Por: Jonas | 19 Junho 2013
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, (na foto, à esquerda do Papa) teve uma agenda intensa na Itália e no Vaticano, durante sua primeira visita a Europa. Em dois dias de encontros, do mais alto nível, falou-se da situação de seu país e da região, das relações com a Igreja e a comunidade italiana na Venezuela, de suas intenções em aprofundar a cooperação agroindustrial e petroleira com a península. Além disso, junto com outros nove países latino-americanos, recebeu um conceituado prêmio da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) porque a Venezuela, antes de 2015, data estabelecida como Meta do Milênio pelas Nações Unidas, diminuiu a fome pela metade.
Fonte: http://goo.gl/IfdTI |
A reportagem é de Elena Llorente, publicada no jornal Página/12, 18-06-2013. A tradução é do Cepat.
Contudo, o encontro mais importante talvez tenha sido o que teve com o papa Francisco, que o recebeu em audiência particular, na segunda-feira pela manhã, no Vaticano. Faziam parte da delegação que o acompanhava, entre outros, sua esposa, Cilia Flores, e o ministro de Relações Exteriores, Elías Jaua – que fazia um giro por alguns países europeus -. Depois de ter saudado o grupo na Sala do Tronetto, do Palácio Apostólico, o papa Francisco e o presidente Maduro passaram à Biblioteca, onde normalmente os pontífices realizam as audiências particulares. O presidente venezuelano e o pontífice ficaram reunidos cerca de 20 minutos, num clima de “grande cordialidade”. Segundo o comunicado oficial do Vaticano, que não entrou em detalhes sobre o que exatamente conversaram, eles tocaram em vários temas. Entre os pontos abordados, conversaram sobre a situação social do país, após a morte de Hugo Chávez, a luta contra a pobreza e contra a criminalidade e o narcotráfico, além da situação política regional, em especial sobre o processo de paz na Colômbia. No entanto, também conversaram sobre as relações entre a Igreja e o Estado na Venezuela e o Papa insistiu na necessidade de um diálogo sincero e constante, entre a Conferência Episcopal e o Estado venezuelano, “para o desenvolvimento de toda a nação”, informou o comunicado.
Quando se tratou do papa Francisco, a oposição venezuelana não perdeu tempo. De acordo com uma agência da imprensa italiana, um pouco antes, a oposição havia enviado uma carta, ao Pontífice, explicando sua posição. Ao mesmo tempo, ontem, apareceu num dos jornais mais importantes da Itália, “La Repubblica” de Roma, um aviso pago pela opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), que reproduz a exortação feita pelo Pontífice por ocasião das eleições venezuelanas e das revoltas de rua, em abril passado. O Pontífice havia manifestado sua preocupação e solicitado, ao povo e às autoridades, que rejeitassem a violência e estabelecessem o diálogo. “Obrigado, Santidade, pelo seu interesse na Venezuela. Esta mensagem continua sendo atual”, escreveram no aviso integrantes do MUD.
Após o encontro bilateral, trocaram presentes. Um retrato de Simón Bolívar e uma imagem da Virgem de Coromoto para o Papa, além de uma pequena imagem do médico José Gregorio Hernández, muito venerado na Venezuela. “Esperamos sua canonização porque é um santo do povo”, disse Maduro. De sua parte, como tem feito ultimamente com os expoentes da América Latina, Francisco deu-lhe o documento do episcopado latino-americano, elaborado em Aparecida, Brasil, em 2007, e que passou a ser um símbolo para a Igreja da região. “É uma honra. Estou muito feliz em conhecê-lo, obrigado por tudo o que está fazendo. Estou muito impressionado”, foram as primeiras palavras de Maduro ao papa Francisco.
No período da tarde de ontem, Maduro foi recebido pelo presidente da Itália, Giorgio Napolitano, em um encontro que não passou disso, tratando-se de uma visita de cortesia pelo fato de estar em território italiano. Todavia, de sua parte, o ministro Jaua não perdeu a oportunidade de se encontrar com sua colega Emma Bonino, com quem debateu sobre vários assuntos de mútuo interesse, como o aprofundamento da cooperação em nível industrial, em especial agroindustrial, já que a Venezuela, como disse Maduro na FAO, está tentando relançar sua agricultura.
Ao receber o prêmio conferido pela FAO, junto com outros 37 países do mundo todo, Maduro pediu a assistência técnica da organização internacional para relançar sua agricultura, que tinha sido abandonada por aqueles que pensam apenas no petróleo, comentou.
Contudo, o tema do petróleo, de qualquer forma, não foi descuidado pela agenda de Maduro, uma vez que sabem que os Estados Unidos, um de seus principais compradores, cada vez compram menos deles e que a Venezuela entendeu a importância de diversificar seus clientes. “A cooperação energética entre a Itália e Venezuela é muito importante para o futuro dos dois países. A aliança entre Pdvsa e a italiana ENI nos dará estabilidade energética para os próximos cem anos”, disse o presidente, que explicou que estava em Roma também para “consolidar esta aliança com a Itália”. Dentro deste contexto, ele e o ministro do Petróleo, Rafael Ramírez, encontraram-se, ontem, com Paolo Scaroni, o máximo expoente da ENI – o ente petroleiro italiano -, para fazer um balanço da cooperação neste sentido, em especial a respeito da reserva de gás de Perla, um dos maiores do mundo, e a de petróleo de Junín.
Nesta passagem de um presidente venezuelano por Roma, não poderia faltar a visita ao Monte Sacro, o lugar onde Simón Bolívar, em 1805, jurou libertar a Venezuela do domínio espanhol. “Esta colina é sagrada. Aqui, existe o cheiro dos dois grandes, Bolívar e Chávez”, disse Maduro, ao render homenagem ao busto do herói da independência.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O Papa, Maduro e o petróleo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU