05 Dezembro 2012
A ONU alertou ontem para o aumento dos casos de estupro dentro de campos de refugiados na República Democrática do Congo (RDC), ex-Zaire. As regiões onde vítimas da violência - sobretudo mulheres e crianças - têm buscado abrigo entraram de vez na mira de grupos guerrilheiros, segundo as Nações Unidas.
"Estamos preocupados com a segurança dos deslocados e dos funcionários humanitários nos campos do oeste da RDC", afirmou o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Adrian Edwards.
A informação é publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 05-12-2012.
No domingo, o campo de refugiados de Mugunga III, perto da cidade de Goma, na região conflagrada do Kivu do Norte, foi alvo de um violento ataque. Homens armados, ao entrarem no local, roubaram dinheiro e alimentos. Segundo funcionários do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), os guerrilheiros estupraram 12 mulheres - incluindo 3 meninas.
Nas últimas semanas, o hospital da cidade de Minova, nos arredores de Goma, registrou outros 72 casos de estupro. Funcionários humanitários, porém, estimam que o número total de ataques seja muito maior, pois a maioria das vítimas não presta queixa, tampouco busca atendimento.
"A proliferação dessas agressões expõe a necessidade de se estabelecer a segurança para os deslocados", afirmou Edwards. Segundo ele, no momento do ataque ao campo de Mugunga III, "os poucos policiais presentes não puderam fazer absolutamente nada".
Pelo menos 30 mil pessoas vivem atualmente nesse campo de refugiados. Outras 75 mil estão em abrigos temporários ao redor de Mugunga III, sob responsabilidade dos coordenadores humanitários do campo.
Além da falta de abrigo e de segurança, a população que fugiu da violência sofre, cada vez mais, com a escassez de alimentos e assistência médica.
As províncias do Kivu do Sul e do Norte são palco de uma violenta batalha entre forças regulares e os rebeldes do movimento conhecido como M23. A facção é formada por militares congoleses amotinados e seria liderada pelo rebelde Bosco Ntaganda, contra quem pesa um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra e contra a humanidade.
Os rebeldes lançaram uma ofensiva em abril em resposta à perda de poder de Ntanganda. Eles exigem renegociar os acordos de paz firmados em 23 de março de 2003, que previam sua incorporação ao Exército regular - e dão nome à sigla do grupo. A RDC ainda está arrasada pela guerra civil, que devastou o país de 1998 a 2003 e deixou mais de 3 milhões de mortos.
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ONU alerta para 'epidemia de estupros' no Congo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU