25 Janeiro 2012
O Fórum Social Mundial Temático 2012 começou ontem, em Porto Alegre, com protestos de movimentos sociais contra o novo Código Florestal brasileiro e contra o capitalismo. A abertura do evento foi feita pelo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, que defendeu mudanças na forma de produção agrícola para reduzir o desmatamento e fez um apelo para que o Brasil assuma responsabilidade internacional no combate à fome.
A repiortagem é de Cristiane Agostine e publicada pelo jornal Valor, 25-01-2012.
Pela manhã, na primeira atividade do fórum social, o diretor-geral da FAO disse que a economia brasileira avançou muito nos últimos anos e que o país precisa "retribuir ao mundo" com cooperação técnica. Graziano propôs a criação de uma Embrapa internacional e defendeu que o país exporte tecnologia para outras nações. "O Brasil precisa criar uma institucionalidade. Precisamos ter uma agência brasileira de cooperação que seja efetivamente uma agência. Precisamos ter uma Embrapa internacional que seja efetivamente uma agência de cooperação técnica, apoiando os países que precisam'', afirmou.
Graziano disse que já negociou com o presidente da Embrapa para criar uma sub-sede da estatal em Roma, dentro da FAO, "para facilitar esse processo de assistência técnica aos países que fizerem demandas por assistência técnica".
Ex-ministro do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Graziano foi um dos principais responsáveis pelo Fome Zero e articulou os programas de segurança alimentar nas duas gestões de Lula. No início deste mês, assumiu a direção da FAO.
Em sua primeira palestra no Brasil depois de assumir o cargo, Graziano disse que 90% da produção adicional necessária para alimentar a população mundial até 2050 podem ser resolvidos por meio de ganho de produtividade, com investimentos tecnológicos, reduzindo o impacto ambiental. Na estimativa da ONU, será preciso aumentar a produção em 70% para alimentar os 9 bilhões de habitantes que o planeta terá em 2050.
Durante a palestra de Graziano, na sede do governo gaúcho, o ex-ativista italiano Cesare Battisti passeava entre os participantes. Battisti lançará amanhã o livro "Ao Pé do Muro" e disse que está como imigrante no país, mora no Rio de Janeiro e trabalha escrevendo resenhas para a Editora Martins Fontes, que edita o livro que lançará no fórum.
O ex-ativista italiano procurou o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, que, como ministro da Justiça na gestão Lula, concedeu status de refugiado político a Battisti, impedindo a extradição dele à Itália. "Ele veio me agradecer, mas disse que só cumpri a Constituição. Ele tinha esse direito", comentou Tarso. Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália acusado de praticar quatro assassinatos, na década de 1970, quando integrava grupo de esquerda.
À tarde, na marcha de abertura do fórum, militantes manifestaram-se sobre a Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental, tema desta edição do evento. Em caminhada no centro de Porto Alegre, as seis centrais sindicais brasileiras dominaram as manifestações, com carros de som, bandeiras e manifestantes. Integrantes da CUT e da CTB tiveram um desentendimento para ver qual central estaria na frente da marcha, com a faixa do fórum. Um pequeno tumulto logo foi apartado por militantes. "Houve uma disputa pela paternidade da faixa", disse Nivaldo Santana (PCdoB), vice-presidente nacional da CTB. "A CTB tem que aprender a ser colaborativa", retrucou Claudir Nespolo, secretário de organização da CUT do Rio Grande do Sul.
Na marcha de abertura, as críticas ao novo Código Florestal, em tramitação no Congresso, tiveram destaque e integrantes da ONG SOS Mata Atlântica carregaram caixões representando a morte das florestas e associaram as mudanças na legislação ambiental aos interesses de ruralistas.
Diversas faixas registravam protesto contra a ação da Polícia Militar de São Paulo na fazenda conhecida como Pinheirinho, em São José dos Campos, para despejar moradores em uma ação de reintegração de posse.
Com 5 mil pessoas inscritas, o fórum social deste ano tem uma estrutura menor do que edições anteriores, que chegaram a reunir 150 mil pessoas. A expectativa é que até 40 mil pessoas passem pelas 900 atividades do fórum, que termina no domingo.
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Protestos marcam início do Fórum Social - Instituto Humanitas Unisinos - IHU