito Santo de Deus, aquele que nos habita e nos capacita para a vida, mesmo nos momentos difíceis como os atuais, de tantas dores e incertezas, de tanta solidão, que se instaura por causa da insensibilidade de tantas pessoas, momentos de tanto pranto, mas também de muita esperança que se transforma em ações de solidariedade e amor partilhado, gostaria de começar essa reflexão, rezando com vocês, em modo de meditação, a sequência proposta para a celebração de hoje:

Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz!
Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons.

Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!
No labor, descanso, na aflição remanso, no calor aragem.

Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós!
Sem a luz que acode, nada o ser humano pode, nenhum bem há nele.

Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente.
Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.

Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, os vossos sete dons.
Dai em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna. Amém.

Fortalecidas, então, por essa ruah, por essa luz, por essa chama, por essa aragem que nos alenta, vamos pensar no que significa celebrarmos o dia de Pentecostes.

Temos dois relatos que nos falam, cada um a seu modo, do mesmo fato. O Evangelho de João (Jo 20,19-23) nos situa: Diz que era o primeiro dia da semana e que já anoitecia. Conta que após a morte de Jesus os discípulos estavam amedrontados, não por causa dos romanos, mas por causa dos judeus. Aqui vale uma lembrança: Jesus morreu sob Pôncio Pilatos, governador romano, mas por vontade expressa daqueles judeus considerados justos e piedosos naquela época. Por isso, no lugar onde estavam os discípulos mantinham as portas fechadas, mas Jesus entra inesperadamente e coloca-se no meio deles. Colocar-se no meio significa fazer-se presente para cada um e para todos.

E diz: “A paz esteja convosco”. Ao reconhece-lo, os discípulos se alegraram e Jesus voltou a repetir: “A paz esteja convosco”. Só depois de devolver-lhes a paz e a tranquilidade, Jesus os envia, os coloca na dinâmica da saída, do êxodo de si mesmos. Fortalecidos pelo dom da paz eles acolhem a força contagiante do Espírito que lhes é dado. Jesus não apenas fala da oferta do Espírito, mas faz o gesto significativo, sopra sobre eles, para lhes lembrar que o Espírito é Vento que sopra onde quer, Vento que não pode ser domesticado, guardado, Vento que os impele para o novo que se avizinha e os capacita a muitas coisas, inclusive a perdoar pecados.

O livro dos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11)  também nos fala dos discípulos reunidos, no dia de Pentecostes, que significa cinquenta dias após a páscoa de Jesus. Estes, ainda fechados, atordoados, inseguros, são visitados pelo Espírito de Deus. Escutam um barulho como uma forte ventania que enche a casa. O Espírito é apresentado novamente como o Vento de Deus que se faz presente no ambiente em que estavam e no interior de cada um que ali se encontrava e eles ficaram também fortalecidos, entusiasmados. O simbolismo do Vento e das línguas de fogo que aparecem sobre cada pessoa é inspirador. Vento que sopra onde quer e fogo que faz arder os corações e iluminar o caminho. Assim, o Espirito os inspirava e os impelia a irem realizar o necessário para que os que ali estavam pudessem experimentar a presença, a força e as maravilhas que Deus pode realizar na vida de cada um e de todos e todas.

É por isso que Paulo fala na sua primeira carta aos coríntios (1Cor 12,3b-7.12-13) que ninguém pode dizer quem de fato é Jesus a não ser no Espírito Santo. Nossa vulnerabilidade de criaturas precisa do Espírito para que possamos reconhecer que Jesus é o Senhor, mas também para reconhecer o Senhor nos irmãos pequenos e necessitados. Para isso o Espírito nos concede dons diversos, pois as pessoas são diferentes nas suas necessidades e nenhuma necessidade deve ficar sem ser atendida. Importante o que Paulo nos recorda: A manifestação do Espírito acontece em vista do bem comum e não em vista do privilégio de algumas pessoas ou instituições. Não são os discípulos que, como iluminados, privilegiadamente falam línguas diferentes, mas são as pessoas que podem escutá-los em sua própria língua.

 

O texto de Paulo nos chama, então, a compreender que o Espírito é dom concedido a todas as pessoas, a toda a humanidade que assim se torna um único corpo que deve ter suas diferenças reconhecidas e suas necessidades contempladas para que a dignidade que lhes é própria lhes seja garantida. Por isso hoje pedimos que o Espírito que é enviado a todas as pessoas nos ampare com sua presença em um momento tão difícil, polarizado, dominado por guerras particulares e universais de uns contra os outros.

Que Ele nos una na riqueza das nossas diferenças para que elas não sejam motivo de discórdias e divisões. Que Ele nos inspire profundos sentimentos de reconciliação, afeto e delicadeza para que a face da terra seja renovada, como reza o Salmo 103, e assim o Reino de Deus possa ser experimentado entre nós. Amém!

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