Por: Jonas | 08 Dezembro 2012
Durante três dias, 150 inovadores tecnológicos de todo o mundo se encontraram em Phoenix para conversar sobre a construção do futuro dos meios de comunicação. A respeito de como lidar com grandes volumes de dados e reinventar o jornalismo. Além do problema da bolha do Google.
E reportagem é de Mariano Blejman, publicada no jornal Página/12, 06-12-2012. A tradução é do Cepat.
“Quando se escreve para os meios de comunicação sociais, sua primeira audiência não são seus leitores, mas os contatos de seus leitores”, disse Sara Critchfield, do Upworthy, numa das falas da News Foo, que acontece em Phoenix. Tim O’Reilly twitta a frase e logo tem mais de 150 retweets: um pequeno e poderoso conceito acaba de dar a volta ao mundo de maneira exponencial. Com essa velocidade ocorrem as coisas em News Foo, um formato de não-conferência que acontece apenas por convite e reúne cerca de 150 participantes e pensadores do mundo da tecnologia, do jornalismo e das políticas públicas, que estão ‘reimaginando’ o futuro dos meios de comunicação.
O evento é organizado por Tim O’Reilly, da O’Reilly Media; Richard Gringas, do Google, e John Bracken, da Fundação Knight. Três mundos diferentes, que apostam nas criações de redes globais de inovação. A lista de assistentes não poderia ser mais suculenta: o avanço do jornalismo de dados, com Brian Boyer, do projeto Panda; Ted Han, do Document Cloud; Alastair Dant (que acaba de se transferir do jornal The Guardian para o The New York Times), Joe Germuska (responsável do Knight Media Lab, no MIT), junto com Brian Fitzpatrick, do Data Liberation Front e engenheiro de Transparência do Google; Olivia Ma, gerente do Youtube, ou o mesmíssimo Tim O’Reilly, dono de um emergente grupo mediático e da venda de livros pela Internet, junto a um punhado de empreendedores financiados pela Fundação Knight, como Zeega. “Aqui, ninguém mais está se perguntando sobre o futuro dos meios de comunicação. Todos estão mais preocupados com a geração de valor”, disse O’Reilly, ao final do evento.
O formato é bastante diferente, nesta época de hiperatividade. Sem laptops, nem computadores, com um lápis e um papel, sem apresentações em PowerPoint, nem slides, as conversas de uma hora se concentram sobre os temas do futuro, no luxuoso edifício Walter Conkrit Schoool of Jornalism, do Estado de Arizona. A programação? Não há programação. Os participantes propõem temas num quadro e discutem como se estivessem num bar. As conversas duram uma hora e, em seguida, retorna-se para o quadro.
São curiosos alguns conceitos raros para o mundo do jornalismo, um deles é o de twittar de maneira amigável e respeitar o “off the record” [privacidade] quando explicitamente solicitado. Já não se fala apenas de jornalismo na News Foo, embora essa nunca tenha sido a ideia. Richard Gingras, chefe de notícias e produtos sociais do Google, e Krishna Bharat, fundador do Google News, redobram a aposta sobre um dos assuntos mais discutidos ultimamente pelo jornalismo digital: a famosa bolha do Google, a ideia de que nossas necessidades, os resultados do que vamos conhecer, está diretamente relacionado com o que já buscamos anteriormente, com nossos desejos e necessidades prévias, criando um mundo que queremos ver e não o que “deveríamos” ver.
Gringas e Bahrat pedem para não ser citados, e propõem como contra-argumento que os filtros culturais, políticos e sociais sempre existiram. Graças ao Google as pessoas possuem muito mais acessos. A conversa é longa e talvez a mais tensa do encontro. Alguns participantes questionam-se até que ponto o Google vive em sua própria bolha. Os engenheiros trabalham em dois níveis, o filtro explícito – eleito pelo usuário – e o implícito, que vai tomando decisões sobre a base de informação prévia.
Enquanto o mundo se debate pela queda da indústria editorial, na News Foo se discute a geração de valor de um modo pragmático: a web semântica, capaz de interpretar textos, a análise de dados em grande escala, conceitos para o manejo de grandes volumes de dados (big data), visualizações, privacidade em áreas de conflito, como resolver problemas inéditos, verificação de fontes on-line. Talvez, a diferença maior é que os que participam e fazem os colóquios estão a cargo das grandes redações, corporações, fundos e – em alguns casos – governos do mundo. Joe Germushka, por exemplo, novo diretor do laboratório de meios do Mit, o Knight Media Lab, propõe uma agenda aberta para discutir os grandes temas a serem resolvidos no cruzamento entre jornalismo e tecnologia. Germushka propõe inspiração a partir do público e garante que trabalhará nestes assuntos durante o ano.
Uma demonstração daquilo que está ocorrendo no Conkrit é Joshua Schachter, criador de Delicious, GeoURL e co-criador do Memepool, que deixou de trabalhar no JP Morgan para vender Delicious ao Yahoo! Por uma soma estimada em 30 milhões de dólares. Schachter foi nomeado pela MIT Technology Review como uma das 35 melhores inovações com menos de 35 anos, contando com seu novo empreendimento, chamado Humain.io, uma plataforma para distribuir rapidamente informação entre os seguidores do Twitter, uma forma de fazer crowdsourcing. Nos assentos, todos escutam atentamente o que está acontecendo, diante da iminência de que algo novo está para ocorrer. “O problema é captar a atenção dos usuários, depois tudo é mais fácil”, disse.
Outro eixo do debate paira sobre os novos riscos do jornalismo digital, com a coordenação de Danny O’Brien, do CPJ, um comitê para proteger jornalistas, com sigla inglesa. Trata-se de considerar que o importante não é apenas que os jornalistas aprendam a usar programas de segurança, mas também a entender de maneira inversa como funcionam os sistemas digitais. “O importante é entender aqueles que o atacam ou podem atacar, o que posso fazer para me defender e o que querem de mim”, conta O’Brien, numa conversa que inclui como patrocinador Dan Gillmor, que, além de blogueiro e jornalista, é investidor em meios de comunicação e fundador de vários jornais online. Gillmor conta sua experiência na China, onde afirma que ia tomar banho com o computador, e O’Brien lembra que na fronteira israelense verificam os amigos nas redes sociais quando se vai entrar no país. “Googlea-te a ti mesmo” parece ser a máxima.
E por fim, Harper Reed dá uma aula magistral, também em “off the record” [privadamente], sobre seu trabalho como chefe tecnológico da campanha de Barack Obama. “Obama pela América”. Harper fala, detalhadamente, para um público ansioso em perguntar sobre a maneira como se filtrou, analisou e estruturou a informação e o acesso aos eleitores, que permitiu Obama vencer uma nova eleição. No encerramento da conversa, quando lhe perguntaram sobre que recomendação daria aos jornalistas, respondeu: “Estudem matemática!” O mesmo foi perguntado a todos os participantes quando se credenciavam. A resposta foi quase unânime: “Aprendam a programar software”.
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"Googlea-te a ti mesmo" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU